O engenheiro civil João Bernal, funcionário de carreira por 40 anos e ex-secretário de Obras e Serviços Públicos da Prefeitura de Araraquara, disse que existe necessidade urgente de obras na Via Expressa, para corrigir problemas na galeria de águas pluviais da avenida.
“Falar que vai afundar a Via Expressa? Pode acontecer, tem problema. Mas, se vai acontecer amanhã ou daqui a 20 ou 30 anos, quem é que sabe? Que existe problema existe e precisa ser resolvido”, avaliou Bernal, ao ser questionado sobre um vídeo divulgado pelo vereador Rafael De Angeli (PSDB), denunciando as más condições da Via Expressa.
João Bernal disse que em 2017, quando era secretário de Obras e Serviços, na gestão do prefeito Edinho Silva (PT), fez uma vistoria em toda a galeria de águas pluviais, por baixo da Via Expressa, desde o Balão da Rotunda até próximo ao terminal rodoviário.
Após a vistoria, ele elaborou um projeto de construção de duas linhas de aduela, orçadas em cerca de R$ 20 milhões, mas a Prefeitura acabou não conseguindo recursos junto ao Governo Federal para executar a obra.
“Esse é um problema que existe desde que a Via Expressa foi construída, não adianta procurar culpados. O Córrego da Servidão é um córrego pequenininho e, com o passar do tempo, a Via Expressa foi sendo impermeabilizada. Nos anos 40, construíram essa galeria com piso de concreto, não tem armadura, as paredes laterais são feitas com pedra rachão, argamassa, e uma laje que está deteriorada por conta da passagem das décadas”, comentou Bernal.
MEDIDAS
Para ele, o grande problema é que a galeria tem medidas irregulares ao longo da Via Expressa, pois foi sendo construída em tempos diferentes.
“Uma chuva boa e essa água desce a 80, 90 metros cúbicos por hora, a galeria não suporta, porque chega lá embaixo ela estrangula. Esse excedente que não consegue passar sobe e é quando forma alagamento. A parte mais velha, mais sensível da galeria, é a que sofre mais pressão por conta do volume e da velocidade da água. Isso acaba inundando a galeria, fez um buraco, o piso levantou”, explicou o engenheiro.
Para ele, como a galeria está toda desigual, para consertar tudo, seria necessária uma obra irreal, do ponto de vista financeiro e logístico.
“Teria que destruir a Via Expressa, remover todo o asfalto, toda a linha de energia elétrica, toda pavimentação, todo o passeio público, e ainda não conseguiria atender os 100%, por causa do Terminal de Integração e passarela. Não tem como abrir mais passagem, a não ser que abra a rua e derrube o Terminal de Integração. O que dá pra fazer é passar duas linhas de aduela, uma de cada lado das fundações da passarela do Terminal de Integração, pra resolver 95% dos problemas de enchente. O problema de inundação pode continuar, porque vai piorar”, explicou.
ENCHENTES
A solução para as enchentes, de acordo com Bernal, seria a construção de lagoas de detenção. “A gente esperava que os trilhos saíssem, mas não saíram. A gente construiria lagoas pra não deixar essa água descer tudo de uma vez. Teria que segurar essa água na lagoa pra ela ir escoando aos poucos. Só que custa caro também”, disse.
Ele lembra que é um trabalho caro e uma obra que demoraria de cinco a seis meses, em uma avenida onde circulam 30 mil veículos por dia. “Mas uma hora ou outra vai ter que acontecer”, declarou.
Uma outra solução possível para a Via Expressa, segundo Bernal, seria a encontrada pelos engenheiros que trabalharam essa semana na Marginal Tietê em São Paulo, para solucionar o buraco aberto próximo às obras do metrô, causado por um vazamento de esgoto. No local, foram injetados 5 mil metros cúbicos de concreto.
“Uma solução seria injetar concreto como foi feito em São Paulo. Tirar a água em uma época de estiagem e injetar concreto. O certo na Via Expressa seria abrir para corrigir, mas não dá para abrir”, comentou.
BURACOS
Questionado se na Via Expressa existe risco de abrir um buraco como na Marginal Tietê, Bernal disse que em toda galeria de água pluvial existe esse risco, porque quando ocorre esse tipo de problema, a terra é sugada por baixo. “Por isso que, quando cai um carro, por exemplo, ninguém vê”, disse.
Por fim, Bernal acredita que ninguém deve ficar “sem dormir” ou “deixar de passar pela Via Expressa” por causa das falhas de construção na avenida.
“Podem acontecer problemas, inclusive em época de estiagem. E já aconteceram. Na época do De Santi aconteceram problemas, tiveram que arrumar e está aguentando até hoje. O grande erro foi não mexerem na galeria velha quando construíram a Via Expressa, mas ninguém imaginaria que ia descer tanta água quanto desce hoje”, concluiu.
PREFEITURA
Em nota, a Secretaria Municipal de Obras e Serviços Públicos esclarece que monitora frequentemente as condições da Via Expressa e que não há risco iminente de desabamento do asfalto.
Confira a nota na íntegra
A Secretaria Municipal de Obras e Serviços Públicos esclarece que monitora frequentemente as condições da Via Expressa e não há risco iminente de desabamento do asfalto. O setor tem tomado medidas preventivas junto à Defesa Civil. Ainda assim, em caso de chuva forte, os setores interditam a Via Expressa da Avenida Feijó até o balão da Avenida Sete de Setembro, como forma de prevenção a acidentes em virtude do grande volume de água. Os riscos são de acidentes automobilísticos, não de desabamento da via.
Vale destacar que é uma situação que merece atenção, afinal a Via Expressa foi iniciada na década de 1970 e concluída na década de 1980, construída por trechos. Desta forma, não foi feita por uma única administração. Uma administração começava, fazia um trecho, a outra fazia outro trecho. Devido a isso, existe essa diferença importante de perfis e tipos de construção, e dos materiais utilizados.
Cabe ressaltar que com a retirada dos trilhos do centro de Araraquara, a intenção é que se faça um projeto de uma rede paralela, captando toda a água proveniente da Vila Xavier e jogando essa água mais a jusante, mais para frente, para evitar esse ponto de alagamento.
Em relação ao vídeo apresentado pelo vereador Rafael de Angeli (PSDB), é importante ressaltar que ele foi gravado em outra oportunidade. É de ciência do próprio vereador que uma reforma estrutural do local demandaria um grande investimento, o qual neste momento é inviável para o poder municipal, uma vez que a prioridade do município, desde 2020, tem sido enfrentamento à pandemia. Só em 2021, o município drenou R$ 80 milhões de recursos do próprio municipal para o combate à Covid-19, garantindo testagem em massa, atendimento, abertura de leitos, medicamentos, dentre outros, inclusive abertura de um hospital de campanha que está operacional novamente, devido a retomada do crescimento da pandemia. Diante disso, a Prefeitura de Araraquara vem buscando recursos junto ao governo estadual e federal para viabilizar as obras necessárias no local, hoje orçadas em mais de 20 milhões.
A Prefeitura de Araraquara continuará trabalhando para resolver problemas da cidade, como tem feito incansavelmente. A politização de problemas da cidade não ajuda na solução dos mesmos.