A Prefeitura de Campinas informou que não vai indicar o uso de kit covid em nenhuma hipótese na cidade. Na tarde desta quinta-feira (15), a Câmara de Vereadores promoveu um debate, on-line, sobre o tratamento precoce utilizado em outros municípios, e trouxe, inclusive, um prefeito de uma cidade do Sul do país entusiasta do assunto.
Nomeado de acolhimento inicial, o grupo de medicamentos formado por cloroquina, hidroxicloroquina, azitromicina e ivermectina não tem a eficácia comprovada contra a covid-19.
Ontem, o presidente do Legislativo, o vereador Zé Carlos (PSB), afirmou que iria levar a demanda ao prefeito Dário Saadi (Republicanos) que já tinha afirmado que não usaria o procedimento na cidade -, mas hoje recuou e disse que apenas abriu as portas da Casa de Leis para o debate.
O prefeito de Chapecó (SC), João Rodrigues (PSD), que é entusiasta do tratamento precoce da covid-19, foi um dos convidados. Ele voltou a falar da queda de casos da doença na cidade após a implantação do grupo de medicamentos, mas omitiu diversas ações locais de restrições tomadas em sua cidade, como um lockdown parcial.
Rodrigues afirmou, sem apresentar dados, que a maioria dos internados em UTI-Covid não fez tratamento precoce. Ele também disse que, na prática, o tratamento precoce funciona.
“Se lockdown funcionasse, São Paulo não tinha os maiores índices de mortalidade”, afirmou o prefeito. Vale lembrar que o Estado nunca implantou o lockdown.
SEM EFICIÊNCIA COMPROVADA
A Secretaria de Saúde de Campinas informou que há diversos estudos mostrando que é ineficiente e mais de 80 entidades médicas já vetaram o seu uso.
“Inclusive, o kit apresenta efeitos colaterais que levam a quadros de insuficiência hepáticas. A Prefeitura ressalta ainda que não existe tratamento precoce para a covid-19”, disse a nota.
CONVIDADOS
Zé Carlos levou diversos médicos como convidados para defenderem o uso do tratamento precoce. Luciana Cruz afirmou, sem apresentar estudos ou dados, que esse atendimento precoce também reduz a mortalidade.
“Eu peço aos gestores que se inspirem no prefeito de Chapecó e outros e saibam de que forma está sendo implantada essa estratégia. Na prática, quem tem dinheiro está sendo tratado. Os maiores prejudicados são aqueles que dependem do SUS”, disse.
Já Márcio Marques, médico de Limeira, citou que a cidade oferece o kit covid gratuitamente aos pacientes. Ele também citou que o kit covid tem embasamento científico, mas também não citou quais são os estudos. “Deus vai cobrar de quem não apoia o tratamento precoce”, afirmou.
Atualmente, a Unidade de Referência Coronavírus de Limeira tem 91 internados (ocupação total de 90,1%). Desses, 34 estão em UTI ocupação de 94,4% -, 46, em leitos clínicos (ocupação de 95,8%) e 11 em leitos de suporte ventilatório (emergência).
SÓ DEBATES
Zé Carlos afirmou que o papel da Câmara é apenas fazer os debates e não pressionar o prefeito para implantar o acolhimento inicial na cidade.
“Eu convidei muito mais gente, mas ninguém tem coragem de debater. Eu faço debate com quem é contrário também”, disse.
SEM COMPROVAÇÃO
O tratamento precoce envolve remédios como a ivermectina, a hidroxicloroquina e a azitromicina e não tem a eficácia comprovada contra o coronavírus. Inclusive, a farmacêutica norte-americana MSD (Merck Sharp and Dohme), que produz a ivermectina, afirmou que ainda não há evidências de que o medicamento traga benefícios ou seja eficaz no tratamento da covid-19.
Em março o HC (Hospital de Clínicas) da Unicamp confirmou que um paciente de cerca de 50 anos teve hepatite medicamentosa por conta do uso dos remédios do kit. Além do homem atendido em Campinas desde o final de janeiro, transferido da capital, outras quatro pessoas também foram atendidas em São Paulo e levadas à fila de transplante de fígado após usarem o kit covid.