A multiartista araraquarense Liz Under está em plena ebulição criativa na pandemia. Murais, bordados, grafites e desenhos resultam em artes profundas cheias de significados pessoais.
Após um imenso mural realizado no Sesc de Ribeirão Preto em junho, ela foi pré-selecionada nesta semana em uma premiação de artes no Prêmio Galeria La Chimèra, no Canadá, com a obra “Hibiscus”. A votação é online e vai até o dia 06 de setembro através de uma plataforma do google. Serão três finalistas com premiações em dinheiro.
“Hibiscus” é um desenho feito com lápis sanguíneo, mais conhecido como lápis de esboço, a obra é uma “paisagem delirante” onde mutilação, mitologia grega entre outras referências versam sobre a transcendência da artista.
Seu trabalho já esteve em mostras nacionais e internacionais, e em exposições como a Galeria Transarte, de São Paulo, Festival Feminista de Lisboa, Espacio Pira, em Barcelona, Kleió Collective, de Londres, XV Território das Artes e Sesc de Araraquara.
ARTISTA INTENSA
Mutilações, erotismo e a cor vermelha jorram de seus desenhos. Olhares desavisados talvez reajam com estranhamento no primeiro momento, o fato é que é impossível sair ileso de suas obras.
“O uso do vermelho, do sangue, as veias pulsantes e em especial a mutilação que uso muito em minhas obras, está ligado à transcendência da dor e a criação de uma nova substância”, reflete.
Em suas recentes “paisagens” viscerais feitas na pandemia com o seu inseparável lápis sanguíneo , a artista mostra intensidade como nunca. Curiosa e estudiosa, pesquisa sobre mitologia, erotismo, entre muitas outras linguagens para as suas obras.
“Eu pego vários aspectos e referências na mitologia grega, a mutilação era uma coisa muito presente, como o surgimento de Afrodite que veio de um falo mutilado, ou na mitologia egípcia também, há várias referências”, aponta.
Aos 25 anos, a artista comenta sobre o atual momento de criação e suas principais inspirações para a arte forte e profunda que produz.
“Tenho mergulhado mais no meu processo criativo na pandemia , e estou mais afinidade com meu trabalho, a pandemia me proporcionou mais solidão e essa aproximação com o que faço, seja por necessidade ou livre e espontânea vontade” comenta.
ARTE COMO UM DIÁRIO
Liz produz manualmente tudo o que faz, como os seus cadernos de desenhos ( sketchbooks). Costura a capa, faz a guilhotinagem, dobradura, colagens etc.
“Eu fabrico meus próprios cadernos, gosto de ter essa proximidade com meu trabalho como um ofício. Meu trabalho é alegórico e funciona muito como uma forma de diário”, diz.
Ela reflete que seus desenhos são autorretratos que representam a sua própria transformação.
“Esses autorretratos que são as mutilações e figuras bestiais, representem que quando passo pelo fogo da transformação eu deixo no caminho uma parte da minha identidade. É um violência externa sendo exteriorizada em uma nova criatura com suas paisagens delirantes”, reflete.