Em apenas 20 dias, Araraquara já somou 10.070 novos casos de covid-19. É como se todos os dias 500 pessoas testassem positivo para a doença.
O número é 770% maior do que o registrado no mesmo período do ano passado, quando 1.149 pessoas positivaram para a doença, e representa quase a metade dos 23.609 casos registrados em todo o ano de 2021.
De acordo com Bernardino Alves Souto, epidemiologista e professor de medicina da UFSCar, com a circulação da variante ômicron, o número de casos deve crescer ainda mais e de forma ainda mais rápida.
“Como a variante ômicron, que está circulando agora, se transmite com muita rapidez e agilidade, provavelmente irá fazer um número muito grande de infecções em um espaço de tempo muito curto. Portanto, é possível que essa onda tenha uma duração menor, talvez uns dois meses, como tem ocorrido em outros países. Tudo indica que a atual onda epidêmica será bem mais alta que as anteriores, mas irá durar menos tempo”, explicou o médico.
Bernardino destacou ainda que três fatores colaboraram para o acelerado e intenso aumento do número diário da covid: a alta transmissibilidade da variantes ômicron, o negligenciamento do uso das máscaras e do distanciamento físico, além da incapacidade do sistema de saúde em garantir o isolamento de pessoas infectadas e de seus contactantes.
“Boa parte do mundo e o Brasil nunca fizeram o que realmente deveriam ter feito. Houve atraso na adoção das medidas preventivas em momentos que não deveriam ter sido afrouxadas. E o Brasil nunca adotou medidas eficazes de infectados e contactantes. Então, esse conjunto de fatores sempre favoreceu as elevadas ondas epidêmicas, que facilitam o surgimento de novas variantes, como a ômicron. Raros países do mundo adotaram as medidas de maneira correta e conseguiram segurar bem a epidemia”, ressaltou.
Bernardino acredita que uma epidemia da covid seguiu até novembro do ano passado e outra começou causada pela ômicron. “A ômicron, com maior transmissibilidade e menor capacidade de causar doenças graves, associada a uma elevada cobertura vacinal, levou a uma onda epidêmica diferente das anteriores e que exige medidas adaptadas. Se antes estávamos preocupados em vacinar todos com duas doses da vacina, hoje é necessário acelerar ao máximo a aplicação da terceira dose e já programar a quarta dose. Além disso, antes o lockdown era uma medida efetiva, hoje já não é mais. Embora, sair de casa o mínimo possível, seja de grande ajuda”.
PICO DA DOENÇA
Para o professor, ainda não é possível apontar se estamos ou quando chegaremos ao pico da doença. Isso porque é preciso aguardar para avaliar o momento mais provável de chegada ao ponto máximo da incidência da doença e a queda do número diário de novos casos. “Não é possível visualizar esse momento com exatidão, pois depende do quantitativo dos exames realizados na população. Como este quantitativo fica abaixo do número de pessoas que realmente deveriam ser testadas, sempre vamos enxergar a curva menor do que realmente é. Neste momento, em que a incidência está alta, a capacidade de testagem fica represada e fica difícil visualizar o pico real da curva epidêmica”, finalizou.
