Nesta quinta-feira (24) é comemorado o Dia da Conquista do Voto Feminino no Brasil. Há 90 anos foi publicada a primeira legislação eleitoral brasileira reconhecendo o voto feminino e incluindo o voto secreto.
Em Araraquara as mulheres formam a maioria do eleitorado – 53,9% -, mas até hoje apenas 13 foram eleitas ou ocuparam cargos públicos através do voto popular (veja lista abaixo). Nunca a cidade elegeu uma prefeita
Na avaliação da doutora em sociologia Mirlene de Fátima Simões as nove décadas de direito ao voto pelas mulheres devem ser comemoradas, porém, considerou haver muitos desafios a serem superados.
Um deles é a representação da mulher na política, em especial nas casas legislativas brasileiras. Ela chamou a atenção para os dados de representatividades feminina em todo o País.
“São 20 eleições de 1932 até agora, em 2022, e dessas 20 conseguimos 10.658 vagas na Câmara dos Deputados. Apenas 4%. Vejam que mesmo somando esses 20 anos de eleições no Brasil, com permissão para que a mulher vote e seja votada atingimos 4% das vagas”, apontou.
Na avaliação da doutora em sociologia pela Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara (FCLAr) da Unesp, os números da representação política feminina são preocupantes.
“Um espaço de tomada de decisões, que envolve o projeto futuro de um país, se você não tem equidade e pensamentos que são ligados à Justiça e igualdade entre homens e mulheres, você não vai ter Justiça. Em um espaço onde você tem predominantemente homens, evidente que você vai ter também uma predominância de teses, discursos e também de direitos que são diferentes daqueles onde não está tendo a representação”, apontou.
“Temos que nos atentar muito e, principalmente, pensar nas novas gerações. Trazer as novas gerações para essa realidade, que também é lugar de mulher na política. Não é porque é um espaço bastante masculinizado, com representação de homens, que ele é um espaço unicamente de homens. Ele é um espaço de mulheres também, é que ainda não conseguimos acessar esse espaço da forma que deveria”, completou.
A especialista Mirlene Simões também pontuou a baixa representatividade de mulheres no Senado Brasileiro, que em 20 eleições teve somente 45 senadoras eleitas. Ela reforçou que a primeira senadora brasileira foi eleita somente em 1979.
“A primeira mulher senadora do Brasil se elegeu há apenas 40 anos, isso demonstra e é outro indicativo de que realmente a precisamos começar a construir novas opções e formas de participação, trazendo muito mais as mulheres para esse espaço de decisão”, ressaltou.
Além da garantia de que partidos políticos incentivem mais a participação das mulheres na política, uma das saídas apresentadas pela doutora em sociologia é a necessidade de financiamento exclusivo para as campanhas eleitorais femininas.
“Além da lista para que mulheres e homens tenham espaço garantido na eleição, que tenhamos também financiamento exclusivo para que possamos superar com mais rapidez essa discrepância dessa participação das mulheres e dos homens”, argumentou.
“Dados indicam, não só no Brasil, mas em outros países, de que o principal impeditivo das mulheres participarem da vida política se dá, principalmente, por conta do financiamento das campanhas e da vida dessas mulheres, que não tem como deixar ou diminuir a carga de trabalho ou tirar uma licença para se candidatarem, até porque parte delas são responsáveis pelo orçamento da casa”, finalizou.
A desigualdade na participação feminina na política reflete em Araraquara. Ao todo, somente 13 mulheres desempenharam funções no Legislativo, com destaque para Olinda Montanari – a primeira vereadora -, e Deodata do Amaral – a vereadora mais votada da história.
VEJA OS NOMES DAS ELEITAS EM ARARAQUARA
– Olinda Montanari foi a primeira mulher a assumir um cargo público, em 1956;
– Deodata do Amaral foi a vereadora mais votada até hoje, nunca bateram seus 4 mil votos
-Helenita Turci;
– Vera Bota;
– Geani Trevisoli;
-Márcia Lia;
-Edna Martins;
-Juliana Damus;
– Gabriela Palombo;
– Thainara Faria (primeira mulher preta eleita);
– Luna Meyer;
– Fabi Virgílio;
– Filipa Brunelli (primeira vereadora trans).