Em uma sexta-feira como hoje, o clima já seria de muita folia, com música alta, bloquinhos e abadás.
“A gente festejava duas semanas antes de começar o carnaval, se deixar. Em abril do não passado, a gente pensava que até o carnaval iriamos poder sair, mas quando chegou novembro e dezembro, entendemos que não teria festa e que teríamos que esperar mais um pouco”, explica a publicitária Fernanda Campos.
Em meio a segunda onda da covid-19, no Brasil, não dá nem pra pensar em aglomeração. E carnaval sem aglomeração, definitivamente, não existe.
Mas adiar um evento como esse, considerado a maior festa popular brasileira, é prejuízo na certa, principalmente para quem depende desta data.
Em uma loja de artigos de festa, que fica no centro da cidade, o prejuízo supera os 90%. Segundo a gerente Renata Abi Rached Torres, ela tem investido nas redes sociais para tentar reduzir as perdas e apostado nas pequenas reuniões familiares.
“Como fazemos compras antecipadas e tinha a previsão da volta as aulas presenciais, imaginamos que teríamos uma possibilidade de vendas, mesmo que pequena. Nós então buscamos a estratégia do online, estamos tentando reduzir os impactos dessa queda nos movimentos. De nove funcionários e quatro estagiários, nós reduzimos para quatro funcionários, fomos usando os recursos do governo até o final e agora estamos gastando o capital de giro que a gente tinha”, afirma.
Mas nem só de fantasia vive o folião. Ainda tem o confete, a serpentina, a espuma e a tinta pra cabelo. A lista é grande.
Em uma loja de variedades que fica no jardim paulistano, os únicos produtos disponíveis são os que sobraram do ano passado.
O gerente Willian de Meirelles explica que as datas comemorativas representam entre 15 e 20% do faturamento, ou seja, dinheiro que deixou de entrar por conta da pandemia.
“Essas datas comemorativas não estamos investindo, pois a maioria das vezes você não encontra o produto e não tem nexo vender produtos que irão gerar aglomeração neste momento. Claro que temos material que sobrou do ano passado e vendemos para aqueles que procuram. Fora isso, nada mais”, ressalta.
Nos últimos anos, tem se tornado cada vez mais comum, em Araraquara, os blocos de rua, a matinê em barzinhos, e festas particulares.
Num bar que fica no centro da cidade, todo ano, a expectativa é superar o ano anterior, mas em 2021 vai ser diferente.
O proprietário do espaço, Adriano Daltrini, concorda com adiamento do carnaval. Para um setor tão afetado, quanto mais rápido diminuírem os casos de covid-19, melhor.
“A gente vai esperar todo mundo ser vacinado e vencer essa luta. A gente tem um carnaval familiar, um carnaval de rua, bastante tradicional, mas nesse ano vamos manter o distanciamento e ficar longe de aglomeração. Afinal, carnaval sem aglomeração, não é carnaval, então fica muito difícil”.
Ele lembra que para equilibrar as contas foi preciso reduzir o quadro de funcionários, com o corte de seis colaboradores. E se a cidade continuar na fase vermelha, no mínimo outros quatro serão desligados. Para tentar reverter, foi preciso se reinventar.
“A gente já tinha adaptado o drive-thru e o delivery para o nosso cardápio, para os nossos negócios. Agora, na fase vermelha, vamos aguardar mais duas semanas para ver como está para fazer almoços rápidos”.
Em Araraquara, foi cancelado o ponto facultativo de carnaval. Com a medida, o feriado está suspenso nas repartições e serviços públicos, nos dias 15 e 16 de fevereiro.
A decisão segue recomendação do governo do estado, e tem como objetivo evitar aglomerações num momento de aumento de casos de covid-19.
A jornalista Gabriela Camargo é amante do carnaval, mas sabe que este não é o melhor momento pra isso. “Normalmente eu viajo, curto os bloquinhos e é bem triste que não terá a festa esse ano. Mas prefiro, neste momento, ficar em casa agora e curtir outros carnavais do que ir para a rua e esse ser meu último carnaval”, finaliza.