Uma vez, conversei com um treinador que já havia trabalhado com Fernando Diniz. “É o melhor que nós temos”, disse ele. Na semana passada, Daniel Alves deu uma entrevista para o The Guardian, da Inglaterra. Ao lado de Guardiola e Tite, o jogador que mais venceu títulos na história do futebol também incluiu Diniz entre os melhores técnicos com quem já dividiu o vestiário.
Desde a temporada passada, Marcelo Bielsa se tornou a mais nova sensação do futebol mundial, após vencer a segunda divisão inglesa e recolocar o tradicional Leeds United na elite do futebol nacional, sem abrir mão do jogo ofensivo que sempre identificou suas equipes. Pelo seu feito, “El Loco” chegou a ser indicado, pela FIFA, para o prêmio de melhor técnico do mundo em 2020 — Jürgen Klopp foi o vencedor.
Bielsa perdeu uma final de Copa Libertadores para o São Paulo, em 1993, quando treinava o Newells Old Boys. Com a seleção argentina, foi eliminado na primeira fase da Copa do Mundo de 2002, e também era ele o treinador na Copa América de 2004, quando o gol de Adriano, empatando o jogo no último minuto, possibilitou que o Brasil vencesse a final nas penalidades e se sagrasse campeão. Com o Chile, ficou em segundo lugar nas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2010, onde foi eliminado nas oitavas de final, derrotado, mais uma vez, para a seleção brasileira.
No Athletic de Bilbao, da Espanha, na mesma temporada, foi vice-campeão da Copa do Rei e da Liga Europa; no Olympique de Marseille, da França, não disputou nenhuma taça; na Lazio, da Itália, desistiu de treinar a equipe antes das competições começarem; no Lille, também da França, viveu conflitos internos e deixou o time na zona de rebaixamento, após 15 partidas; no próprio Leeds, em seu primeiro ano, deixou o acesso escapar nos playoffs. Suas únicas conquistas foram um Campeonato Argentino, no início dos anos 90, e a medalha de ouro com seu país nas Olimpíadas de 2004. Agora, também carrega o título da segunda divisão do Campeonato Inglês em seu currículo.
Desse modo, durante décadas, Bielsa foi considerado o principal representante do rótulo que, hoje, está carimbado na testa de Fernando Diniz: “joga bonito, mas não vence” — ignorando que a lista daqueles que jogam mal e sempre perdem é infinitamente maior. A relação da opinião pública com “El Loco” mudou, justamente, com a glória em Leeds, o que não passa de fetichismo, tendo em vista que o estilo de jogo, que compõe o espírito de tamanha exaltação, também esteve presente nos infortúnios e servia como muleta para as críticas.
Assim será também quando Diniz vencer.
Inclusive, Bielsa nunca precisou de títulos para comprovar sua genialidade. Pep Guardiola, Mauricio Pochettino, Jorge Sampaoli, Tata Martino, entre tantos outros treinadores, inspiraram-se nos times e nas ideias do técnico argentino. “Me sinto distante do conhecimento dele”, disse o maior treinador da história do futebol e atual campeão inglês.
Como treinadores, Marcelo Bielsa e Fernando Diniz não são comparáveis. Entretanto, cabe um paralelo entre eles, já que, em ambos os casos, o estilo de jogo foi, é e continuará sendo o grande espantalho de seus trabalhos.
Diniz ainda está escrevendo sua história. Contudo, já possui um legado para chamar de seu. Na formação de jogadores, por exemplo, sua contribuição é notória. Luan, Tchê Tchê, Felipe Alves, Caio Henrique (como lateral-esquerdo), Luciano, Gabriel Sara, Léo (como zagueiro), entre tantos outros, tornaram-se melhores quando treinados por ele. No Santos, Kaiky, Gabriel Pirani, Ângelo e Marcos Leonardo podem ter a sorte de viver o mesmo processo.
Que o encontro entre Fernando Diniz e os Meninos da Vila possa desenvolver todas as potencialidades que essa relação promete. É só isso que importa.