“Alcançar a ancestralidade de cada um e trazer para o presente a existência do futuro. Quando se conhece a própria história, o presente é presente e o futuro existe”. Essas palavras são da chefe de cozinha Lu Ahamy, 48 anos, artesã e guerreira indígena da etnia Guarani Mbya e resumem bem o propósito da 2ª Feira de Cultura Indígena de Araraquara, um mergulho nas culturas dos povos originários do Brasil. O evento será realizado entre 20 e 21 de maio, das 9h às 18h, no Centro de Eventos de Araraquara e Região (Cear), e vai reunir mais de 70 artesãos e artesãs de 20 povos indígenas. A entrada é gratuita.
Lú Ahamy, casada com o guerreiro pataxó Awa Mbarete, conta que nasceu na Terra Indígena Guarani Rio Silveira, em Bertioga/SP, onde aprendeu a arte de cozinhar. Atualmente, mora com a família em Campinas/SP e preside a EtnoCidade, uma Organização da Sociedade Civil (OSC). Ela revela que, na tarde do primeiro dia do evento (sábado), participará com outros convidados da Roda de Conversa cujo tema será “Indígenas em Contextos Urbanos: identidades invisíveis”.
Durante os dois dias de feira, Lú Ahamy também vai mostrar seus dotes de chef oferecendo pratos típicos da culinária ancestral Guarani Mbya, como o Pirá Txunn Rewe, prato de peixe frito com paçoca de banana verde, acompanhado por arroz branco e salada. “É um dos pratos mais tradicionais de meu povo e apenas uma demonstração do potencial da culinária guarani”, explica com orgulho.
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Outra característica cultural que será oferecida aos visitantes do evento é o artesanato de diferentes culturas dos povos originários. Essa diversidade estará evidente pelas formas únicas que as diferentes etnias trabalham na confecção de peças como colares, brincos, cestarias e roupas pintadas à mão, com traço de proteção, por meio do grafismo indígena.
A artesã Tamikuã Faustino Pataxó, de 54 anos, nasceu e foi criada na Terra Indígena Mãe Barra Velha, em Porto Seguro/BA. Atualmente, mora em Estiva Gerbi/SP com seus quatro filhos e o marido, que não é indígena. Ela vai expor seus produtos durante o evento e explica que sempre participa de ações e eventos que promovem a interação e evidenciam a diversidade cultural dos povos indígenas. “São encontros que dão visibilidade a nossa cultura, que também inclui o artesanato como forma de nossa resistência e sobrevivência. Para nós, indígenas que moram num contexto urbano, isso faz toda a diferença”, reforça Tamikuã. Ela diz que se trata de uma maneira de aproximar o conhecimento e a cultura indígena à sociedade. “E também ajuda a entender que continuamos indígenas, mesmo morando em cidades, ou onde quisermos, porque guardamos nossas raízes, sabemos e valorizamos de onde viemos”, explica.
PROGRAMAÇÃO
Sábado – dia 20
O evento começa sábado, às 9h, com o ritual Toré conduzido pelos Kariri-Xocó e outros representantes de povos indígenas. Na sequência, às 9h20, haverá a mesa redonda “A Realidade dos Povos Indígenas no Estado de São Paulo: visibilidade e protagonismo”, com a participação de David Terena e Patrícia Fulni-ô. O debate será mediado por Robson Rodrigues, da Fundação Araporã, e por Marcos Aguiar, do Programa Índios na Cidade.
De 9h30 às 17h45, os visitantes terão a oportunidade de apreciar e adquirir produtos artesanais, participar, a partir das 11h, de oficinas de grafismo, canto, dança e pintura corporal. Às 14h30, haverá a roda de conversa com o tema “Indígenas em Contextos Urbanos: identidades invisíveis” com Alex Kaimbé, Lu Ahamy, Netuno Borum Krekmum e Gercídio Pataxó, com mediação de Marcos Aguiar.
Domingo – dia 21
No domingo, a partir das 9h, o evento começa com o ritual Toré. Depois, entre 9h30 e 17h30, haverá exposição e venda de artesanato. A partir das 11h, serão oferecidas as oficinas de canto, dança, confecção de brincos e confecção de Maracá. Às 14h30, será realizada a roda de conversa “Mulheres Indígenas: trajetórias e narrativas” com a presença de lideranças femininas indígenas como Luana Guarani Ñandewa, Tamikuã Pataxó, Sol Terena, Dida Kariri-Xocó e Cláudia Baré. O debate será mediado por Najara Leite e Grasiela Lima.
A partir das 16h, haverá mais oficinas, incluindo “Yamá Tumune (Vai em frente) – Valorização da Língua Indígena”, com Ranulfo de Camilo, “Circuito Djaa Djaglga (Vamos Jogar Mbya?)”, com Awa Mbarete, e “Confecção de Trançados para Tiara”, com Guaraci Uwewidjú.
Todas as oficinas têm disponibilidade de 30 vagas e as inscrições podem ser feitas no dia.
Durante o evento, os participantes também poderão conferir duas exposições: “Das Pequenas Mulheres às Anciãs na Luta Pela Terra”, por Dida Farias Kariri-Xocó e Aquarelas – “Resistência” por Juty Oliveira (Guarani-Kaiowá). Toda a programação pode ser conferida no Instagran e Facebook da Feira da Cultura Indígena de Araraquara.