O Médico e ex-vereador, Luís Cláudio Lapena Barreto, conhecido como Dr. Lapena (PL), abriu a série de entrevistas promovida pelo portal acidade on com os candidatos a prefeitura de Araraquara, na tarde desta terça-feira (10), na sede da EPTV, em São Carlos.
Até o próximo sábado (14), os candidatos na disputa serão sabatinados por 12 minutos. A entrevista é transmitida ao vivo, às 13h, pelo canal do acidade on no Youtube e, na sequência, disponibilizada em texto e vídeo.
Durante o seu tempo, Dr. Lapena falou sobre projetos para reduzir as filas na Santa Casa e ampliar as ofertas de leitos e exames, educação, com escolas e creches em período integral, eficiência da máquina pública e valorização dos servidores municipais.
CONFIRA A ÍNTEGRA DA ENTREVISTA
acidadeon: Por que ser prefeito de Araraquara?
Dr. Lapena: Eu tenho um sonho, acredito numa política diferente da que tem sido feita na nossa cidade, inclusive no nosso país. Vejo que podemos ser agentes transformadores, utilizando a prefeitura como se fosse uma empresa, nunca esquecendo o social, porque temos que pensar em primeiro lugar na população, nas pessoas, mas utilizar cada centavo do dinheiro público em benefício do município e em benefício da população. Então, esse sonho e essa possibilidade de mudança é o que me movem em relação a esse desafio.
acidadeon: Um dos gargalos hoje da administração pública, não só de Araraquara, mas de praticamente todo o Brasil, é a saúde pública: fila por exames, demanda por internação. Como médico, o que o senhor faria de diferente da atual administração e o que faria para resolver esses problemas?
Dr. Lapena: Em Araraquara, faltam muitas coisas na área de saúde, mas o principal é o número de leitos. Temos hoje uma Santa Casa que presta um atendimento de excelência, mas que está sobrecarregada. Pretendemos trazer para Araraquara a construção de um hospital municipal, que faria atendimentos de baixa complexidade. Nesse hospital, as pessoas com doenças não tão graves seriam internadas e tratadas: pequenas cirurgias, pequenas cirurgias ortopédicas, tumores, câncer de pele. Então, tiraríamos da Santa Casa milhares de pessoas durante o ano, que teriam um atendimento rápido e de qualidade dentro deste hospital municipal, e a Santa Casa teria espaço de internação, de UTI, de centro cirúrgico para realizar as cirurgias de média e alta complexidade, que eles já fazem tão bem.
Temos outros sonhos também em relação à saúde, queremos reabilitar o hospital Cairbar Schutel, porque temos na nossa região, principalmente depois da pandemia que afetou muito emocional das pessoas, casos que precisam de tratamento psicológico, psiquiátrico e o Cairbar é um hospital fantástico, que é subutilizado. Então, a reestruturação do Cairbar, com o apoio da prefeitura, para que possa atender a nossa população com transtornos mentais, que não precisem as famílias tem que visitar 100, 200 quilômetros de distância.
acidadeon: Ainda há outra perspectiva da saúde pública que é a questão de levar serviços a bairros que estão surgindo, como o Jardim Ipanema, e que ainda não têm uma unidade de saúde para chamar de sua, que vão precisar de escola, creche. Como levar esses serviços para essa população?
Dr. Lapena: Temos que fazer gestão do dinheiro público para que tenhamos esse dinheiro para o custeio dos profissionais que vão ali trabalhar e buscar parcerias e convênios com o governo estadual, com o governo federal, para que possamos construir e equipar essas unidades. Sou a favor de todas as unidades básicas de saúde sejam o PSF [Programa Saúde da Família], que tenhamos os agentes comunitários de saúde indo conhecer a vida das pessoas nas suas casas, ver as necessidades que ela tem. Porque se você resolver a saúde primária através da UBS [Unidade Básica de Saúde], vai ter muito menos gente na UPA [Unidade de Pronto Atendimento], que está sobrecarregada. E, muitas vezes, a pessoa fica dias na UPA aguardando uma vaga de internação ou vai para Santa Casa e fica numa maca aguardando uma possibilidade de ter um quarto e passar por uma cirurgia. Então, assim, com as UBS virando PSF, agente comunitário de saúde buscando atender as pessoas, levando medicamento, um hospital de baixa complexidade, o Cairbar sendo reabilitado.
E temos um índice que me chocou: a mortalidade infantil, segundo a secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, que era 4.6, aproximadamente, em 2022, foi para 14.6. Por que é que os nossos bebês estão morrendo? O que está acontecendo em Araraquara que a mortalidade infantil mais do que dobrou? Então, temos a possibilidade aventada de se criar um programa que se chama Mãe Querida. Ele vai acolher a gestante desde o diagnóstico de gravidez. Ela vai ser acompanhada durante toda a sua gestação, com a agente comunitária de saúde acompanhando, vendo as condições nutricionais. Pretendemos ter o maior programa alimentar da história da nossa cidade, em parceria com os nossos produtores da agricultura familiar, e essas pessoas vão ser suplementadas. Como que uma gestante pode passar necessidade alimentar? Vai interferir com a sua saúde, vai interferir o desenvolvimento do bebê.
Vamos potencializar a gota de leite para que esse parto seja realizado com todas as condições ideais. A Gota de Leite é um hospital de excelência e tem uma equipe super especializada, tem uma UTI super especializada. Vamos tratar esses bebês desde o momento em que eles nasceram até a evolução nas creches.
Eu digo que em Araraquara, 50% das crianças ficam em tempo parcial. Temos que entender as creches para o período integral, porque a mãe está trabalhando o dia inteiro e alguém tem que buscar a criança na creche. Então, o foco da saúde envolve muitas situações. Mas se não tivermos um hospital que desafogue a Santa Casa, se não tivermos o PSF com agente de saúde na casa da pessoa entendendo o problema, vamos continuar com UPA lotada e com um hospital lotado.
E a questão, em parceria com o governo do Estado, de trazer o ‘Poupatempo da saúde’, que é uma unidade que vai ter os especialistas, que são uma das grandes falhas da nossa saúde hoje – tem o clínico generalista, mas não chega ao especialista. Então, dentro do ‘Poupatempo da saúde’, um atendimento rápido com as especialidades, e o nosso laboratório municipal, onde os exames serão colhidos e realizados, porque a pessoa passa numa consulta, o pedido de exames leva meses. Qual o sentido de você fazer um exame meses depois se você quer tratar um estado agudo? Então, no ‘Poupatempo da saúde’, a pessoa é atendida, colhe os exames, em breve tem o resultado, em breve tem o retorno. Vamos investir para que as pessoas em Araraquara tenham uma saúde de qualidade.
acidade on: O senhor menciona essa questão do período de tempo integral nas creches e esse hoje é também um gargalo. Dados da própria prefeitura colocam que 200 crianças estão na fila por uma vaga em creche. Como atender essa demanda?
Dr. Lapena: A responsabilidade é do prefeito. O prefeito tem que criar novas creches, tem que contratar mais profissionais, tem que dimensionar esse atendimento para que seja de qualidade, com os cuidados, com a alimentação, com a saúde. Então, são responsabilidades que o prefeito tem e que não pode delegar para as outras. Nascem muitas crianças em Araraquara e essas crianças vão nascer e precisam de creche. Então, você tem aí três mil crianças que nasceram e eu não vou colocar? Não, eu vou fazer um planejamento para que quando essas crianças forem nascendo, vamos ter essa estrutura pronta. A criança vai ficar de três a quatro meses com a mãe, depois a mãe vai trabalhar, essa creche tem que estar com a vaga pronta para ela.
acidade on: O plano de governo do PL e, até pelo campo do que o senhor tem se apresentado nas eleições, coloca para a educação a implantação das escolas cívico-militares. Como é que isso se daria na prática em uma escola municipal? Como é que o PL enxerga a viabilidade dessa proposta?
Dr. Lapena: Precisamos ter uma escola cívico-militar, não todas. Precisamos ter em Araraquara escolas de período integral, com um período utilizado para o conhecimento, o currículo escolar, e o outro período para atividades lúdicas, de lazer, de esporte. Então, as nossas escolas têm que atender em período integral as crianças e podemos ter, em parceria com o governo do Estado, uma escola cívico-militar. Não posso impor que todas as escolas sejam desse modo. Então, vamos ter uma escola cívico-militar, que tem o ingresso através de uma prova e quem tiver interesse em colocar o filho vai participar dessa seleção. Agora, todas as outras crianças da cidade têm que ter a possibilidade de uma escola normal, mas de período integral. Eu não quero criança na rua.
acidade on: A gente falou já sobre a criação de equipamentos na saúde, equipamentos na educação, falando de conta pública: o cenário hoje da prefeitura é de dificuldades para equilibrar receitas e despesas. A gente tem uma dívida de longo prazo de quase R$ 500 milhões, precatórios, que são dívidas trabalhistas de quase R$ 200 milhões, e restos a pagar desse ano de mais de R$ 190 milhões. Onde buscar recurso? Como trazer esses recursos para sair dessa saia justa do orçamento?
Dr. Lapena: Então, quase um R$ 1 bilhão de dívidas no orçamento de aproximadamente R$ 2 bilhões. Não conseguimos recurso para pagar essa dívida, conseguimos recurso para construções, para obras, para aparelhamento, para equipamento. Então, isso tem que sair do caixa da prefeitura. Você vai receber dois bilhões, saiba administrar esse dinheiro que tá entrando para pagar essas contas. E digo mais, a responsabilidade seria de pagar de quem fez a conta, que vai passar essa bola pra frente. Só que quando você assume, tem que estar preparado para enfrentar esse desafio. Então, cada centavo do dinheiro dos impostos do contribuinte será supervalorizado. Vamos enxugar a máquina, vamos diminuir esse grande número de secretarias, de comissionados, de carros alugados. A prefeitura tem que ser enxuta pra você poder valorizar o servidor, pra você poder qualificar, dar oportunidade dele se aprimorar, para ele prestar um serviço de melhor qualidade. Então, tudo vai ser na gestão das finanças do município para sobrar dinheiro, para pagar a dívida, pagar o precatório, que é uma vergonha. É uma dívida da prefeitura que ela empurra com a barriga. Isso vem de longa data.
acidade on: Em relação ao funcionalismo público, qual é o plano para a valorização desses profissionais?
Dr. Lapena: Temos que rever o PCCV [Plano de Cargos, Carreiras e Vencimentos] e a maior reclamação deles qual é? É o salário, é o ticket. Agora, se o teto prudencial já foi atingido, precisamos ter uma maneira ou de aumentar a arrecadação, o que, para mim, não é questão… A questão principal não é gerar imposto, como tem sido feito com frequência, é administrar o dinheiro dos impostos. Então, se fecharmos essas torneiras que estão jorrando, vamos ter dinheiro, não só para ir pagando as contas, mas também para valorizar o servidor. E valorizar é dar condições de trabalho, é permitir que não haja desvio de função, é ter o reajuste real, é ter um ticket decente, que ele possa alimentar a sua família. Mas volta ao ponto inicial: se não fechar as torneiras, é impossível fazer.
acidade on: Para concluir a entrevista, você pode fazer as suas considerações finais.
Dr. Lapena: Araraquara é uma cidade maravilhosa, mas que tem 25% das famílias em vulnerabilidade social, necessitando dos CRAS [Centro de Referência de Assistência Social] e isso vem aumentando. Temos uma população de rua e muita gente que perdeu família, muita gente que perdeu casa, perdeu os bens na pandemia. Temos que resgatar essas pessoas. Nós vamos entrevistar essas pessoas com grupos específicos, pequenos. Queremos entender as necessidades, queremos que essas pessoas possam estar de volta com suas famílias, possam ser reinseridas na sociedade e que elas não fiquem abandonadas na nossa rua. No nosso governo, ninguém vai ficar para trás.
ERRATA: O valor dos restos a pagar pela prefeitura de Araraquara é de R$ 120 milhões. Na pergunta ao candidato, o valor de R$ 190 milhões foi citado equivocadamente.
CONFIRA A ENTREVISTA EM VÍDEO
SÉRIE DE ENTREVISTAS
A partir desta terça-feira (10), o portal acidade on realiza uma série de entrevistas com os candidatos à prefeitura de Araraquara. O objetivo é garantir que o eleitor conheça melhor suas propostas antes de irem às urnas no dia 6 de outubro.
Na próxima quarta-feira (11), a ex-secretária municipal de Saúde, Eliana Honain (PT) será entrevista. (Confira a ordem das entrevistas no fim da matéria).
ORDEM DAS ENTREVISTAS
- Quarta-feira (11) – Eliana Honain – PT
- Quinta-feira (12) – Marcos Cesar Garrido (Dr. Marcos Garrido) – PSD
- Sexta-feira (13) – Pedro Tedde – NOVO
- Sábado (14) – Tiago Pires – PCO