Em segunda parte de entrevista, prefeito fala sobre controle da pandemia e desafios para retomar geração de empregos
Na segunda parte da entrevista ao ACidade ON, o prefeito de Araraquara, Edinho Silva (PT), fala sobre o enfrentamento à covid-19, flexibilização das atividades econômicas, bem como o receio de que a variante Delta possa chegar ao município.
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Outro ponto abordado por Silva é o crescimento da pobreza, bem como o foco do município no enfrentamento da crise social gerada pela pandemia. Um dos pontos mencionados por ele é a vinda da cervejaria Estrella Galícia, que estaria prestes a anunciar unidade na cidade.
CONFIRA A SEGUNDA PARTE DA ENTREVISTA COMPLETA DE EDINHO SILVA:
ACidade ON: Falando em enfrentamento à covid-19, a cidade experimenta agora a flexibilização gradual, mas há receio de que a variante Delta chegue a Araraquara?
Edinho Silva: Estamos muito preocupados, tanto é que voltamos com muita cautela. Estamos ainda com muitas restrições nesse retorno e vamos aguardar o impacto da Delta aqui em Araraquara para saber quais medidas vamos tomar.
Não desmontamos o hospital de campanha, estamos redirecionando leitos na unidade do Melhado, mas também não desmontamos nada. Não desmontamos a estrutura da Vila Xavier, enfim, estamos mantendo a estrutura montada com cautela, responsabilidade, até sabermos efetivamente o que vai representar a Delta.
O que fizemos e tem que ser ressaltado é que nesse último lockdown ganhamos tempo, a contaminação caiu, ela está em baixa até hoje e abrimos 29 postos de vacinação. Ou seja, Araraquara tem uma celeridade em vacinar que poucas cidades do interior de São Paulo têm, tanto é que ultrapassamos 84% da população que tomou a primeira dose da vacina.
Portanto, 84% já vacinado e estamos chegando ou ultrapassando 36% dos imunizados. Isso faz com que estejamos em uma situação mais confortável para enfrentar a Delta, porque a imensa maioria da nossa população já teve contato com a vacina, portanto, diminui o risco de avanço da doença, a não ser que a pessoa tenha uma comorbidade grave, uma debilidade de saúde por outros motivos e nós estamos chegando aí a praticamente toda população imunizada.
Isso faz com que Araraquara esteja melhor preparada para o enfrentamento da Delta. Mas isso, claro, não significa que vamos baixar totalmente a guarda em relação a ela, pois não sabemos o impacto na cidade. Tomamos todas as providências para que o impacto seja baixo, mas só quando efetivamente essa nova variante chegar a Araraquara é que nós vamos saber.
ACidade ON: Há um impacto social da pandemia, com aumento da pobreza e do desemprego. O senhor chegou a anunciar alguns investimentos, como a Estrella Galícia e outlet. Como estão?
Edinho Silva: Primeiro temos que preparar a cidade para essa retomada da atividade econômica e continuar cuidando da população mais vulnerável, que teve sua situação de vulnerabilidade agravada durante a pandemia.
É público na cidade que a Rede de Solidariedade funciona. Dificilmente um caso de família que esteja em dificuldades chega até nós e em questão de horas essa demanda não é atendida. É difícil e raro. Só se demorar a chegar, mas chegando a Prefeitura atende. Já atendemos mais de 25 mil famílias com apoio alimentar. Essa tem sido nossa prioridade, além de enfrentar o vírus, a vulnerabilidade social. Claro, Araraquara precisa retomar seus investimentos e crescimento.
Estamos com empresas grandes prospectando Araraquara e uma delas todos sabem que está muito adiantado. Estávamos disputando com outras cidades e Estados e isso praticamente foi superado, a cidade é Araraquara, mas claro, estamos aguardando e hoje [sexta-feira] está ocorrendo uma reunião importante nesse sentido para que se formalize a compra da área.
Comprando a área praticamente essa decisão estará tomada. Estive na terça em uma reunião com a Rumo em São Paulo e são R$ 800 milhões que a empresa está investindo na cidade, deve chegar a 700 funcionários aqui, são investimentos vultuosos agora no meio da pandemia, temos o outlet que o projeto havia sido aprovado, mas eles pediram uma mudança de área e a Prefeitura está avaliando o projeto nesse novo local, também com um investimento muito importante e tem mais coisas acontecendo.
Inclusive esse final de semana a cidade será visitada por empresários e investidores, tenho uma parte da minha agenda que será consumida neste sentido, então estou muito otimista, pois Araraquara vai gerar empregos, penso que essa é nossa prioridade. Precisamos gerar empregos para que possamos superar esse momento difícil que passamos na pandemia.
ACidade ON: Além do setor privado, o público também sentiu nos cofres o impacto da pandemia. Além disso, há concentração do investimento na saúde, como está lidando com esse cenário?
Edinho Silva: Com muita humildade digo que o fato de ser prefeito pela quarta vez, hoje faz diferença. A experiência que tenho hoje, não só nas quatro vezes como prefeito, mas de outras experiências de gestão pública que tive ajuda muito.
Já empenhamos só de gastos covid cerca de R$ 67 milhões, no ano passado nós recebemos R$ 29 do Governo Federal para ajuda ao enfrentamento à covid, isso de recursos extras que o município recebeu.
Este ano não recebemos, os únicos recursos extras, repito, foi do Governo do Estado de São Paulo que ajudou, mas claro, está muito longe de equacionar as despesas que a Prefeitura está tendo.
Não tínhamos outro caminho a seguir, para a população saber, mantivemos com recurso próprio praticamente, com as ajudas do Governo do Estado e depois mais tarde com o recredenciamento SUS dos leitos de covid, mantivemos 120 leitos que foram criados. 120 leitos a mais.
Claro que isso é como se o município estivesse arcando com um hospital novo, que é um pouco a realidade do hospital de campanha e Melhado. Os gastos com a UPA da Vila, ampliamos também o atendimento em várias unidades regionalizadas para que pudéssemos dar conta naquele momento difícil da pandemia, então são gastos importantes que temos que equacionar e é o que estamos fazendo agora, equacionando as despesas, buscando melhorar nosso equilíbrio entre arrecadação e despesa, buscando recursos novos o tempo todo, porque só para a população entender nós estamos gastando 44% na Saúde, enquanto a Constituição Federal diz para gastar 15.
Estamos gastando 44%. É um gasto vultuoso e importante, mas estamos trabalhando para equacionar. Agora, repito, não tínhamos outro caminho. Araraquara escolheu o caminho de não permitir desassistência, portanto, nenhum paciente entrou em óbito na cidade sem que tivesse sendo atendido, sem assistência médica.
Não vou fazer nenhuma crítica, mas tivemos cidades da região com dezenas, inclusive contabilizados pela própria imprensa. Dezenas de pessoas que foram a óbito sem direito a leito. Essa realidade aqui nunca existiu e certamente temos uma das maiores testagens do Estado de São Paulo, para que pudéssemos buscar a doença, pois o sintomático bate a nossa porta.
Fomos atrás do doente assintomático porque ele também transmite e só fazemos isso com testagem. Temos equipes de bloqueio, o povo de Araraquara sabe, a Vigilância vai à casa, temos a telemedicina que as pessoas ligam. Isso que estou falando as pessoas de Araraquara vivenciou, então foi uma estrutura montada que custa, mas que fez com que salvássemos vida.