Com uma garrafa pet, a dona de casa, Nanci Maria da Silva, começa a enxaguar a louça que está na pia da cozinha. Sem água encanada, é o que resta para a moradora do Parque São Paulo, em Araraquara.
Tem dia que não tem nem uma gota d’água, tem que esperar meu neto acordar para ir pegar. É um sacrifício”, conta.
Com uma carriola, o aposentado José Cícero, ao lado do neto, caminha até um campinho de futebol que fica na Avenida Francisco Martins Caldeira Filho, a aproximadamente 300 metros da casa em que mora, para buscar água. Uma viagem que muitas vezes se repete ao longo do dia.
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As garrafas ficam no chão, ao lado da pia da cozinha. A água é utilizada para limpar a louça e preparar a comida, tomar banho e lavar a roupa.
Esta foi a solução encontrada desde que o fornecimento foi cortado pelo Departamento Autônomo de Água e Esgotos (DAAE) em outubro de 2016. O motivo é uma dívida de R$ 37 mil que o senhor Cícero tem com a autarquia, mas que a família contesta.
A enteada, Elisa Dalva da Silva Lima, alega que no início dos anos 2000, as casas que ocupavam aquela região foram isentas do pagamento da água. E assim se manteve por nove anos sem que qualquer cobrança fosse feita.
“Se você passa três meses sem pagar uma conta de água, eles vêm e cortam logo, não vão deixar passar anos, anos e anos para vir cortar”, desabafa.
Segundo ela, com o passar dos anos, as famílias que moravam na mesma área se mudaram e todas as contas ficaram em nome do padrasto.
O DAAE, por outro lado, garante que não existe isenção na tarifa de água e esgotos, e que “o envio das contas e a cobrança pelo consumo sempre foram realizados”.
O valor devido, segundo a autarquia, refere-se ao período de outubro de 2005 a julho de 2014, e que a água não foi cortada “pois encontrava-se em negociação com o Departamento Jurídico” em processo de cobrança judicial.
Para religar a água, a autarquia teria proposto uma negociação inviável para o aposentado que sobrevive com apenas um salário mínimo: uma entrada de R$ 3 mil e parcelas de R$ 400.
Enquanto este impasse em busca de culpados continua, os filhos da Elisa são os mais prejudicados e chegaram a ficar sem ir à escola.
Às vezes, eles não iam para escola porque não tinha água para tomar banho, água para fazer comida, porque a roupa estava suja. Isto tudo a gente vem passando. É assim que a gente ta vivendo para lavar prato, roupa, fazer tudo. Ninguém vive desse jeito, ninguém é cachorro, ninguém é animal, não”, completa.
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Sobre o caso do senhor José Cícero Santos Silva, o Daae esclarece que não existe isenção na tarifa de água e esgotos para munícipes.
O usuário possui contas em aberto junto a autarquia, desde outubro de 2005, totalizando o valor de R$ 37.252,08.
Por um período de tempo, a água não foi cortada, pois encontrava-se em negociação com o Departamento Jurídico, mas o envio das contas e a cobrança pelo consumo sempre foram realizados.
As contas do período de outubro de 2005 a julho de 2014 estão em processo de cobrança judicial.
Em outubro de 2016, ocorreu a interrupção do fornecimento de água e desde então, não há fornecimento de água no imóvel.
Há 15 dias, o usuário procurou o Daae, onde foi atendido e orientado a apresentar toda a documentação solicitada, a fim de ser realizada uma proposta de negociação.
Mas, até o momento, o usuário não retornou ao Daae para dar andamento ao processo.
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