O São Paulo venceu a final mais importante que disputou no ano de 2021, porque não haveria fim de fila a ser celebrado se, no último ato da temporada, o clube tivesse marcado um encontro, pela primeira vez em sua história, com a Série B do Campeonato Brasileiro.
Contra o Juventude — um adversário que, desde que Jair Ventura assumiu o comando técnico do escrete, havia sido derrotado somente duas vezes em nove jogos, com míseros cinco gols sofridos –, o tricolor paulista precisava da vitória para excomungar definitivamente o fantasma do rebaixamento. Em caso de derrota são-paulina e vitória do Cuiabá contra o Fortaleza — o que veio a acontecer –, o clube se tornaria a primeira equipe fora da zona de rebaixamento, com apenas dois pontos de vantagem em relação ao Bahia, e decidiria sua vida fora de casa, contra o América-MG, que joga a última rodada querendo os três pontos para estrear na próxima Copa Libertadores. Lembrando que o São Paulo, até segunda-feira (6), tinha o terceiro pior ataque da competição e havia somado menos vitórias do que o Grêmio.
Nesse cenário, em que o espectro ganhou contornos palpáveis para se tornar protagonista de um filme de terror, Rogério Ceni cedeu ao juízo contra a teimosia.
No Morumbi, o treinador optou por um sistema tático que o próprio campo já relevou ser a formação em que seus jogadores se sentem mais à vontade para jogar. A linha de três defensores, por si só, não é um problema. No caso são-paulino, torna-se um, já que a substituição de um meio-campista por um zagueiro enfraquece a mobilidade da equipe por dentro, tornando o time presa fácil para a marcação daqueles que atuam mais recuados e sabem contra-atacar. Os duelos contra Bahia e Fortaleza, assim como o segundo tempo da derrota acachapante contra o Grêmio, não nos permite afirmar outra coisa.
Assim sendo, enquanto Calleri era referência no ataque do São Paulo, Luciano e Rigoni jogavam atrás dele, com liberdade para se movimentarem, buscarem os corredores laterais e, até mesmo, atuarem pelo mesmo setor. Rodrigo Nestor e Igor Gomes, que estiveram à frente de Liziero, puderam avançar no momento ofensivo, infiltrando na área e, inclusive, realizando jogadas de linha de fundo. Por vezes, volante mais recuado se aproximava dos dois zagueiros para fazer a saída de bola com três. Igor Vinícius e Reinaldo jogavam em amplitude e profundidade. Com isso, o tricolor paulista, com um desempenho nada espetacular, foi capaz criar o necessário para que o clube marcasse dois gols na primeira etapa.
Entretanto, o panorama foi outro no segundo tempo, quando o Juventude soube aproveitar a má recomposição defensiva são-paulina pelos lados do campo, já que Rigoni e Luciano, que deveriam cumprir esse papel, retornavam atrasados — ou não voltavam –, porque estavam pelo meio quando o São Paulo mantinha a posse de bola. A solução elaborada por Ceni foi deslocar Igor Gomes para a esquerda, mantendo Reinaldo mais recuado. A tentativa falhou, o Xavante jogava melhor e diminuiu sua desvantagem com um gol.
Nesse instante, os ventos do acaso decidiram soprar a favor do São Paulo.
Em um lançamento de Miranda para o ataque, Rafael Forster, zagueiro adversário, perdeu-se entre o tempo e a bola, possibilitando que Luciano, quase que sem-querer-querendo, concluísse a peleja ao balançar o fundo das redes. O atacante são-paulino, que foi o melhor jogador do time na temporada passada, atuou lesionado, como quem oferece um sacrífico para exorcizar o espectro do descenso. Foi recompensado com dois gols.
Agora, cabe ao São Paulo compreender que nada — absolutamente nada — do que foi feito em 2021 deve permanecer para o ano seguinte. Sobretudo, arriscar uma temporada em nome de uma conquista fugaz.