Cerca de 100 pessoas que vivem em situação de rua em Araraquara serão atendidas por um consultório médico itinerante, que irá percorrer os principais pontos de concentração desta população, como as praças das igrejas do Carmo e Santa Cruz.
Batizado de “Consultório nas Ruas”, o programa integra à atenção básica de saúde e é composto por uma médica, enfermeira, técnica de enfermagem e agentes comunitários. O trabalho será desenvolvido de segunda a sexta-feira.
A médica Gisselle Gonzales Maza de Oliveira, que atua na Estratégia Saúde da Família, será a responsável pela equipe. Segundo ela, o perfil destas pessoas é muito variado, mas a maioria é de dependentes químicos, que precisam de acolhimento.
“Eles acham que a dependência química não é doença e que faz parte do seu dia a dia. Não é fácil chegar, se aproximar, porque muitas vezes eles sentem até medo de se aproximar, de se abrir. Então, a gente tem que fazer um trabalho contínuo“, disse.
O consultório irá funcionar como uma unidade básica de saúde, oferecendo serviços como a aferição de pressão arterial, aplicação de vacinas e pequenos curativos, além de testes rápidos para IST’s (Infecções Sexualmente Transmissíveis) e covid-19.
Segundo a secretária municipal de Saúde, Eliana Honain, muitos moradores não tratam doenças como hipertensão e diabete, tem alguma IST, não são vacinados e apresentam ferimentos. Mas a maioria tem algum transtorno mental.
“Em uma situação como esta, com um consultório na rua, itinerante, com uma equipe que eles sabem que é exclusiva para o atendimento deles, isso muda muito”, avaliou.
De acordo com Eliana, o primeiro passo é romper a resistência e criar um vínculo para garantir a continuidade dos atendimentos e “resgatar a dignidade destas pessoas.” “Eles vão ter registro, cartão SUS [Sistema Único de Saúde], carteira de vacina e um prontuário. Aqui é uma unidade ambulante, mas com todas as condições. Eles vão ter acesso a todas as coisas disponibilizadas aos demais usuários SUS: consultas de especialidades, internação e cirurgias eletivas”, explicou.
O pastor da Assembleia de Deus Emmanuel, Luiz Capano desenvolve há 20 anos o projeto “Comida para quem tem fome, e palavra para quem tem sede”, em aproximadamente 30 pontos da cidade, com a entrega de comida, roupas e cobertores, e atendimentos com psicólogos e enfermeiros.
Segundo ele, muitos se recusam a procurar atendimento médico por vergonha. “Quando você chega na rua, eles estão com febre e você não sabe se é covid-19, dengue, o que está acontecendo. Nós temos mulheres grávidas, crianças nas ruas. Todas as doenças que a gente tem eles têm na rua. Só que muitas vezes, não tem a coragem de ir, se acham inapropriados e se retiram destes lugares pela situação que estão vivendo, pelo cheiro, pela roupa”, ponderou.
Para a médica Gisselle, o consultório vai permitir um atendimento individualizado e criar um vínculo com estas pessoas. “Este é o nosso trabalho final: tentar resgatar todas as pessoas das ruas e reestabelecer seus vínculos com as famílias ou com a sociedade”, concluiu.