Ontem (4), após vencer o combalido Defensa y Justicia fora de casa, pelo placar de 2 a 1, o Palmeiras praticamente sacramentou a sua classificação para a próxima fase da Copa Libertadores. São três vitórias em três jogos no grupo que, para muitos, é o mais difícil da competição.
Contudo, antes da goleada contra o Independiente Del Valle, na longínqua semana passada, crescia o questionamento ao que vinha sendo feito clube nessa temporada. Após dois vice-campeonatos consecutivos, na Supercopa do Brasil e na Recopa Sul-Americana, uma virtual eliminação precoce no Campeonato Paulista começou a ser tratado como um “vexame”. Em 12 jogos, o atual campeão da América e da Copa do Brasil passou a ter sua qualidade questionada. Para variar, o contexto foi desconsiderado.
Por conta de uma pandemia que já ceifou a vida de mais de 400 mil brasileiros, o estadual paulista foi paralisado durante um mês entre março e abril (quando a centena de mortos era menor), já que havia dúvidas sobre a garantia de segurança sanitária nos protocolos de saúde dos clubes e da própria competição. Como não houve uma reorganização no formato de disputa do torneio e a Federação Paulista decidiu terminar o campeonato sem adiamentos, quando as partidas foram retomadas, houve uma “compressão” no intervalo de tempo entre os jogos, o que prejudicou (mais) quem estivesse em outros campeonatos. Foi o caso do Palmeiras.
Nesse sentido, desde o dia 14 de abril, foram 10 jogos em 21 dias. Portanto, praticamente uma partida a cada dois dias. Mesmo que esse calendário insano tenha sido avalizado pelo próprio Palmeiras, é impossível que, nesse curto espaço de tempo, os jogadores se recuperem fisicamente e o treinador consiga desenvolver a equipe, corrigindo os erros e planejando as partidas.
Assim sendo, o Palmeiras só está bem na Libertadores porque está mal no Paulistão.
No 5 a 0, contra o Del Valle, Abel Ferreira reorganizou o jogo coletivo palmeirense em função do adversário (assim como fez contra o River Plate). Variando entre o 5-3-2 na fase defensiva e o 3-5-2 no momento ofensivo, o Palmeiras jogou com Luiz Adriano de ponta-de-lança, oferecendo apoio para os contra-ataques, Rony mais avançado, atacando o espaço nas transições rápidas, Veiga flutuando mais pela direita, Patrick de Paula chegando mais ao ataque e Victor Luís livre para agredir pelo corredor esquerdo. Esse plano, necessariamente, demandou tempo de treinamento e a recuperação mínima das condições de jogo, o que se fez possível porque esses jogadores não estiveram em campo anteriormente, para enfrentar Guarani e Mirassol.
Com os mesmos jogadores, o Palmeiras derrotou o Defensa y Justicia (com mais de 20 desfalques, entre jogadores e membros da comissão técnica, que estavam infectados com a covid-19), após perder para a Inter de Limeira e derrotar o Santo André sem brilhantismo algum. Líder no seu grupo da Copa Libertadores, tudo indica que alviverde não chegará até as quartas de final do estadual.
Portanto, existe uma relação de causa e consequência entre essas situações. Para estar bem na Libertadores, o Palmeiras paga o preço no Campeonato Paulista. Não há vexame.