O mês de dezembro é sinônimo de festa e alegria. Mas também traz o lado B para muita gente, que sofre de transtornos de ansiedade e depressão, doenças que podem se agravar nessa época do ano. A chamada “depressão de fim de ano” é motivo de preocupação e, em casos extremos, pode levar ao suicídio.
“Os meses de dezembro e janeiro são aqueles em que mais acontecem suicídios, exatamente por conta das festas, desses momentos de confraternizações”, explicou a psicóloga Naiara Mariotto.
Entre os sintomas que indicam a hora de familiares e amigos observarem mais atentamente uma pessoa, que pode estar precisando de ajuda, é a sensação de vazio, tristeza prolongada e a busca por isolamento social.
“Muitas vezes a pessoa prefere ficar no quarto, com pouco contato social. Ela sente falta de energia, cansaço e irritabilidade constantes. A dor física pode vir também, como dores de cabeça fortes, além de noites de sono ruins, alterações de humor frequentes e perda de apetite”, acrescentou.
PERDAS
De acordo com Naiara, outro sintoma comum da depressão é o uso abusivo de álcool, além do próprio pensamento de desesperança no futuro, em si mesmo e nas pessoas ao redor, que pode, em última instância, levar ao suicídio.
A psicóloga conta que as pessoas que mais sofrem com esses sintomas no período de festas de final de ano são aquelas que já sofrem algum tipo de transtorno de ansiedade ou depressão. O mês de dezembro pode representar, portanto, um agravante da doença, principalmente quando existem perdas recentes na vida da pessoa.
“Às vezes é o primeiro final de ano sem aquela pessoa querida que faleceu. Isso traz uma intensidade maior para esse humor deprimido. Sem falar da observação que essas pessoas fazem a respeito da própria vida, suas metas, objetivos, fracassos. Se essa pessoa já está vulnerável emocionalmente, isso pode ser um gatilho para ela desenvolver a depressão”, acrescentou Naiara.
COMPARAÇÕES
Para que as crises de ansiedade e depressão não venham com força no período de festas, Naiara aconselha que as pessoas evitem qualquer tipo de comparação com a vida do outro, procurando não acessar em excesso as redes sociais, por exemplo.
“Ali tem um mundo de fantasia. A gente acaba fazendo uma comparação desleal entre o melhor do outro com o nosso pior. Isso pode deprimir mais e trazer crises de ansiedade”, ressaltou.
Ela recomenda ainda que as autoanálises sejam feitas ao longo do ano, para que se encare e aceite aquilo que traz dificuldades emocionais, mas não somente em dezembro, para não haver um acúmulo de questões a se lidar em momentos de possível fragilidade.
“Os hábitos de alimentação, sono e exercícios físicos são sempre importantes de se manter. Aceitar que você está com dificuldade de lidar com algumas questões é muito importante, para entender o que está acontecendo e, a partir disso, conseguir ajuda a tempo de aumentar a qualidade de vida”, aconselhou também Naiara.
Para as noites de Natal e Réveillon, a psicóloga recomenda que as pessoas que já têm tendência de se isolar e mergulhar em negatividade emocional, não fiquem sozinhas. “Elas devem buscar companhia e uma atividade prazerosa, que produza serotonina”, complementou.
Nessa época de festas de final de ano, Naiara ressalta ainda que é preciso cuidado com o exagero na ingestão de bebidas alcoólicas, que ficam disponíveis em maior quantidade nos mais variados eventos sociais agendados entre familiares e amigos. “O abuso de álcool pode agravar ainda mais a depressão e a ansiedade”, concluiu.
MADRUGADAS
O coordenador do Centro de Valorização da Vida (CVV) de Araraquara, Júnior Silva, confirmou que os atendimentos pelo telefone 188 aumentam muito nos finais de ano, principalmente durante as madrugadas.
“No mês de novembro já começamos uma campanha incentivando os voluntários a fazerem uma hora a mais de serviço à noite, o chamado Corujão, porque a fila de espera é muito grande. Em algumas madrugadas, até 30 pessoas ficam esperando”, contou.
Ele explica que o atendimento do CVV Araraquara agora é nacional, ou seja, os voluntários locais atendem ligações de diversas localidades e chegam a conversar com pessoas de diferentes estados do Brasil, como Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte, Amazonas, Bahia e Goiás.
“Nós estamos sempre fazendo campanhas e cursos para aumentar o número de voluntários, porque a tendência agora no final de ano é aumentar a quantidade de ligações”, finalizou.
As pessoas que sentirem algum sintoma de depressão podem procurar o Centro de Atenção Psicossocial “Dr. Nelson Fernandes Júnior” (CAPS), que fica na Avenida José Ziliolli, 491. O telefone é 3324-7266.