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vidaemquatrolinhasTorcida afeana, para o Deus da bola, faça sua prece

Torcida afeana, para o Deus da bola, faça sua prece

A conquista dos objetivos desportivos da Locomotiva necessita que o time faça o que fez pouco em 2022: jogar bem

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A Ferroviária precisa de um empate contra o Mirassol para escapar do rebaixamento. (Foto: Tiago Pavini/Ferroviária SA)

 

O destino de uma final é selado por um Deus do futebol que, como escreveu Chico e cantou Cássia, é um cara gozador e adora brincadeira. Na quarta-feira (16), Ferroviária e Santos suplicaram aos céus um veredito para o campeonato particular que disputam. 

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Todavia, por um tempo, a providência divina demorou para se fazer presente durante a contenda. Por isso, o jogo foi jogado até onde os pés humanos são capazes de alcançar.

Fabián Bustos queria sua equipe com um volume ofensivo sufocante, mesmo que, com isso, o equilíbrio defensivo fosse uma prosa que ficasse para depois. Quando o Santos se armava no campo ofensivo, Auro e Lucas Pires hegamonizavam os corredores laterais, Zanocelo e Camacho ditavam o ritmo dos passes no meio-campo, Lucas Barbosa e Lucas Braga se aproximavam de Marcos Leonardo, sobrecarregando a linha de quatro defensores da Ferroviária, enquanto Ricardo Goulart foi um exímio ponta-de-lança, que imaginava e criava os espaços para que as jogadas fossem algo mais do que uma possibilidade.

Com o olfato de quem fareja o gol, os Meninos da Vila não guardavam posição no ataque e rompiam em velocidade na direção da meta de Saulo, com a defesa afeana absolutamente impotente, perseguindo individualmente seus adversários como um gato manco caça um rato. 

Contudo, Fabián Bustos sabe que na vida que acontece dentro das quatro linhas não há nada que possa ser deixado para depois — mesmo que, contraditoriamente, algo sempre fique para depois. O ofício de um treinador é projetar o futuro de um duelo sabendo que nem tudo pode ser previsto. Nem mesmo Guardiola é um Óraculo de Delfos. Até porque, desde a Grécia antiga, sabemos que sábio é aquele que sabe que nada sabe.

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Movimentos descoordenados na marcação pressão, equívocos na recomposição defensiva, espaços desprotegidos entre o meio-campo e a defesa, derrotas sucessivas em embates pela segunda bola e a exposição da própria área, criaram um cenário para que João Lucas, o menino de ouro Thomáz, Hygor e Bruno Mezenga — que faz muito mais do que gols — encontrassem um desafogo para seu time. Por um instante, inclusive, a Ferroviária vencia por 2 a 1, mas não há concentração que resista em um duelo que você sequer tem tempo para pensar.

Quando a ampulheta da peleja virou para os 45 minutos finais, a dinâmica do jogo também mudou, já que Elano e Fabián Bustos agiram para corrigir os problemas que permitiram que a bola balançasse as redes seis vezes em um único tempo — em duas delas, anuladas. A Locomotiva tentou respirar com a bola, quebrando o compasso alucinante do ataque santista; já o Peixe, recolheu-se para proteger as vulnerabilidades que o impediram de controlar a partida. Como consequência, o Santos, por outro caminho, ameaçador nos contra-ataques, flertou mais com a alteração no placar de 2 a 2.

Restando pouco mais que cinco minutos para que findasse o duelo, o acaso presentou o lado grená com um pênalti, como se o Deus da bola despertasse para oferecer uma dádiva a um de seus entes. Bruno Mezenga converteu a cobrança com a precisão que um embate com João Paulo exige, resgatando março de 2017 na biblioteca da memória afeana, quando la mano de Alan Mineiro, no rebote de uma penalidade, derrubou de uma só vez Corinthians, Cássio e o risco de rebaixamento para a Série A2.

Entretanto, feitos à imagem e semelhança do divino, do Deus da bola herdamos o fardo de viver na corda-bamba entre a glória e a tragédia.

As linhas tortas, que jamais serão certas para a torcida grená, traçadas pela espirrada-de-taco de Arthur e a cabeçada para trás inexplicável de Marquinhos, fizeram dádiva recíproca e Léo Baptistão fez o que ainda não havia feito com o uniforme santista. Assim sendo, a sentença foi adiada para sábado.

Para a Ferroviária, basta um empate contra o Mirassol para que a permanência na elite estadual esteja garantida. Contudo, o projeto em longo prazo do clube também em disputa, já que a Locomotiva pode ficar sem vaga na Série D de 2023, o que depende quase que exclusivamente de uma vitória para não acontecer.

A conquista dos objetivos desportivos da Locomotiva necessita que o time faça o que fez pouco em 2022: jogar bem. Por isso, para o Deus da bola, faça sua prece.

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