Guilherme Bianco (PCdoB), vereador em primeiro mandato na Câmara Municipal, aprovou neste ano quatro leis ordinárias e apresentou 316 indicações e 131 requerimentos ao Executivo.
Ele destacou ações como a intermediação quase R$ 2 milhões em emendas para Araraquara, nas áreas da Saúde, Infraestrutura e Economia Criativa.
O vereador também falou da conquista de mais um núcleo dos Cursinhos Populares e de sua luta para levar o Ensino Médio ao distrito de Bueno de Andrada.
Confira a entrevista na íntegra:
acidadeon – O senhor aprovou este ano quatro leis ordinárias. Como avalia sua atuação e cite, por favor, outras iniciativas feitas por seu mandato em 2021?
Guilherme Bianco – Em 2021 nós conseguimos colocar em prática muito daquilo que falamos e pensamos de forma coletiva durante a campanha eleitoral: defender a vida, combater a pandemia, apoiar a Educação, buscar alternativas para geração de emprego e renda e, acima de tudo, defender a Democracia – que tem sido tão atacada por Bolsonaro.
Gostaria de destacar nossa atuação na área da Educação, que é minha pauta prioritária, justamente por compreender que ela é uma ferramenta de transformação social, de independência pessoal e desenvolvimento de toda a comunidade. Eu propus e fui presidente da Comissão Parlamentar de Fiscalização do Retorno às Aulas Presenciais, na qual tive a oportunidade de conhecer de perto a realidade da nossa rede municipal de Educação, dialogar com nossos servidores, comunidades escolares e, para que tivéssemos um retorno mais seguro às atividades presenciais, acolher as mais diversas demandas de cada unidade. Nesse sentido, aprovamos uma emenda ao Orçamento de 2022 que garante a contratação de Assistentes Administrativos para todos os Centros de Educação e Recreação (CERs), além de cobrar a informatização das escolas, a reforma e ampliação de várias unidades.
Ainda na Educação, apresentamos e conquistamos junto à Prefeitura a abertura de mais um núcleo dos Cursinhos Populares, que será no Jardim Selmi Dei, já em 2022. A partir disso, queremos seguir levando a educação popular para diversos bairros de nossa cidade. Ademais, me somo à luta para levarmos o Ensino Médio para o Distrito de Bueno de Andrada: aprovamos um requerimento na Câmara e estamos em conversas com a Prefeitura e o Governo do Estado.
Tenho procurado fazer um mandato que esteja conectado aos sentimentos e as demandas concretas da nossa população, sempre dialogando com os movimentos sociais, visitando os bairros e conversando com as pessoas.
Além de cobrar e fiscalizar o Executivo para que as políticas públicas funcionem, tenho construído uma agenda de expansão de direitos para os cidadãos, atuando em várias áreas de nossa cidade, como na Educação, no Desenvolvimento Econômico e Urbano e Transporte Público. Nesse sentido, apresentei projetos de lei que significam esses avanços, como o PL do 5G, dos Bicicletários, do REFIS do DAAE e do passe-livre permanente para Pessoas com Deficiência, por exemplo. Além dos Projetos de Lei, fizemos emendas ao orçamento da Prefeitura e trouxemos R$1,97 milhão em emendas parlamentares para saúde, infraestrutura e economia criativa.
acidade on – Em 2021 houve maior polarização política na Câmara, com a discussão de temas nacionais. Em sua avaliação, como esses assuntos contribuem para a vida do araraquarense?
Guilherme Bianco – A polarização política na Câmara existe porque a sociedade está polarizada, e tendo em vista que os vereadores são os agentes políticos mais próximos da população, essa disputa ideológica, natural da política, manifesta-se de forma mais incisiva na Câmara de Vereadores. Estamos passando por um momento histórico onde a disputa é sobre qual Brasil nós queremos. De um lado está o governo Bolsonaro, o pior da nossa história, não apenas pelo negacionismo, pela maneira como conduziu o país na pandemia, por não ter seguido a ciência e ser contra a vacina. Mas pelo seu caráter autoritário e antinacional, que ataca todos os dias as liberdades e os direitos sociais. Do outro lado deve estar uma ampla frente, uma alternativa que defenda o Brasil, a democracia, a vida, a ciência, o SUS, a educação e os trabalhadores.
O Brasil tem vivido uma crise gravíssima: a pandemia levou mais de 600 mil vidas, o desemprego aumenta dramaticamente, a inflação e o preço dos combustíveis não param de crescer. Enquanto isso, o salário mínimo está congelado e os programas sociais estão acabando, não obstante com o cenário do Brasil voltando ao mapa da fome e a concentração de renda crescendo em níveis obscenos. Tudo isso faz parte do projeto de Bolsonaro. Não há uma área da vida brasileira em que as coisas estão indo bem.
É importante compreendermos que a política nacional impacta diretamente toda a população, e Araraquara não é diferente. Quando os municípios mais precisaram do Governo Federal para conter a covid-19, a resposta do Palácio do Planalto foi a omissão, a sabotagem contra a vacina e a divulgação de remédios sem eficácia. Essa conjuntura também teve impacto em Araraquara. Contudo, a ampla maioria defendeu a vida, a vacina e as medidas de restrição tão necessárias naquele momento.
Nossa cidade hoje tem mais de 20 mil famílias no Cadastro Único e o fim do Auxílio Emergencial impactou diretamente nossa população. Acrescenta-se também a falta de apoio aos pequenos e médios empresários por parte do governo federal, negligência que contribuiu para o cenário de desemprego. Em um momento como esse é uma irresponsabilidade sem tamanho deixar toda essa crise nas costas dos municípios. O Governo Federal deveria ter liderado nossa nação para salvarmos vidas com grande financiamento na saúde, apoiando as prefeituras, mantendo o auxílio emergencial de R$ 600. Mas nada disso foi feito, nem um comitê regional de contingência da covid-19 tivemos. Cada cidade atravessou sozinha esse momento.
Tenho buscado construir consensos com os mais diferentes setores e partidos para defender a democracia e ajudar nossa população, gerando emprego e promovendo oportunidades. É possível construir um país que seja solidário, com justiça social, ambientalmente sustentável e com um desenvolvimento econômico que dê oportunidades para todos. Queremos um Brasil que seja profundamente democrático.
acidadeon – Há a possibilidade da instalação de uma praça de pedágio no limite dos municípios de Araraquara e Ibaté. Como está trabalhando esse tema? É favorável ou contrário e por quê?
Guilherme Bianco – Sou absolutamente contrário à instalação do Pedágio em Araraquara e me posicionei contrário por várias vezes durante as sessões. Nessa luta, participei de todas as audiências públicas que aconteceram em nossa região, puxei um abaixo-assinado virtual com milhares de assinaturas e entreguei à Artesp, além de denunciar essa proposta nas redes sociais e em panfletagens no centro da cidade. Penso que não há qualquer justificativa razoável para que isso aconteça, ainda mais com o completo descontrole no preço dos combustíveis.
Esse projeto afetará a vida de toda nossa região, sobretudo dos milhares de trabalhadores, caminhoneiros, pequenos produtores e estudantes que percorrem esse trecho entre Araraquara, Ibaté e São Carlos diariamente. Esse pedágio é um ataque direto à vida da nossa população, ainda mais se analisarmos que os “investimentos” propostos serão diluídos em 30 anos, e que inúmeras melhorias propostas no novo contrato já eram promessas de décadas atrás, mas que nunca saíram do papel. No limite, essa ideia não trará nenhum investimento, não gerará um posto de emprego, pelo contrário, será mais uma barreira para o nosso crescimento. É importante lembrar que no mês passado todos os pedágios de nossa região já sofreram um reajuste de 10% nas suas tarifas.
A instalação do pedágio no quilômetro 255 da Washington Luís é contrária ao desenvolvimento regional e encarecerá o preço dos produtos feitos e vendidos em nossa região, além de desconsiderar a ligação umbilical que existe entre as nossas cidades. Não é aceitável que dois terços dos pedágios do Brasil estejam no estado de São Paulo e que tanto o governador quanto a Artesp pretendam aumentar esse número. Araraquara e toda região já se posicionou contrariamente à ideia. Seguirei nessa luta contra o pedágio até as últimas consequências: nosso povo não pode pagar o preço de uma política inconsequente.
acidade on – Após cinco meses, a Câmara ainda não iniciou os trabalhos propostos pela Comissão Especial de Inquérito (CEI) para investigar os gastos com a pandemia da covid-19. Qual sua avaliação sobre essa situação?
Guilherme Bianco – A transparência e o bom uso do dinheiro público devem ser um pilar de qualquer gestão. Acredito que a população tem o direito de acompanhar quanto, onde e como o dinheiro público é gasto, e devemos agir de forma a promover e garantir tal transparência. Eu sou favorável à CEI, e inclusive assinei o pedido de abertura desta investigação. Penso que os trabalhos desta comissão começarão em breve, uma vez que temos um quadro mais estabilizado em relação à pandemia e nossa campanha de vacinação já está muito avançada. Vamos apoiar as atividades da Comissão para que todas as dúvidas sejam sanadas e que nossa população saiba onde cada centavo foi gasto.
Naquele momento, quando a discussão surgiu, existia uma questão nacional sobre o assunto, com a CPI da COVID no Senado ganhando protagonismo. A questão central foi o uso mal intencionado dessa pauta em nossa cidade, como uma clara tentativa de desestabilizar e colocar em xeque as ações da Prefeitura e da Secretaria de Saúde no combate ao vírus, justamente no momento mais crítico da pandemia em nossa cidade. Nessa esteira, houve pedidos de Impeachment do Prefeito e de mandatos de Vereadores, incluindo o meu. Esses tristes fatos foram inéditos na história da cidade.
É notório que a Prefeitura, com um grande apoio da Câmara Municipal, saiu-se muito bem no combate à pandemia, tendo reconhecimento nacional e internacional. Araraquara defendeu a vida e a ciência, devemos nos orgulhar muito disso.
acidadeon – A retomada econômica, bem como zerar a fila da saúde e colocar em dia a educação de nossas crianças são os grandes desafios para o ano que vem. Como o senhor pode contribuir com soluções para essas situações?
Guilherme Bianco – Os últimos dois anos têm sido extremamente difíceis para toda a população. Destacam-se os prejuízos causados pela alta no desemprego, a questão educacional e as filas da saúde. Como já tenho feito, seguirei na formulação de políticas públicas que sejam amplas e robustas, com impacto real na vida das pessoas. Em relação à geração de emprego e renda, além do incentivo às cooperativas e à economia criativa, penso que o PL do 5G, de minha autoria, poderá trazer grandes investimentos, gerando mais oportunidades de emprego em nossa cidade.
Já na Educação, várias saídas têm sido discutidas, mas penso que a centralidade deve ser a informatização das unidades, bem como a ampliação do quadro de servidores. Precisamos seguir traçando um planejamento de reforço dos conteúdos dos últimos anos para que não exista perda educacional nas crianças e adolescentes, além de progredirmos ainda mais na busca ativa dos estudantes que evadiram da escola. A luta pelo fim do analfabetismo e da evasão escolar deve ser a meta de Araraquara. A ampliação dos Cursinhos Populares, como já temos apontado, também faz-se uma medida importante para atenuar e sanar a perda educacional causada pela pandemia, reforçando os estudos e enfrentando o desafio do ingresso nas Universidades o qual ficou ainda mais complexo para os estudantes de escolas públicas.
Na saúde, a luta contra a pandemia segue sendo uma prioridade, e novas medidas para garantir que uma nova onda não tome conta de nossa cidade devem ser anunciadas, como o passaporte da vacina. Também, a Secretaria de Saúde deve aprofundar a política de mutirões de cirurgias eletivas e exames que estão parados há dois anos. É preciso resolver o problema da demora nas UPAs e de mais vagas nas UTIs. Nesse processo de retomada, a Saúde Mental deve entrar no centro do debate, aumentando a capacidade de atendimento, com reforço do quadro de trabalhadores e reformas nas unidades, ampliando as equipes dos CAPS, do CRASMA-A e do Espaço Crescer. As filas para o atendimento ambulatorial são muito grandes e tiveram um aumento substancial durante a pandemia.
Continuarei buscando emendas parlamentares e investimentos para nossa cidade com o objetivo de auxiliar a Prefeitura na execução desses projetos. Em 2021, trouxe cerca de R$ 2 milhões para diversas áreas, como para a compra de aparelhos auditivos no Centro Especializado de Reabilitação, para o recapeamento de vias públicas e para a economia criativa. Todos os vereadores também têm essa missão, tendo em vista que ampliar o orçamento é uma questão fundamental para mantermos os serviços públicos de nosso município funcionando com qualidade.
Nosso mandato terá um papel importante na discussão coletiva para construirmos saídas para esses problemas.