Uma mulher de 62 anos morreu, no último domingo (14), na Santa Casa de Araraquara, duas semanas após receber o primeiro atendimento médico na rede pública de saúde. Antes de ser transferida ao hospital, ela esteve quatro vezes na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Central.
Suely Teles de Atayde passou por atendimento médico na unidade nos dias 1º, 2 e 3 de agosto, até ser novamente atendida e transferida no dia 5 de agosto. Todas às vezes, após ter o quadro de saúde estabilizado por medicação, ela foi liberada.
“Eles viram apenas a pressão, medicaram e liberaram. Era um dia em que a unidade estava bem cheia, havia certa lotação. Acho complicado em um quadro de desorientação a paciente não ficar em observação, mas também entendo que ela recobrou a consciência e talvez tenham entendido que era apenas um quadro de pressão alta”, disse o filho da vítima, Daniel de Atayde Linhares, de 28 anos, referindo-se ao dia 1º de agosto.
Suely era diabética, hipertensa e tabagista, e apresentou os primeiros sintomas de que havia alguma anormalidade no início do mês. Ela estava em casa e foi encontrada deitada no sofá com quadro de confusão e desorientação.
Ela foi levada à UPA Central, realizou uma tomografia de crânio que descartou um Acidente Vascular Cerebral (AVC) e foi liberada após seis horas, quando recobrou a consciência.
No mesmo dia à noite, Suely apresentou um quadro de incontinência urinária e chegou a cair da cama, mas recusou ser levada novamente pelos filhos para receber atendimento médico.
Porém, no início da tarde do dia seguinte, terça-feira (02), diante das dores provocadas pela queda e de alteração na pressão, ela voltou à unidade de saúde. Mais uma vez, após classificação de risco e tomografia no quadril, que descartou qualquer lesão, ela foi liberada.
Na quarta-feira (03) à noite, Suely tornou a apresentar quadro de confusão. Novamente, ela foi levada pelos filhos até a UPA Central e, pela primeira vez, realizou exames de sangue e urina, que demonstraram alguma alteração.
Neste dia, a médica de plantão também identificou uma infecção no machucado que a paciente tinha nos pés. Ela foi medicada, liberada e recebeu receita para a compra de antibióticos.
“Só na quarta-feira que a médica desconfiou, pediu exames e identificou a infecção”, lembrou Daniel. “O que os médicos falaram ao longo do tempo é que é possível que o quadro de infecção estivesse prejudicando o organismo como um todo”, completou.
Na quinta-feira (04), as dores continuaram e a paciente começou a perder os movimentos, mas se recusou a procurar mais uma vez pelo serviço de saúde.
O quadro se agravou na sexta-feira (05). Suely acordou passando mal, sem conseguir tomar os medicamentos e sem movimento. Ela foi levada às pressas pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) até Unidade de Pronto Atendimento, foi entubada e transferida para Santa Casa.
Após nove dias internada em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) ela não resistiu a complicações e morreu no hospital. O seu corpo foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML) e será transportado até São Paulo, onde será velado e enterrado.
“O sentimento é de tristeza. A impotência é em um aspecto geral não apenas no sistema de saúde porque tem certas coisas que a gente não consegue controlar. Obviamente, tem o sentimento que as coisas poderiam ter sido diferentes, mas o sentimento é de tristeza, de abalo, de ter que lidar”, concluiu o filho.
Procurada, a secretaria municipal de Saúde informou que em todas as passagens pela UPA Central, a paciente foi medicada e passou por exames, entre eles tomografia de crânio e quadril, e que os registros revelam todos os procedimentos adotados e a garantia de assistência médica.
“Os registros revelam que, após os procedimentos, análise dos exames e constatação de melhora da paciente, ela foi liberada com orientações para seguimento ambulatorial via Unidade Básica de Saúde (UBS) e para retorno à UPA em caso de piora”, disse nota.
Ainda segundo o posicionamento, na última vez em que retornou a unidade reclamando novamente de confusão mental, a paciente “passou por exames e, diante dos resultados, foi transferida para a Santa Casa”.
A prefeitura disse que lamenta o falecimento e se solidariza com a família.
Já a Santa Casa informou que a paciente recebeu toda a assistência pertinente a gravidade do caso.