O documentário “Acácia”, lançado em 2020 pelo diretor araraquarense Wisley Luiz, foi premiado em Recife no festival Ver Ouvindo, dedicado a filmes com audiodescrição, quando imagens são traduzidas em palavras narradas, para permitir o acesso a pessoas com deficiência visual. A versão audiodescritiva do documentário foi produzida por Nara Marques.
“Os jurados ressaltaram a atenção e o cuidado ao conteúdo escolhido para traduzir imagens em palavras. Vários colegas de profissão estavam lá unidos no mesmo propósito. Foi a validação de um trabalho ao qual me dedico há um bom tempo”, declarou Nara, que trabalha nessa área desde 2018.
O festival, que está na sua sexta edição, foi realizado entre os dias 10 e 15 de novembro, em versão híbrida, com exibição presencial de filmes e premiação transmitida online. As obras foram avaliadas por um corpo de jurados composto por profissionais experientes no mercado. A versão audiodescritiva do curta-metragem foi premiada tanto pelo júri técnico quanto pelo júri popular.
Clique aqui e assista ao curta – Acácia (com Audiodescrição)
ORGULHO
Nara disse sentir muito orgulho de ter levado a história da cooperativa Acácia até Recife por meio de seu trabalho, por ser araraquarense e o documentário ter sido realizado por pessoas da cidade sobre uma iniciativa que se confunde com a história local.
“É um trabalho lindo, do diretor Wisley Luiz, com fotografia do Paulo Delfini e participação do artista visual Saulo Metria, falando de uma cooperativa que, além de ser extremamente importante, tem uma memória afetiva na cidade. Quem é da cidade conhece a coleta seletiva. Onde eu moro passa na terça de manhã. A gente está lá no fundo e de repente ouve a moça gritar ‘coleta’. Sua poesia e importância social fizeram com que eu o escolhesse. Ele precisa ser visto em todos os níveis”, declarou.
Ela explica que a audiodescrição existe desde a década de setenta, mas chegou com mais força ao Brasil nos anos noventa. A profissional ressalta que a tradução de imagens informativas em palavras proporciona independência, não somente a pessoas com deficiência visual, mas também a pessoas idosas, com autismo ou algum tipo de deficiência intelectual.
“Cerca de 80% das informações que recebemos são imagéticas. Então, se pensarmos em uma pessoa com deficiência visual, imagine o quanto ela está perdendo de informação. O profissional da audiodescrição transforma essas imagens em palavras, para que essa pessoa possa conversar de igual pra igual com a gente sobre determinado filme ou determinado livro”, acrescenta Nara.
Segundo a profissional, mesmo pessoas que não têm nenhum tipo de deficiência podem ser favorecidas pela audiodescrição, porque ela visa a ampliação do entendimento de uma obra. “Se você escuta uma audiodescrição de um quadro, por exemplo, terá uma apreensão imagética mais completa daquilo que está sendo mostrado”, explicou.
EQUIPE
Para produzir a audiodescrição do documentário Acácia, Nara Marques contou com uma equipe que tinha um audiodescritor roteirista, um outro audiodescritor consultor, que tem deficiência visual e avalia se as descrições funcionam antes da finalização, um narrador, que no caso foi a própria Nara, um outro locutor, e uma revisora.
“Quando fiquei sabendo da premiação, chorei muito. A Acácia chegou até Recife. A questão da acessibilidade ainda é uma luta, não somente para as pessoas com deficiência visual. Espero que quem ainda não viu esse curta vá ver agora”, finalizou.
A Cooperativa de C atadores (Acácia) é um projeto que surgiu em 2001, por iniciativa de um grupo de catadores de materiais reciclados liderados por Helena Francisco da Silva. Ela montou a associação para melhorar as condições de trabalho e renda de quem dependia do lixo para sobreviver. Hoje, a Acácia tem 200 associados, sendo que 75% são mulheres arrimo de família. (Com Gabriela Martins)