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vidaemquatrolinhasA homogeneização do futebol e a indústria do entretenimento

A homogeneização do futebol e a indústria do entretenimento

Portanto, nos casos citados, um jeito de jogar é escolhido em função dos propósitos econômicos dos clubes e seus donos

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Diego Simeone está no Atlético de Madrid desde 2012. (Foto: EFE / Kiko Huesca)

 

Em entrevista ao Footure, o treinador português Luís Castro, assim como seu auxiliar Victor Severino, disseram que o jogo ofensivo do Shakhtar Donetsk, time em que trabalhavam à época, era uma opção estética do dono do clube, que também visava a negociação de jovens jogadores — em sua maioria, contratados em início de carreira no Brasil — e compreendia que o protagonismo no ataque valorizaria seus talentos em relação ao preço que seriam vendidos no mercado de transferência de atletas. Atualmente, os dois seguem na mesma comissão técnica, treinando o Botafogo-RJ de John Textor.

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O mesmo princípio está presente no Independiente Del Valle, como também nas diferentes equipes da Red Bull: “jogar para frente”, formar jovens para serem vendidos e estabelecer um ciclo virtuoso de geração de mais-valor para o clube. Na liturgia da gestão empresarial do futebol, essa seria a representação ideal de um projeto esportivo.

Do mesmo modo, considerando a relevância econômica dos recursos adquiridos através da venda dos direitos de transmissão, que com a evolução dos resultados esportivos, aumenta seus ganhos financeiros, produz a identificação de novos torcedores e possibilita que se demande maiores quantias monetárias aos patrocinadores, “ganhar jogando bem” se torna um produto para ser vendido à indústria do entretenimento, com o objetivo de maximizar o ciclo virtuoso da arrecadação do clube. Com isso, define-se a identidade corporativa do time.

Portanto, nos casos citados, um jeito de jogar é escolhido em função dos propósitos econômicos dos clubes e seus donos. Ao subtrair a venda de jovens atletas, o resultado da conta é o Manchester City, inclusive.

Contudo, como um desdobramento do negócio-espetáculo que se tornou o futebol, ao transformar o divertimento da plateia em demanda, o julgamento público dos times ganhou uma nova face.

Por exemplo, o Atlético de Madrid de “Cholo” Simeone é profundamente criticado por razões estéticas, como se o jogo promovido por sua equipe fosse menos valioso ao não priorizar um estilo ofensivo que considera a posse de bola uma premissa. Contudo, Simeone projeta suas equipes para condicionar emocionalmente o enredo que se desenrola dentro das quatro linhas. Foi assim que o Atleti fez com que o Manchester City traísse seus princípios no segundo tempo do jogo de volta das quartas de final da Liga dos Campões. O objetivo era fazer com que sua equipe chegasse viva nos 45 minutos finais da eliminatória, provocando medo e desconfiança em seu adversário, por se sentir incapaz de resolver o duelo apesar de sua superioridade.

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Com isso, as escolhas táticas expressam uma sensibilidade particular em relação ao jogo. O futebol de “Cholo” Simeone é outro.

Assim sendo, se o futebol for reduzido apenas a mais um produto da indústria do entretenimento, em que um determinado “jeito-de-ser” serve como parâmetro para avaliar equipes, como se seu propósito primordial fosse satisfazer seu mercado consumidor, a consequência perversa pode ser uma homogeneização do jogo que esvaziaria as diferentes tensões culturais que criaram o futebol.

A própria história do ludopédio fará com que alguns sejam mais Guardiolas, ou Klopps, ou Mourinhos, em decorrência das diferentes formas que existem de se viver e interpretar o que acontece dentro das quatro linhas. A peleja da pluralidade preserva a beleza dos diferentes caminhos para se chegar ao gol e a vitória.

Até porque, para seus principais expoentes, a finalidade última da pretensa beleza está ligada aos propósitos econômicos e políticos do Catar, de Abu Dhabi, da Arábia Saudita, de diferentes empresas etc., o que deveria nos incomodar eticamente. Afinal, joga-se futebol por quê?

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