“Nunca perdi a certeza de que daria certo”. A frase que inicia esta reportagem especial do Dia das Mães poderia ter vários significados em qualquer momento da vida de uma pessoa. Entretanto, ganha ainda mais força na voz da advogada Elizandra Pires Bastos, de 38 anos, mãe de cinco filhos, mas que por um destino inexplicável pôde ter nos braços apenas dois.
Em 2017, Elizandra e o marido Rodrigo começaram a missão de se tornarem pais. Ela estava pronta para a maternidade e, logo na primeira tentativa, engravidou. Mas, com sete semanas de gestação, um aborto espontâneo fez com que o sonho fosse adiado.
Apesar do baque, a advogada engravidou novamente e pela segunda vez sofreu outro aborto, na nona semana. Abalada, ela buscou entender cientificamente o que estava acontecendo.
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“Fui investigar, fiz uma bateria de exames, alguns resultados mostraram alteração, mas corrigimos isso de uma forma bem tranquila”, contou.
Eis que no ano seguinte, chegou a terceira gravidez, que fluiu bem até o sétimo mês. “Tive uma bolsa rota [termo usado para a ruptura espontânea da bolsa amniótica, principal causa de parto prematuro]. Minha bolsa rompeu sem nenhuma explicação e, dois dias depois, entrei em trabalho de parto. Pouco antes de ir para a sala de cirurgia, os batimentos do bebê estavam normais, só que na hora que o médico tirou ela da minha barriga, ela já estava sem vida”, lembrou.
Naquele momento, o mundo de Elizandra desabou de novo. A advogada repensou sobre a maternidade e começou um trabalho emocional junto ao grupo Transformação.
Em meados de 2019, ela se viu pronta para tentar, pela quarta vez, uma gestação. “Conheço histórias de mulheres que tentaram 10 gestações. Não sei até onde seria o meu limite, mas, no fundo, nunca perdi essa certeza de que daria certo.”
No dia 18 de janeiro de 2020, data do seu aniversário, Elizandra recebeu em mãos, até então, seu maior presente: a Liz. “Quando eu ouvi a Liz chorando, senti uma emoção tão grande que eu não sabia se ria, chorava, gritava. Ter uma criança viva ali para cuidar, viver e ver crescer faz todo o esforço que tive para me reerguer desse luto valer a pena. A sensação que tenho é que, apesar de todas as dificuldades que a vida me trouxe, eu venci”, disse emocionada.
Liz foi o primeiro arco-íris. Para quem desconhece, o termo é usado para denominar bebês que nasceram/nascem após tentativas de gestação sem sucesso.
Em 15 de dezembro de 2022, pouco antes de Liz completar três anos de idade, Elizandra e Rodrigo celebram a chegada de mais um presente: Ravi. “A chegada do Ravi e tê-lo comigo me dá uma sensação de completude tão grande que parece que, agora, está completo mesmo”, definiu a advogada.
“Uma das coisas que me ajudaram muito a ressignificar tudo aquilo que estava acontecendo era que meus filhos, principalmente, os três primeiros tinham um propósito e precisavam de uma mulher forte para seguir esse propósito, me escolheram para isso. E, assim, na medida do possível, tirei forças de onde nem sabia que tinha. Então, sou muito agradecida pelos meus filhos mostrarem para mim a força que tenho”, disse.
Como mãe, ela se define como superprotetora, apesar de não gostar de romantizar o papel de mãe. “Na mesma proporção que é maravilhoso você ver e participar do desenvolvimento de uma criança, é desafiador. Ajudar na formação de outro ser humano é muito complexo. Os meus filhos são as coisas mais maravilhosas da minha vida? São, mas também é a mais difícil, porque eu me sinto na obrigação de cuidar das minhas feridas para ser mais saudável para eles”, detalhou.
Por fim, Elizandra fez questão de lembrar que cada filho tem a sua história e marcam a gente de uma forma muito intensa e especial. Os momentos de tempestade, que pareciam ser o fim de um sonho, viraram uma saudade e um sentimento bom. Hoje, dois arco-íris, Liz e Ravi, colorem a vida de Elizandra, a mãe de cinco filhos.