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Cotidiano"Hoje vivo um dia de cada vez" diz Melissa

“Hoje vivo um dia de cada vez” diz Melissa

Mês que combate o suicídio traz a tona tema que ainda é tabu na sociedade e faz cada vez mais vítimas

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Suicídio saúde mental (Foto: Amanda Rocha)
Escuta e acolhimento são fortes aliados no combate ao suicídio (Foto Arquivo: Amanda Rocha)

Melissa*, de 25 anos, é uma sobrevivente. Os primeiros pensamentos contra a própria vida vieram quando ainda adolescente e também com o uso de drogas. 

 Tema tabu, o suicídio é a segunda causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos no mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).

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Uma triste realidade que foi agravada na pandemia da covid-19, principalmente entre essa faixa etária. Um estudo da Pfizer demonstrou que 34% dos jovens de 18 a 24 anos estão com a saúde mental pior nesta época pandêmica. 

Grave problema de saúde pública, a tragédia afeta famílias e a sociedade como um todo, e cada vez mais são necessárias ações de combate e prevenção. 

Tratamento psicológico, medicamentos, apoio da família e amigos foram o alicerce para Melissa. Hoje, ela vive um dia de cada vez. 

“Hoje vivo um dia de cada vez. Tem dias que não acordo tão bem nem tão disposta, mas todos os dias lido comigo. Não que não tenha pensado nunca mais, mas a minha relação com esse pensamento está em constante transformação” comentou Melissa. 

Depressão, questões sociais, financeiras, abuso de substâncias e transtornos mentais estão entre as causas que levam muitas pessoas a tirarem a própria vida. 

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SETEMBRO AMARELO
O “Setembro Amarelo” é um mês voltado ao combate ao suicídio onde ações são desenvolvidas no mundo para se discutir e prevenir o ato extremo contra a vida. 

O motivo do nome “Setembro Amarelo” se deve a um triste acontecimento nos Estados Unidos, quando em 1994 o jovem Mike Emme, de 17 anos, tirou a própria vida. 

O jovem tinha um Mustang 1968 amarelo e em seu velório, os familiares distribuíram fitas amarelas com frases de apoio para pessoas que pudessem estar passando por algum problema emocional.

Para Melissa, o “Setembro Amarelo” é importante porque traz visibilidade ao problema de saúde púbica que ainda é visto como tabu pela sociedade. 

Porém, ela frisou que falta aprofundamentos com mais diálogo e compreensão. 

“O Setembro Amarelo é sim interessante, porque traz o assunto que é um tabu para a população. Mas ainda possui discussões muito rasas, muitos de nós não estamos preparados para lidar com este tipo de ideia e comportamento. Precisamos ainda de muito diálogo, de novas formas de ser e estar em compreensão consigo e com o outro, é trabalhoso”, apontou. 

No Brasil, a data foi adotada em 2015 pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). 

Segundo a ABP em parceria CFM, mais de 13 mil suicídios são registrados no Brasil anualmente, e mais de um milhão no mundo. 

NÚMEROS EM ARARAQUARA
De acordo com dados da Delegacia Seccional de Polícia de Araraquara, até agosto deste ano houve 17 suicídios na cidade. Em 2020 no mesmo período foram registrados 10 casos, ou seja, um aumento de 70% comparando este período. 

Já as tentativas contra a própria vida apresentaram número parecido de janeiro a agosto nos dois anos de pandemia: 11 ocorrências em 2020 e 10 em 2021. 

Porém até o final de 2020 foram 17 tentativas e 20 atos consumados contra a vida, sendo dezembro o mês mais triste para Araraquara, com seis óbitos. 

“As tentativas de suicídio são estratégias de aliviar o sofrimento, a pessoa não quer morrer, precisa ser ouvida. Precisamos valorizar as pessoas quando falam sobre os sentimentos. O ato de falar já ajuda a lidar com a dor. A tristeza também faz parte do sentimento humano, precisamos ouvir mais o outro”, apontou a psicóloga Glaucia Dias Hardemae, gestora da unidade do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS II). 

A psicóloga faz parte da equipe multidisciplinar com atendimento de pacientes com transtornos mentais da rede pública de Araraquara e analisa o aumento de casos mundialmente. 

“O crescimento de casos é mundial, a vulnerabilidade social, somada a pandemia, estresse, isolamento social, crise financeira e falta de perspectiva levam muitas pessoas a atos extremos”, comentou. 

Em Araraquara há também atendimento pelo CAPS-AD (para pacientes em uso de substâncias psicoativas), o Centro de Referência Ambulatorial de Saúde Mental Adulto (CRASMA ) e o Espaço Crescer (para crianças e adolescentes). 

Segundo a Organização Pan Americana de Saúde (OPAS), 79% dos suicídios ocorreram em países de baixa e média renda em 2016. Ações, campanhas e intervenções são estratégias necessárias no dia a dia, seja em escolas, universidades, espaços públicos e redes de saúde. 

“Numa sociedade tão desigual, com tanta exploração, tantas normas, padrões e violências não se pode brincar de Deus e julgar quem pense sobre ou até mesmo faça. O acolhimento é sobre respeitar a dor, mesmo que você não entenda”, frisou Melissa. 

PERFIS
A psicóloga Glaucia comentou que há uma diferença entre os atos praticados por homens e mulheres. E alguns casos que atende estão relacionados ao uso de drogas, crise de abstinência e recaídas. 

“Homens acabam sendo mais agressivos e usam armas de fogo, já mulheres não, há mais tentativas de suicídio entre elas, através de medicação. Muito difícil algum caso com arma de fogo entre mulheres”, apontou. 

Crianças e adolescentes de até 18 são atendidos no Espaço Crescer. “Com tristeza vemos mais casos de automutilação entre crianças de 10 e 12 anos e nos jovens”, disse. 

ESCUTAR E ACOLHER
A psicóloga acompanha de perto pessoas com risco de morte com a sua equipe de psiquiatras, assistente social, psicólogos, enfermeiros, entre outros profissionais. 

A porta de entrada para o atendimento em saúde mental é pelo Sistema Único de Saúde (SUS) feito pelas Unidades Básicas de Saúde, que define qual o melhor encaminhamento para o paciente. 

Segundo a gestora do CAPS II, o simples fato de escutar e acolher precisam ser estimulados no dia a dia de todos que lidam com pessoas de perfil suicida. 

Para isso, rodas de conversa e palestras estão sendo realizadas por profissionais da saúde mental junto as UBS do município durante o mês de setembro. 

“As rodas de conversa acontecem maciçamente em setembro, por conta do mês, mas o Caps II, o Caps AD e o Espaço Crescer trabalham com matriciamento, sempre que acionado pela rede ou quando a equipe entende que é importante”, disse Gislaine Martins, gerente de Saúde Mental do município. 

REDES DE APOIO
Família, filhos, emprego e amigos geram segurança e mais estabilidade a pacientes com pensamentos suicidas.
Glaucia frisou que no decorrer do tratamento realizado com medicamentos, na administração do remédio deve ser feita pela família. 

“A família é essencial e tem que auxiliar no uso dos medicamentos, mas as vezes as pessoas não têm vínculo ou família próxima, é aí que entram os amigos e vizinhos. Ter uma rede de apoio é muito importante”, lembrou a psicóloga.  

Para Melissa* ter apoio de amigos e da família foi muito importante no processo. Mas ela reforçou que teve que tirar forças dela mesma para vencer a batalha e permanecer viva. 

“Lidar com a dor da existência é muito complicado, se perceber parte de algo e não sentir capacidade de movimento, mudança é muito angustiante. Ou também não se sentir parte de nada. Eu pude contar com a minha mãe, depois de anos de julgamento, e com amigos. Mas sei que mesmo com apoio só a gente resolve nosso BO. A gente precisa lidar com o que é nosso”, pontuou. 

 * A pedido da entrevistada, o nome foi modificado na reportagem

PROCURE AJUDA AQUI:
CAPS II
O Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) “Dr. Nelson Fernandes Junior” funciona na Avenida José Ziliolli, 491, no Jardim das Roseiras, de segunda-feira a sexta-feira, da 7h às 18h, com telefone: 3324 7266 (email) caps@araraquara.sp.gov.br. 

CAPS-AD
O Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS-AD) “Dr. Calil Buainain” funciona na Avenida Professor Sebastião de Almeida Machado, 493, no Santa Angelina, de segunda a sexta feira, das 7h às 19h, com telefones 3322-3329 / 3322-2652 e email capsad@araraquara.sp.gov.br 

ESPAÇO CRESCER
O Centro de Atenção à Criança “Maria Augusta Gonçalves Mendes – Guta” – Espaço Crescer atende na Avenida Padre Francisco Salles Colturato, 925, de segunda a quinta-feira, das 7h às 19h, e sexta-feira, das 7h às 18h, com telefone 3331-5255, e e-mail: espcrescer@araraquara.sp.gov.br. 

CRASMA
O Centro de Referência de Saúde Mental do Adulto de Araraquara “Dr. Ubirajaras Caldas” – Crasma, atende de segunda a sexta-feira, das 7h às 18h, na Rua Alfredo Coelho de Oliveira, 44, Vila Nossa Senhora do Carmo, com telefone: 3322-9192 e e-mail crasmaa@araraquara.sp.gov.br.

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