O patrimônio artístico e arquitetônico é a essência do turismo em cemitério, que atrai também a busca por personalidades que, mesmo depois de mortas, continuam sendo reverenciadas.
A Secretaria Municipal da Cultura, por meio da Coordenadoria de Acervos e Patrimônio Histórico, disponibiliza digitalmente dentro do projeto “Roteiros do Patrimônio AQA” – um inventário de bens relevantes em forma de roteiro de visitação ao Cemitério São Bento, localizado no Centro de Araraquara.
As sepulturas de diversas personalidades levam a um passeio pela história da cidade, podendo ser observadas reflexões de caráter cultural, econômico e sociológico.
O material digital disponível pela plataforma Google apresenta: fotos, localização e um histórico sobre a sepultura e/ou os finados.
O coordenador de Acervos e Patrimônio Histórico, Weber Fonseca, explica que “considerando a importância da presença de um Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio que esteve atento a este levantamento de sepulturas relevantes e consequentemente tombamento, incluímos todo este mapeamento no Inventário Participativo.
Desta forma, foi possível evidenciar um roteiro para quem se interessa pelo assunto. Seja pela importância destes imóveis como patrimônio histórico, seja por curiosidade ou passeio turístico e cultural.”
O Cemitério São Bento, de acordo com o material divulgado, é um cemitério oitocentista, inaugurado por volta de 1880, e que requer a preservação das sepulturas que identificam e testemunham sua origem e história.
O COMPPHARA (Conselho ligado ao Patrimônio Histórico) tombou 11 sepulturas a partir de um diagnóstico feito pelo arquiteto Benedito Tadeu de Oliveira. Os critérios utilizados são os valores histórico, artístico, arquitetônico e afetivo.
Neste mês foi concluída a restauração de mais duas sepulturas tombadas do Cemitério São Bento: as de Antônio Placco e Maria Arruda Ramalho. Em 2019 também foram restauradas as de Antônio Joaquim de Carvalho e Paulo de Cruz. Em 2022, serão as de Maria Aparecida e João Gonçalves dos Santos.
O ROTEIRO
O Cemitério São Bento registra sepultamentos desde 1873, sendo um rico patrimônio tumular de 11 mil sepulturas, onde se destacam túmulos devido à estética, à personalidade histórica ou mesmo por seu valor intangível.
Também podem ser observadas as diferenças sociais entre pessoas, já que “as de maior poder aquisitivo foram sepultadas no alinhamento das avenidas e ruas ou no entorno da capela, ou seja a sociedade araraquarense de certa forma projetou no cemitério suas estruturas socioeconômicas”.
O roteiro aponta que o neogótico, o ecletismo, o art nouveau e o art déco que se propagaram em diversas edificações de Araraquara a partir do final do século XIX e, durante a primeira metade do século XX, estão também presentes em diversas sepulturas do Cemitério São Bento. As sepulturas possuem distintas tipologias, linguagens arquitetônicas, detalhes construtivos, aspectos culturais e religiosos como uma representação de seu povo.
O material lembra que há uma “relação estreita entre a arquitetura e o urbanismo da cidade com aquelas adotadas no Cemitério de São Bento”. O cemitério foi concebido com um traçado ortogonal, de acordo com o traçado urbano que deu origem a Araraquara. Além disso, foram utilizados pisos de pedras portuguesas, pedras de arenito rosa e ampla arborização para o embelezamento, tanto da cidade como do cemitério.
O roteiro aponta a visita a “pessoas ilustres”: maestro José Tescari, diretor teatral Luís Antonio Martinez Corrêa e o diretor e ator Wallace Leal Valentin Rodrigues.
Vale destacar os três túmulos sugeridos pela tipologia “exótica”: o “jazigo suspenso”, do dentista Ary Kerner Lustoza da Silva que não queria ser sepultado na terra (1962); a sepultura do engenheiro Edmundo Busch Varella, um dos responsáveis pela construção da Estrada de Ferro em Araraquara (o jazigo remete à arquitetura ferroviária); e do empresário Edmundo Domingos Lupo – um apaixonado por aviação e teve seu desejo de ser sepultado com a asa de seu avião sobre a lápide atendido pela família.
Destaque também para as sepulturas do “patrimônio imaterial”, no roteiro presente com seis túmulos. De acordo com Weber, entende-se aqui as sepulturas que “foram escolhidas espontaneamente pela população, que visitam ou mesmo devotam os entes ali sepultados. Esta qualidade de reconhecimento da memória é fundamental para entendermos o patrimônio imaterial ou sensível.”
Para conhecer o roteiro completo, com todos as sepulturas tombadas e sugeridas, acesse:
https://www.google.com/maps/d/u/0/viewer?mid=1zzNcadx7nWtdkEKwNqIehHgZ7tCpXuLa&ll=-21.7943792%2C-48.1840832&z=18&fbclid=IwAR0tWbQBjsZyj0NmP_cWROFgt3qXvU8LQSXUUeBWF9ZSKRBxOGRVRafM9To .