No terceiro ano de pandemia de covid-19, a saúde mental de crianças e adolescentes vem preocupando autoridades da saúde. No ano passado, o Fundo das Nações para Infância (Unicef) alertou que mais de um em cada sete meninos e meninas com idades entre 10 e 19 anos vive com algum transtorno mental diagnosticado. E a pandemia tende a piorar esse quadro.
“Os problemas mais frequentes são irritabilidade, distração e mais dependência de pais, irmãos, avós, pessoas próximas. Sem contar os sintomas físicos, como falta de apetite, sono agitado ou insônia. Se o desenvolvimento psicológico deles não for cuidado, teremos uma nova pandemia, de adultos muito mais problemáticos daqui a alguns anos”, comentou a psicóloga Naiara Mariotto.
A psicóloga acrescentou que muitos sintomas são comuns em adultos também, mas crianças e adolescentes são mais suscetíveis a problemas como ansiedade, baixa autoestima, fobias, depressão e distração, que podem trazer consequências imediatas, como a queda no rendimento escolar, e de longo prazo.
“Elas acabam sentindo mais que nós, principalmente as crianças, que não conseguem ainda se expressar, trazer essas emoções para fora, para conseguirmos ajudá-las de uma forma melhor. Elas têm muito mais medo do desconhecido, pois estão conhecendo o mundo agora”, ressaltou a psicóloga.
As crianças mais novas, de acordo com Naiara, podem ter reações que variam conforme a sua fase de desenvolvimento. “Elas podem ficar mais manhosas, vão chorar com frequência, fazer muitas perguntas. O xixi na cama é muito comum à noite”, completou.
COMPULSÃO
Naiara tem observado o aumento de queixas dos pais na clínica, com variações de sintomas entre crianças e adolescentes. Os adolescentes, por exemplo, têm apresentado mais distúrbios de alimentação. “Pode haver também dificuldades de se alimentar, mas a compulsão alimentar tem sido comum entre os adolescentes”, contou Naiara.
Os pais devem ficar atentos a todos esses sintomas comportamentais, que incluem ainda a necessidade de isolamento e até mesmo somatizações, que resultam em sintomas físicos, como problemas estomacais e intestinais.
“É importante que eles se sintam validados e escutados. Os pais devem manter o diálogo e empatia com esses sentimentos. Entender que não é preciso ter todas as respostas, observar de perto o comportamento deles e promover sempre os momentos em família, para que se sintam mais seguros”, concluiu Naiara.
ESTUDO
O Fundo das Nações para Infância (Unicef) divulgou no final do ano passado resultados preliminares de uma pesquisa internacional com crianças e adultos em 21 países, em parceria com o Gallup sobre a Situação Mundial da Infância 2021. O Brasil foi um dos 21 países incluídos na pesquisa.
Em média, um a cada cinco adolescentes e jovens de 15 a 24 anos entrevistados (19%) disse que, muitas vezes, se sentem deprimidos ou têm pouco interesse em fazer coisas.
Quase 46 mil adolescentes morrem por suicídio a cada ano, uma das cinco principais causas de morte nessa faixa etária.