Durante participação na audiência pública que discutiu a covid-19 na Câmara de Araraquara, nesta quinta-feira (18), Lúcia Ortiz, presidente da Fundação Municipal Irene Siqueira Alves (FunGota), afirma que a principal dificuldade do sistema de saúde é encontrar profissionais.
Responsável por administrar os três principais serviços que lidam com a covid-19 no município – Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Vila Xavier, Unidade de Retaguarda do Melhado e Hospital Municipal de Solidariedade -, Ortiz apresentou panorama da situação.
Em relação a UPA da Vila Xavier, Ortiz afirma que a demanda por atendimento cresceu de forma significativa desde o início da pandemia. Segundo ela, em janeiro do ano passado era registrada média de 180 atendimentos dia. Hoje esse número é próximo de 400.
“A UPA já teve o apoio de unidades básicas que tiveram seu horário ampliado para atender covid-19. Então se a gente não tivesse esse apoio, com certeza, o número de atendimentos ia ser muito maior. Isso causa uma angústia grande, porque a UPA foi ampliada no começo desse ano, não tem mais onde ampliar e a capacidade de acomodar pessoas chegou ao limite”, diz.
Com o crescimento da demanda, uma das principais preocupações dos gestores públicos é encontrar profissionais especializados no mercado para atender os pacientes com sintomas mais graves da doença. Segundo ela, em 2020 eram três médicos, hoje são cinco no diurno e mais quatro no horário noturno trabalhando na UPA.
“Nem sempre estamos conseguindo, pois estão esgotando os profissionais médicos e de enfermagem no mercado. Às vezes estamos com a escala redondinha e de repente o parente ou funcionário positiva e é derrubada toda a escala. Quando procuramos outras pessoas, os profissionais que já são poucos, estão muito cansados e exaustos porque muitos trabalham com uma carga horária muito maior do que normalmente trabalhava”, relata.
A dificuldade para encontrar profissionais não é exclusiva da UPA da Vila Xavier. De acordo com a responsável pela FunGota, isso ocorre também na unidade de retaguarda do Melhado. Lá, além da necessidade de adequação física para abertura de mais leitos, há processos seletivos abertos para contratação de profissionais especializados.
“Estamos trabalhando muito. Abrimos vários processos seletivos para contratação específica dos profissionais de saúde para covid-19, se a gente conseguir fechar a escala de técnicos de enfermagem, vão ter mais dez leitos e, na primeira semana de março, trabalhamos para conseguir abrir mais oito para completar 40 leitos para pacientes de baixa complexidade”.
Em outro ponto de sua fala na audiência pública, Lúcia Ortiz explica que o hospital de campanha possui dificuldade com oxigênio por causa da grande demanda e garante que a administração municipal encomendou uma nova usina para dar conta.
“Quando fizeram o projeto do hospital de campanha pensavam que um paciente de enfermaria ia usar cinco litros [oxigênio] por minuto. Tudo bem que evoluímos muito no atendimento, mas são pacientes que usam máscaras, alguns instrumentos que temos para ajudar na ventilação e consomem muito mais do que isso, consomem 15 [litros] e dependendo do equipamento consomem até mais porque escapa e perde bastante”, explica.
“Com isso o que aconteceu? A rede não consegue ter a pressão que precisa para todos esses equipamentos funcionarem, então tem oxigênio, tem usina, tem tudo, mas não consegue ter essa pressão”, completa.
Ortiz ressalta que a estrutura de saúde, pública ou privada de Araraquara, deu um salto significativo de um ano para cá para dar conta da demanda de internação para pacientes com estado grave. Com isso, volta a alertar sobre a falta de profissionais no mercado.
“A grande dificuldade no hospital de campanha para atingir nosso limite de atendimento, de leitos que vão ser montados não é oxigênio. Porque isso você espera um pouco, chega uma usina mais potente. Mas nosso desafio é o profissional. Não é só um número, mas também em qualidade, pois é um profissional extremamente qualificado e especializado”, alerta.
Antes de encerrar sua fala, a responsável pela FunGota fez um apelo à população, pedindo para que cumpram as medidas de distanciamento social e contribuam para aliviar a pressão nos serviços de saúde, que está no quarto dia com 100% de ocupação em enfermaria e UTI.
“Amamos ser profissionais de Saúde e temos orgulho da profissão que escolhemos. Agora é nossa vez de cuidar, estamos aqui e a população pode contar com a gente, nosso empenho, força, determinação e resiliência. Mas, precisamos que vocês nos ajudem ficando em casa, derrubando a transmissão, que não aumente o número de paciente, pois a rede não é elástica, tem limite e está chegando”, finaliza.
A audiência pública também reuniu representantes da secretaria da Saúde, Segurança Pública, Defensoria Pública e do Conselho Municipal da Saúde. A vereadora Thainara Faria (PT), autora do pedido de audiência, coordenou os trabalhos na Câmara Municipal.