Cultos e liturgias de matriz africana foram declarados, nesta terça-feira (10), como patrimônios culturais imateriais de Araraquara. O tema foi discutido na Câmara e teve apenas três votos contrários – de Emanoel Sponton (Progressista), Lucas Grecco (PSL) e pastor Hugo Adorno (Republicanos).
A autora da proposta, Filipa Brunelli (PT), defendeu que a Constituição Federal ampliou a noção de patrimônio cultural ao reconhecer a existência de bens culturais de natureza material e imaterial, de bens culturais que são referência para grupos da sociedade.
Na justificativa, a parlamentar apresentou que dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil é o país com mais descendentes africanos fora da África, totalizando o contingente de 56,02% da população preta ou parda.
“Não é exclusivamente na cor da pele que os traços africanos surgem na sociedade brasileira, estes também contribuíram com diversos aspectos da cultura do país, comidas, músicas e religiões são outros exemplos da herança africana no Brasil”, explicou.
“Neste último caso, em específico, a fé brasileira teve grande influência das doutrinas afro. Além do Candomblé e da Umbanda, às duas religiões afro-brasileiras mais conhecidas, existem ainda outras que possuem um viés afro em suas características como a Jurema, também conhecida como Catimbó, e o Xangô”, completou.
A parlamentar defendeu ainda que de uma perspectiva histórica, a religiosidade foi vista pelos colonizadores europeus e cristãos como perigosas expressões de idolatria e pecado, que deviam ser convertidas para o catolicismo e garantir salvação das almas dos escravos.
“Ainda hoje persiste essa visão que associa expressões religiosas afro-brasileiras como o candomblé e a umbanda a ritos demoníacos de feitiçaria. Destarte, torna-se imprescindível a transformação em patrimônio cultural imaterial da Cidade de Araraquara, todas as religiões de matriz africana, de modo a proporcionar maior exposição e importância as mesmas, gerando maior conhecimento e consequentemente maior respeito pela população”, finalizou.
Após posicionamento de outros vereadores, o tema foi colocado em votação, com apenas três votos contrários: Emanoel Sponton, Hugo Adorno e Lucas Grecco. O vereador Lineu Carlos de Assis (Podemos) estava ausente e por isso, a votação terminou por 13 a 3.
O assunto também foi abordado logo no início da sessão, onde Claudia Augusta Mathias Santos, credenciada pela Associação Brasileira dos Religiosos de Umbanda, Candomblé e Jurema (Abratu) Araraquara, participou da Tribuna Popular para apoiar a proposta.