A vinda de técnicos de diferentes nacionalidades integra o Brasil ao circuito da globalização da indústria do futebol. Na Inglaterra, somente sete técnicos autóctones estão empregados na Premier League. Nenhum deles trabalha no “big six” e na tabela de classificação da atual temporada, o treinador inglês mais bem colocado é Graham Potter, em 10º lugar, com o Brighton.
Portanto, há uma tendência para a contratação de técnicos para além das fronteiras locais, em uma busca que, pretensamente, prioriza suas competências específicas. Contudo, duas dimensões desse processo precisam ser observadas.
Em primeiro lugar, a influência de treinadores estrangeiros no Brasil não é um fato contemporâneo. O húngaro Béla Guttman, campeão em seu país com Ferenc Puskás, desembarcou por aqui para treinar o São Paulo entre 1957 e 58. Nesse período, Vicente Feola estava na comissão técnica do tricolor paulista e em seguida, treinou a seleção que, na Suécia, conquistou o mundo pela primeira vez.
Antes de Béla Guttman, nos conta Jonathan Wilson em “A Pirâmide Invertida”, seu compatriota, Doi Kürschner, veio ao nosso país na década de 40 para treinar o Flamengo. Influenciado por Jimmy Hogan, figura importante para a formação das escolas húngara, austríaca e alemã, foi o responsável para que uma determinada versão do “W-M” (sistema tático que se tornou popularizou com o Arsenal de Hebert Chapman) se desenvolvesse no Brasil. Flávio Costa, que comandou a seleção brasileira na Copa do Mundo de 50, trabalhou com Kürschner no rubro-negro carioca.
Já o argentino Filpo Núñez criou a Academia do Palmeiras, enquanto o Flamengo foi tricampeão carioca com o paraguaio Manuel Fleitas Solich.
Assim, a relação com outras escolas do jogo foi fundamental quando o futebol brasileiro começava a se profissionalizar e formar sua identidade. Infelizmente, nos dias de hoje, há quem defenda, em um brado de arrogância, que o Brasil pentacampeão do mundo não precisa aprender sobre futebol com ninguém, ignorando que os cinco títulos conquistados são também, justamente, consequência desse aprendizado.
Por outro lado, muito se diz sobre uma possível defasagem na formação dos treinadores brasileiros, o que é uma meia-verdade, considerando a resistência conservadora que existe no Brasil em tratar o jogo como objetivo de estudo. Entretanto, há uma nova geração de profissionais surgindo no futebol daqui, mas que, em decorrência da “pressão por resultados”, não recebem oportunidades nos principais clubes.
Sobre esse fato, a Alemanha do 7 a 1 nos dá uma nova lição, já que os treinadores vencedores das últimas três edições da Liga dos Campeões da Europa são de lá: Jurgen Klopp pelo Liverpool, Hans Dieter-Flick pelo Bayern de Munique e Thomas Tuchel no Chelsea. Não há dúvida sobre qual a pátria que mais influencia o futebol mundial desde 2014. Em contraposição o último técnico inglês a conquistar a competição continental foi Joe Fagan, com o Liverpool, na longínqua temporada 1983 – 84.
Dessa forma, se os próprios clubes não possuírem um planejamento que possibilite aos treinadores de nossa terra apresentarem seus trabalhos, criticar os técnicos brasileiros será um tiro nágua, já que a cultura do nosso futebol seguirá afirmando que, na prática, eles não passam de bombeiros, convocados aqui e acolá para apagar os incêndios que são provocados pelos próprios clubes.
Os treinadores estrangeiros vão e vem, enquanto os problemas estruturais do futebol brasileiro ficam.