Caramelo, como foi batizado pelos trabalhadores do cemitério São Bento, em Araraquara, passa a maior parte do tempo deitado entre os túmulos, com o olhar triste e perdido. Ele parece cansado. Vez ou outra, levanta, caminha um pouco, mas logo volta a se abrigar na sombra de alguma árvore, como na manhã desta sexta-feira (28).
O cachorro chegou ao cemitério há poucas semanas, mas ninguém se arrisca a dizer exatamente quando e o porquê. Em comum entre os relatos apenas a estória de que o animal estaria à espera do tutor, morto e enterrado recentemente.
“Estamos deduzindo isso, mas não sabemos se é verdade”, diz o sepultador Edmilson Franco de Oliveira, que trabalha no São Bento há 11 anos.
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O funcionário conta que o animal passa o dia todo ali, é dócil, embora, não goste que se aproximem ou tentem acariciá-lo. “Ele fica o dia inteiro assim [deitado]. Às vezes, anda, acompanha alguém, vai para a rua, depois volta. A gente chega de manhã, ele já está aqui. Não atrapalha em nada, já estamos acostumados”.
A Silmara de Fátima Pereira trabalha limpando túmulos no cemitério São Bento há quatro anos e não se recorda de ter visto algo parecido. “Ele passeia um pouco, depois volta. Eu acho que o dono dele deve estar por ali”, diz.
Ela conta que o Caramelo chega logo cedinho, é alimentado pelos trabalhadores e por lá fica até o fim do dia quando vai embora. “A gente chega para trabalhar e ele entra acompanhando. Eu acho bonito, o animal tem mais amor às pessoas do que o ser humano, e muita gente não retribui e dá valor para estes bichinhos.”
A coordenadora do Bem-estar Animal, Carolina de Mattos Galvão, explica que o cachorro se enquadra na condição de “animal comunitário”, porque não tem tutor definido, mas mantém um laço afetivo com o local.
Segundo ela, por estar bem cuidado, o Caramelo não se encaixa no protocolo de recolhimento, mas pode ser adotado por qualquer pessoa. “Não é possível fazer resgate de animal sadio. Existe uma legislação que dá suporte para animais que precisam de atendimento médico-veterinário”, justifica.
Em casos como este, o poder público atua apenas na castração do animal como forma de controle populacional. Por isso a orientação é que a comunidade que “abraçou” o animal entre em contato com a ouvidoria da coordenadoria para solicitar o procedimento.
Procurada para comentar o assunto, a administração do Cemitério São Bento ainda não se manifestou.
SERVIÇO
Coordenadoria do Bem-estar Animal fica no Parque Pinheirinho e funciona de segunda a sexta, das 7h às 15h. O telefone para contato é o (16)3301-3130.