Na vitória afeana contra a URT-MG, em sua estreia na Série D, as analogias com chocolate tornam-se tão clichês quanto inevitáveis, considerando que os oito gols foram marcados em um Domingo de Páscoa.
Entretanto, eu diria que as guloseimas trazidas pelo clube não cabem na cesta de um Coelho da Páscoa.
Em campo, Thiago Carpini visualizou o primeiro esboço daquilo que seu time pode vir a ser. Os zagueiros realizavam a saída de bola com um volante próximo, compondo uma linha de três. Vitinho foi quem cumpriu esse papel, jogando ao lado de Léo Silva e Carlão. Os laterais avançavam até o ataque, oferecendo amplitude no momento ofensivo. Nessa dinâmica, os pontas flutuavam por dentro, para sobrecarregar a linha defensiva rival. Assim, quando Jeferson e Breno Lopes subiam, Bruno Xavier partia da esquerda para o meio e Welinton Torrão fazia o mesmo movimento no lado oposto. No momento em que os laterais estavam mais recuados, os pontas permaneciam abertos pelos lados. No meio-campo, Tony e Thomaz alternavam posição e função. Na maioria das vezes, Thomaz estava mais avançado, enquanto Tony recuava como um segundo volante para apoiar a saída de bola. Michel foi o centroavante.
Além de Michel, que balançou o barbante em três oportunidades, Bruno Xavier, com quatro assistências e um gol, e Welinton Torrão, com outros dois gols e uma assistência, foram os nomes da goleada. Outro destaque foi Tony que, fardando a camisa 10 e com a capitania da equipe em seus braços, mostrou que ainda há tempo para se reconciliar com o futebol apresentado por ele em 2019 e 2020.
Contudo, faz-se necessário ponderar sobre a fragilidade da URT-MG. A equipe foi rebaixada no campeonato estadual e no elenco reformulado para a disputa da Série D, o clube priorizou a contratação de jovens que, em muitos casos, vivem agora sua primeira experiência como atletas profissionais. Assim como Ricardo Severo, que treinava a categoria sub-20 do Sport e recentemente assumiu o comando técnico do clube mineiro. Dessa forma, em todos os aspectos, a Locomotiva era melhor do que seu adversário.
Todavia, os próximos jogos da Ferroviária tendem a ser mais indigestos, principalmente nos enfrentamentos contra Inter de Limeira, Caldense-MG, Pouso Alegre-MG e Bahia de Feira-BA. Inclusive, é contra o clube baiano a próxima partida do time de Araraquara. Nesses duelos, teremos a real dimensão da superioridade — ou não — da equipe em comparação com os outros times do seu grupo. Fato que as goleadas, por mais divertidas que sejam, costumam esconder.
Por fim, essa vitória da Ferroviária foi com “V” de Vicente Baroffaldi. No dia da peleja contra a URT-MG, o historiador que melhor relatou os itinerários percorridos pela Locomotiva em sua trajetória, infelizmente, nos deixou. Como homenagem, a Ferroviária escreveu uma página inédita em sua história, ao protagonizar sua maior goleada em competições nacionais e o placar mais elástico desde que a Fonte Luminosa se tornou uma arena.
Foi por domingos como esse que Baroffaldi viveu, assim como o combustível da Locomotiva sempre será a paixão de gente como ele.
Afinal, essa é a razão para que a Ferroviária siga entrando em campo.