A audiência pública para debater a exigência do passaporte da vacina em Araraquara, nesta quarta-feira (02), foi marcada pela polarização entre favoráveis e contrários à medida.
O encontro realizado à distância durou mais de quatro horas, com participação de médicos, especialistas, representantes da sociedade civil e entidades de classe.
O primeiro a usar a palavra durante a audiência pública foi o professor Gonzalo Vecina Neto, ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) entre 1999 e 2003.
“É impressionante verificar o que acontece a partir do momento em que a vacinação consegue proteger uma quantidade importante de pessoas. Há uma queda abrupta”, pontuou.
Quem também participou como convidado foi o médico Eduardo Costa, pesquisador aposentado da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP).
“É fundamental ao lado da vacina ter serviços competentes para lidar com o processo de transmissão e orientar as pessoas e do ponto de vista educacional”, defendeu.
A secretária da Saúde, Eliana Honain, apontou que é possível verificar que a maioria dos casos de complicações em decorrência da covid-19 são de pacientes não vacinados.
“Não queremos com esse passaporte reprimir, punir ou multar. Queremos dar o direito daqueles que fizeram a opção de se vacinar de estarem seguros”, defendeu Honain.
O presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Araraquara (Sincomércio), Antonio Deliza Neto, apontou não ver necessidade de aprovação de uma lei para cobrar o passaporte.
“O direito do indivíduo que não quis ser vacinado deve ser respeitado e ele precisa de atividades essenciais, como serviços, comércios e saúde, que ele irá ficar inibido”, disse.
Durante sua fala, a diretora-geral do Hospital Estadual de Américo Brasiliense (HEAB), Maisa Cabete Pereira Salvetti, ressaltou a alta adesão dos araraquarenses à vacinação.
“Isso leva a uma reflexão de um impacto pequeno em termos de comércio, economia, se tiver realmente o passaporte vacinal. Podemos até ser mais frequentados pela segurança”, ressaltou.
Contrário a exigência do passaporte da vacina, o presidente da Associação Comercial e Industrial de Araraquara (Acia) José Janone Júnior, disse não ver razoabilidade na proposta.
“Em nosso entendimento em nada ajudará na proteção dos que já estão vacinados, mas em muito atrapalhará o convívio social e criará a segregação de uma minoria”, alertou.
Já o diretor do Departamento de Química da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Sidney José Lima Ribeiro defendeu a eficácia da vacina e ressaltou o papel da ciência na pandemia.
“É nosso papel em audiências como essa esclarecer a população. O passaporte vacinal trata da saúde da população. Seu direito termina quando a saúde da população está em risco”, disse.
Bruno Naddeo, diretor-regional do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), relembrou as restrições adotadas durante o enfrentamento da doença em Araraquara.
“Temos que discutir como fazer isso de forma correta e coesa, com bom senso e sem prejudicar ainda mais os setores que já foram severamente castigados”, apontou.
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Quem também defendeu a eficácia da vacina contra a covid-19 foi o epidemiologista Bernardino Alves Souto. Ele orientou sobre o uso de máscara e protocolos sanitários.
“Hoje o que temos são 630 mil mortos pela covid, talvez próximo a 20 milhões de sequelados e nenhum morto pela vacina. Esse é o dado técnico e científico”, considerou.
O doutor pela Universidade de São Paulo (USP) e médico otorrinolaringologista Carlos Eduardo Nazareth Nigro considerou a “vacina experimental” e disse ser contrário ao passaporte.
“Quem quer se vacinar, se vacine, mas saiba que não imuniza. O próprio vendedor de vacinas disse que não imuniza, tirando sua responsabilidade”, defendeu.
Outro contrário a exigência do passaporte da vacina foi o especialista em bioética Hermes Rodrigues Nery. Ele considerou existir uma “narrativa dominante que impôs” restrições.
“Há excessos e medidas abusivas que visam moldar forçosamente o comportamento das pessoas para conformidade a uma agenda do poder global que visa uma transformação social radical”, disse.
Além dos convidados, que puderam falar por sete minutos, houve posicionamentos de vereadores e mais 14 pessoas inscritas e que participavam através do Zoom.
Segundo o vereador Guilherme Bianco (PC do B), que presidiu os trabalhos na audiência pública, as contribuições foram absorvidas e vão ser discutidas na Câmara Municipal.