‘Toda deslumbrante ela desfila na quebrada‘. Esse é o início de ‘Samantha‘, música recém-lançada em uma colaboração da rapper alagoana Hella Oliveira e Ptwo Parker, de Araraquara.
A letra aborda a força de Samantha, uma travesti toda tatuada, de sorriso radiante, corajosa que ‘enfrenta o mundo contra o preconceito’. O single fala sobre o relacionamento da protagonista com um homem cisgênero e os olhares preconceituosos que confronta em seu cotidiano.
A música está disponível no Youtube (clique para conferir) desde o dia 17 de maio.
Natural do interior alagoano, a artista Hella Oliveira de Souza, de 29 anos, vive em Araraquara há cinco anos e usa de suas vivências para escrever letras de rap e trap. O acidade on conversou com a compositora de Samantha.
Conheça um pouco mais sobre Hella Oliveira:
1- Quando você começou sua carreira no rap/trap?
Eu comecei minha carreira no rap/trap em 2019, quando escrevi minhas primeiras letras. Sempre gostei de música e escutava muita música, mas tinha um bloqueio porque, quando era pequena, ouvia de colegas de escola e amigos de rua que eu cantava mal. Anos depois, comecei a escrever para expressar todo o preconceito que me atravessava, transformando o ódio que me lançavam em música. Após três anos fazendo teatro, consegui desbloquear esse medo e comecei a correr atrás de gravar minhas músicas. Foi assim que elas saíram do papel. Em 2022, lancei meu primeiro EP, intitulado “Babilônia”.
2-Como chegou a Araraquara?
Sou de uma cidadezinha chamada Barragem Leste no interior de Alagoas. Moro em Araraquara há cinco anos, e já morei em alguns bairros, eles são Selmi dei, Santana, Quitandinha. Um dos motivos que me trouxeram para cá foi a cultura vibrante desta cidade, que transpira arte. Outro motivo foi a busca pelo autoconhecimento, pois aqui me senti segura para me transicionar e me tornar Hella. Embora a cidade tenha seus preconceitos, existem cidades e estados bem piores.
3-Como foi sua parceria com o rapper Ptwo Parker neste na música “Samantha”?
A parceria para a música “Samantha” surgiu por meio de um convite do Pwto Packer. Ele tinha um histórico de preconceito, mas após um encontro com um ex-colega de escola que ele costumava zombar, ele decidiu mudar seu pensamento. Esse colega era gay, e o encontro fez Pwto Packer refletir e buscar compreender e respeitar mais a comunidade LGBTQIAPN+. Como sou travesti, vi a oportunidade de abordar os preconceitos que enfrentamos através dessa parceria.
4-Como nasceu a ideia de contar a história de Samantha? Foi alguma experiência pessoal?
A ideia de compor “Samantha” veio da necessidade de abordar a realidade de muitos homens que se relacionam com travestis e trans apenas no sigilo. Na música, falo sobre a liberdade de estar em um bar, conversando sem medo do julgamento alheio, algo que muitos evitam por receio. Quis trazer essa questão à tona e quebrar essa lógica comum de sigilo e preconceito.
5-Quais são suas maiores inspirações da cidade?
Araraquara em si é uma grande inspiração para mim. Foi aqui que me desenvolvi como artista e onde vivi momentos importantes da minha vida. A cidade e suas paisagens estão presentes em várias das minhas músicas, pois é uma fonte constante de inspiração e gratidão.