Ao menos dez famílias ciganas ergueram um pequeno acampamento, às margens da Avenida Presidente Vargas, no bairro Quitandinha, em Araraquara. Elas chegaram na última quinta-feira (24) e devem permanecer na cidade até a próxima semana, quando seguem viagem.
São aproximadamente 30 pessoas, que partiram de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, com destino a alguma cidade da Bahia, que ainda não foi escolhida. Até lá, eles param por alguns dias por municípios que ficam neste caminho.
O Juvenir Dias, de 39 anos, está no acampamento com a esposa e quatro filhos. Ele conta que Araraquara foi escolhida por ser bem estruturada, e que tem a expectativa de que o grupo faça boas vendas.
“A gente sobrevive da venda de toalhados, bordados”, explica. “Se as autoridades não se importarem, a gente fica até a próxima segunda-feira (28) ou alguns dias a mais”, completa.
O acampamento foi montado em um terreno ao lado do SESC. Em um posto de combustível próximo, eles têm encontrado água e banheiro. A alimentação é preparada em fogões pequenos dentro das próprias tendas.
“É uma cultura nossa, está na veia, é inexplicável”, conta Juvenir, que vive debaixo de barracas desde que nasceu.
Além da falta de condições mínimas de higiene e alimentação, ele afirma que a maior dificuldade é o preconceito. “É um estilo de vida que não é fácil, têm lugares que a gente chega que não nos vê como seres humanos, nos vê com preconceito”, diz.
Como a viagem é cara, com combustível e pedágio, as famílias contam com a solidariedade por onde passam. Elas pedem ajuda com alimentação, produtos de higiene pessoal e, até mesmo, com a venda dos produtos que confeccionam.
“Através das vendas, a gente percebe qual o lugar melhor. É disso que a gente precisa, não de alguém para apontar o dedo”, completa.
Juvenir diz que “você tem que nascer para se adaptar [ao estilo de vida]”, mas admite que já pensou em desistir. “É cansativo, chega a desanimar, tenho vontade de ter uma casa, colocar os filhos na escola”, completa.
Mas tudo isso, segundo ele, esbarra na falta de oportunidades. O cigano conta que tentou trabalhar com música, mas que não deu certo. “Nos dias de hoje, é impossível, é difícil financiar um terreno, manter uma casa”, finaliza.