A pandemia tem se mostrado cada vez mais danosa a diversas instituições do país, mas a linha de frente ao combate do coronavírus tem sido uma das mais afetadas psicologicamente, de acordo com uma pesquisa divulgada pela FGV (Fundação Getúlio Vargas) em parceria com a Rede Humanidades Covid-19, ligada à Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), que ouviu 1.829 profissionais de saúde em março deste ano.
Os dados do estudo mostram que a saúde mental dos médicos foi a mais afetada pela pandemia (85,4%), seguida pelos profissionais de enfermagem (85,1%) e ACSs (agentes comunitários de saúde) e ACEs (agente de combate às endemias) (75,1%).
A psicóloga Naiara Mariotto avalia os dados da pesquisa como sendo muito preocupantes, pois esses profissionais estão com um nível de desequilíbrio emocional capaz de afetar o seu poder de lógica, raciocínio e, consequentemente, de decisão. “Atualmente, mais do que nunca, os médicos precisam decidir sobre quais recursos vão ser utilizados em cada paciente e, com isso, salvar vidas”, diz.
Com a realidade dura vivida por algumas cidades do país, o agravamento constante da pandemia e a falta de previsão para que a população esteja imunizada, Naiara também relata que muitos profissionais da saúde foram diagnosticados com síndrome de Burnout, além da depressão, ansiedade e outros impactos mentais em razão da violação de códigos morais próprios.
“Todas as decisões que precisam ser tomadas acabam resultando em sérios problemas relacionados aos sentimentos de culpa, que também levam a um forte sentimento de vergonha. São emoções exacerbadas que se mostram cada vez mais presentes entre esses profissionais”, explica.
AJUDA É NECESSÁRIO
Para a psicóloga, com um suporte terapêutico adequado, os danos com certeza seriam menores, pois os profissionais da saúde poderiam expor suas emoções e entender que culpa e vergonha são sentimentos comuns, além de compreender até que ponto há evidências de que esses sentimentos pertençam a eles.
“Aceitar e não se esconder das próprias dificuldades e fraquezas são atitudes que ainda trazem a visão de que tudo aquilo que é visto e devidamente analisado é muito mais fácil de ser tratado e, consequentemente, cicatrizado. Além de amenizar todos os danos que, sem um tratamento psicológico, provavelmente vão persistir”, explica Mariotto.