Quem não é de Araraquara e pede um lanche em algum carrinho ou hamburgueria da cidade se assusta com o tamanho do “burguinho”.
São lanches grandes, “regados” e apetitosos, que alegram o estômago e fazem a fama da cidade de excelentes hamburgueiros.
Seja nos corredores comerciais como na Avenida Bento de Abreu, Alameda Paulista ou em bairros, há sempre um carrinho de lanche ou lanchonete aberta.
Alguns funcionam até altas horas da madrugada, outros encerram o expediente às 23 horas. Opções não faltam para quem tem fome de lanche.
No dia do Hamburguer (28), a reportagem do acidade on conversou com alguns comerciantes que estão no ramo há mais de 30 anos com muita história atrás da chapa.
X-FAMÍLIA
A família da comerciante Maria José Pontes de Souza, 59 anos, a Zezé do Comilão Lanches, começou no ramo há 34 anos.
Ela e seu marido, José Carlos Teixeira de Souza, o Zé, iniciaram vendendo lanches em um carrinho ao lado da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Vila Xavier. Desde 1992, eles estão com o estabelecimento comercial fixo na Alameda Paulista.
“Eu comecei ajudando meu marido e as pessoas perguntavam se eu não tinha vergonha no início. Tudo o que temos hoje eu devo aos lanches: casa, carro, viagens. Paguei faculdade para meus dois filhos, e sempre ajudei. Tudo o que temos veio da da chapa. Chapeira igual eu não tem. Sou boa no que faço “, contou.
O sucesso todo veio através muita persistência, alguns sacrifícios e, claro, qualidade. “É uma vida sacrificante, porque não fechamos, só de segunda, então muito aniversário foi aqui. A vida é trabalho, mas não posso reclamar”, contou a hamburgueira.
X-salada e X-bacon são os mais vendidos e o casal chega a fazer até 130 lanches em um dia de bastante movimento.
Antes da pandemia, o comércio ficava aberto a noite toda, mas agora o forte é o delivery, e o atendimento se encerra às 23 horas.
“Na pandemia, começamos a fazer delivery e não imaginava que iria ser tão forte. Acredito que o pessoal acostumou a pedir comida em casa, as pessoas reformaram as casas e preferem receber família e comer em casa”, comentou.
Sobre os tamanhos dos lanches, Zezé comentou que clientes de fora se assustam e tiram até fotos dos “burguers”.
“O pessoal que vem de São Paulo se assusta com tamanho dos lanches, tiram foto, ficam enlouquecidos. São lanches bem recheados mesmo e grandes. Dependendo do lanche dá para duas pessoas comerem tranquilo”, apontou.
HAMBURGUEIRO RAIZ
O comerciante Marcos Predaza, o Marquinhos, de 58 anos, tem muita tradição e história atrás da chapa de seu carrinho, na Avenida Bento de Abreu.
Hamburgueiro raiz, ele fica até de madrugada de segunda a segunda, e é a salvação da galera noturna. São 30 anos de muitos X-Frango, X-Tudo, Hot-dog, entre tantas outras opções do cardápio.
“Eu gosto de fazer todos os tipos de lanche, estou nessa profissão há 33 anos, eu já podia ter mudado de profissão mas eu gosto do que faço. Araraquara é a terra do hambúrguer”, apontou.
Em um dia de grande movimento, ele chega a fazer 100 lanches. Detalhe: ele trabalha sozinho, somente aos finais de semana que um ajudante é chamado.
“Ser hamburgueiro é o seguinte: eu comecei do nada, não tinha nada, nem carro, nem casa e o carrinho me deu tudo, inclusive meus clientes. Hoje eu atendo filhos dos clientes, para mim isso é muito importante”, avaliou.
Após décadas no carrinho, em breve ele vai se mudar para a galeria Center Fonte, que fica em frente ao local que trabalha.
“Agora eu comprei uma loja aqui na fonte e futuramente vou abrir a hamburgueria lá, após finalizarem a reforma na galeria. Montei um carrinho de lanche dentro da loja, mesma coisa, mas agora vai ter cozinha também”, contou orgulhoso.
Toda noite, Marquinho monta e desmonta o carrinho devido as regras da Prefeitura para ambulantes. Mas, em breve, ele só vai abrir e fechar a porta da nova hamburgueria.
Uma das regras de Marquinho é não deixar ninguém com fome e todo dia ele faz lanches para pessoas em situação de rua que pedem comida no carrinho.
“Toda noite eu já deixo aqui reservado uns seis lanches para as pessoas que pedem, não vou negar comida e não vai fazer falta. Faz anos que faço isso, eu prometi para mim mesmo, eu tive sorte, e quem não tiver condições eu dou”, disse.
DE BANCÁRIO A HAMBURGUEIRO
O araraquarense descendente de italiano, Nei Alástico, é um dos hamburgueiros mais antigos da Vila Xavier. Ele tem 59 anos e se dedica à chapa há 34 anos. Trocou a profissão no banco para fazer lanches, para alegria de seus clientes.
Desde então ele está fixo com seu carrinho em um ponto da Avenida José de Alencar com a Alameda Paulista.
“Eu trabalhava no banco mas começaram a cortar comissão, pedi as contas e resolvi comprar um carro de lanche. Eu aprendi na marra e na vontade. Estou no mesmo ponto da Vila desde então”, contou.
Nei abre às 18h e fecha às 23h de terça a sábado. Domingo, segunda e feriados ele tira para descansar.
Antigamente, o comerciante costumava ficar até de madrugada mas com o tempo e aumento da violência, ele desistiu.
“Trabalhei muito na noite, mas hoje não encaro mais, está perigoso e é muito cansativo. Já cheguei a vender 300 lanches nas madrugadas”, disse.
Nei se autointitula “ambulante verdadeiro”, tem alvará e todos os dias, ele monta e desmonta o carrinho de lanches.
“Eu sinto orgulho da minha profissão, em ser hamburgueiro. Quando comecei em Araraquara não tinha Mc Donald’s essas coisas, então fomos preparados, fizemos cursos e somos pioneiros aqui”, conclui.