Durante sessão da Câmara de Araraquara, nesta terça-feira (15), vereadores manifestaram apoio aos coletores de resíduos sólidos, após novo modelo de trabalho imposto pela Justiça.
Representantes da empresa Urban, terceirizada para fazer o serviço de coleta na cidade, usaram a Tribuna Popular para explicar as dificuldades para cumprimento da decisão judicial.
Antes mesmo da sessão, os representantes participaram de reunião com o presidente da Câmara, Aluísio Braz, o Boi (MDB) e outros parlamentares que buscam solucionar o impasse.
“Nossa finalidade é conseguir que os profissionais, por meio da Câmara Municipal, tenham a possibilidade de explicar a dificuldade da nova forma de trabalho ao promotor do MPT. Queremos deixar claro que não é má vontade dos funcionários de seguir a determinação; é falta de condição para isso, o que pode gerar um estado de calamidade no município, ainda mais durante uma pandemia, já que os coletores não conseguirão recolher todos os resíduos com a mesma agilidade de antes e estão cogitando suspender os trabalhos até conseguirem uma alternativa à nova determinação”, disse Boi.
Os vereadores Hugo Adorno (Republicanos), João Clemente (PSDB) e Luna Meyer (PDT), que participaram da reunião, apoiam o movimento de levar a problemática ao MPT, solicitando um acordo que não prejudique os funcionários e nem a população da cidade pela falta da realização adequada do serviço.
TRIBUNA POPULAR
Mais tarde, o assunto foi abordado na Tribuna Popular, pelos representantes dos coletores, que, acompanhados de um grupo de trabalhadores, apresentaram a questão a todos os vereadores e à sociedade, por meio da transmissão da TV Câmara.
ENTENDA O POSICIONAMENTO
O novo modelo de trabalho, determinado pela Ação Civil Pública do MPT, estabeleceu que o recolhimento do lixo não seja mais realizado com o coletor subindo e descendo do estribo, isto é, da plataforma anexada à traseira do caminhão, durante a coleta.
Por isso, no dia 27 de janeiro, o Departamento Autônomo de Água e Esgotos (DAAE), responsável pelo serviço, começou com a nova rotina, utilizando caminhões sem o estribo, com os coletores entrando e saindo da cabine do caminhão após coletarem os sacos de lixo.
De acordo com os representantes dos trabalhadores, a nova modalidade mostrou-se mais exaustiva e menos eficiente, e o modelo foi abandonado poucos dias depois.
Nesta terça-feira (15), a Câmara Municipal foi notificada pelo DAAE de que o MPT indeferiu uma solicitação de audiência conciliatória da parte da autarquia e estipulou uma multa diária de R$ 500 para o DAAE e outros R$ 500 para o superintendente, Donizete Simioni, por cada dia em que a coleta tenha sido realizada com os estribos.
O MPT também exigiu o retorno ao novo modelo a partir desta terça-feira (15).
Os coletores de resíduos sólidos não concordam com a medida. Para Conceição, o estribo é o único momento de “descanso” do coletor, tanto que é chamado de “plataforma de descanso” pelos trabalhadores.
“É exaustivo entrar e sair da cabine do caminhão ou do carro de apoio que vai atrás do caminhão a cada lixeira, além de atrapalhar o trânsito, causando estranhamento na população e constrangimento dos coletores. Outra possibilidade é o profissional ir apenas correndo atrás do caminhão durante todo o trajeto, o que o coletor não consegue fazer, devido à distância, que é de cerca de 30 km por setor”, explicou.
Após um dia seguindo a nova diretriz, os funcionários apontaram a impossibilidade de cumprir a nova diretriz e recolher todo o lixo da cidade.
“Normalmente, coletamos em média 200 toneladas de resíduos, mas, com esse novo modal, reduzimos em 50% a nossa capacidade de coleta. Nunca havíamos deixado lixo na rua antes”, enfatizou o gerente.
Para Gouvêa, o estribo não oferece riscos aos funcionários. “Em 16 anos de experiência, eu nunca presenciei um acidente por causa dessa prática. Na verdade, o estribo já salvou muitas vidas, pois, por diversas vezes, quando um carro vem na direção do coletor, ele sobe na traseira do caminhão e não é atropelado.”
De acordo com os representantes da empresa de coleta, atualmente, são dez caminhões que realizam a operação, sendo dois de reserva, e 23 coletores por turno.
MOÇÃO DE APOIO
Ainda nesta terça-feira, o presidente da Câmara Municipal protocolou um requerimento, manifestando apoio aos trabalhadores que realizam a coleta de resíduos sólidos e sugerindo que o Poder Executivo, o Departamento Autônomo de Água e Esgotos, o Poder Legislativo, as Promotorias da Saúde, do Meio Ambiente e do Trabalho, além do próprio Ministério Público do Trabalho deem voz aos trabalhadores, em uma reunião a ser marcada de forma emergencial, para que a cidade não sinta os prejuízos de uma longa paralisação dos serviços.