O supervisor técnico Omo Afefe Marques da Silva, 24 anos, passou por vários processos até se entender como um homem trans, e fazer a transição de gênero.
Mas a família do supervisor não o acolheu e ele acabou expulso de casa, morando em Casas Abrigos de São Paulo. Hoje ele é casado com uma mulher trans e tem um filho.
“Até hoje minha família não compreende a minha condição como homem trans. Hoje eu construí a minha família, sou casado com uma travesti e tenho um filho de 5 anos que eu gestei e foi muito importante na minha construção enquanto homem trans”, avaliou.
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Casa Abrigo LGBT de Araraquara vai abrigar até 12 pessoas
Nesta quinta feira (30), foi inaugurada a Casa Abrigo LGBTQIA+ “Ricardo Corrêa Silva”, no centro da cidade. Um dia histórico e de conquista para a comunidade LGBTQIA+ de Araraquara.
A Casa de Abrigo acolherá pessoas LBGTs expulsas de casa e em vulnerabilidade social, como foi o caso de Omo.
Omo é casado com a travesti Matusa Sakofa, uma das responsáveis pela emblemática Casa Chama em São Paulo, espaço que atende LGBTs em vulnerabilidade social e oferece de cestas básicas a auxílio jurídico.
Em Araraquara, o casal vai ajudar a coordenar a Casa Abrigo com outras mulheres e homens trans da cidade.
“A inauguração da Casa Abrigo é um momento extremamente importante, de acolhimento, eu já passei por uma dessas casas abrigos em São Paulo e hoje venho para trabalhar na Casa Abrigo. E vejo o quão potente são esses espaços, e como muda a realidade das pessoas LGBTS”, enfatizou.
ACOLHIMENTO
Em torno de 12 pessoas serão atendidas no espaço. Para ser abrigada, a pessoa deve passar por uma avaliação no Centro de Referência e Resistência LGBTQIA+ e assistência social do município.
A obra foi eleita através do Orçamento Participativo deliberativo de Araraquara em 2019, e é a primeira Casa Abrigo voltada para a comunidade queer no interior do estado de São Paulo.
Projeto de Lei 107/2002 da vereadora trans Filipa Brunelli, que enfatizou que no Brasil existem em torno de 10 casas de acolhimento implementada pelo poder público.
“Hoje é um dia feliz e também triste, porque ainda precisamos de casas abrigos para a comunidade LGBT, e isso não é um privilégio. Mas é uma emoção imensa termos uma casa abrigo em Araraquara, uma resposta a problemática social do abandono decorrente da LGBTfobia”, avaliou.
HOMENAGEM PÓSTUMA
O nome de Ricardo Corrêa da Silva, chamado pejorativamente como “Fofão da rua Augusta”, foi escolhido para resgatar a sua história e homenagear a trajetória do araraquarense, que foi trágica e exemplifica toda vulnerabilidade social enfrentada por parte da comunidade LGBTQIA+.
Gay e drag queen, Ricardo foi um dos primeiros ativistas LGBT de Araraquara, na década de 70. Ele foi expulso da cidade junto a outros gays, lésbicas e travestis por LGBTfobia.
Cabeleireiro e maquiador reconhecido, foi para São Paulo, sofreu muito preconceito e foi marginalizado, vindo a parar nas ruas no final de sua vida. Em 2017, ele faleceu no Hospital das Clínicas de São Paulo.
Um livro sobre a sua vida “Ricardo e Vânia” foi lançado pelo escritor Chico Felitti em 2019. O ator Paulo Gustavo, morto por covid-19 em 2021, interpretaria a vida de Ricardo nas telas de cinema.
“Fiquei comovido com a homenagem, e a sensação é de que a luta LGBT vale a pena, É tão importante essa questão inclusão e acolhimento, é a realização de um sonho. Essa população é muita invisibilidade até pelo artigo número 1 da Constituição, que é ter o direito a vida”, comentou Marcelo Corrêa, irmão de Ricardo.
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