Um estudo feito por pesquisadores da Unicamp, em Campinas, concluiu que o aquecimento global fez a média das temperaturas máximas na cidade subir 1,2°C nos últimos 34 anos. A situação também refletiu na maior frequência de dias consecutivos de calor e no risco de que os fenômenos favoreçam eventos extremos, como seca, enchentes e temporais (leia abaixo).
O trabalho usou dados coletados diariamente desde 1989 na estação do Cepagri (Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura) em Barão Geraldo e foi feito por doutorandos do IB (Instituto de Biologia) e do IG (Instituto de Geociências) na disciplina “Ecologia Global e Mudanças Climáticas” do programa de pós-graduação em Ecologia.
O professor e pesquisador do Cepagri, David Lapola, coordenou a análise dos dados coletados pelo órgão com o objetivo de verificar se o aquecimento global já seria perceptível em Campinas. Para ele, a influência pode ser comprovada. “Arrisco dizer que o aumento de temperatura observado tem a ver diretamente com as emissões de gases de efeito estufa, aquelas produzidas não somente pelo Brasil, mas por todos os países, incluindo China e Estados Unidos”, aponta.
Média mais alta
A pesquisa aponta uma tendência de aquecimento em Campinas ao longo dos últimos 34 anos, já que a média das temperaturas máximas foi de 28,4°C. A alta também fica evidente na comparação dos índices entre 1989 e 2003 e depois de 2004 a 2022. Enquanto nos primeiros 14 anos a média da máxima foi de 28,05°C, no período seguinte essa média subiu para 28,65°C.
O fenômeno, conforme o estudo, pode ser percebido na análise feita a cada 10 anos. Na década de 1990, por exemplo, a média de máximas foi de 27,9°C. Na de 2000, subiu para 28,3°C. Já na década de 2010, chegou a 29,0°C. O recorde de temperatura foi registrado em 8 de outubro de 2020, quando os termômetros do Cepagri alcançaram a temperatura máxima de 39°C.
Mais dias de calor
Ainda segundo os pesquisadores, a partir dos anos 2000 as ocorrências de dias de calor aumentaram. Para comprovar isso, analisaram períodos de seis ou mais dias consecutivos de altas e descobriram que essas situações não ocorriam até 2001. Em 2002, no entanto, foram 96 dias do ano com temperaturas máximas acima da média e os episódios se tornaram frequentes.
Depois disso, as temperaturas voltaram a aumentar de forma chamativa a partir de 2010, quando foram registrados 13 períodos e 78 dias de calor acima da média no ano. Em 2012, foram 17 períodos e 102 dias de tempo mais quente. O recorde ocorreu em 2014, durante a crise hídrica no estado de São Paulo. Naquele ano, foram registrados 30 fenômenos na cidade.
“O Verão de 2014 foi 2,64°C mais quente, se comparado com a média do Verão de 1989-2003. O mesmo ocorreu na Primavera de 2012 (+2,43°C) e no Inverno de 2010 (+1,96 °C)”, alega a doutoranda em Biologia Vegetal, Bruna Hornink.
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Verão e Inverno
Nos últimos 34 anos, a média das temperaturas máximas no Verão subiu 1,3°C. Já nos períodos de Inverno, a alta foi de 1,8°C. Segundo o doutorando em Ecologia, Rômulo Celestino, o aumento foi de 0,039°C por ano nas máximas do Verão e de 0,048°C na média do Inverno.
“Tivemos temporadas de frio mais extremo, como o outono de 2006, com redução de aproximadamente 1,7 °C. Isso significa que esse período foi mais frio que a média do outono entre 1989 e 2003, que foi de 15°C”, diz Bruna Hornink.
“O que chama a atenção é que, desde 2020, tem havido redução de 0,2 a 1,0°C na temperatura mínima em grande parte das estações do ano”, completa ela, explicando que a queda nas temperaturas mínimas no período 2020 a 2022 é explicada pelo fenômeno La Niña, que resfria a temperatura do Oceano Pacífico equatorial, trazendo temperaturas amenas para o Sudeste.
Secas, temporais e enchentes
A meteorologista do Cepagri, Ana Ávila, defende que as medidas de adaptação não podem demorar devido ao risco de eventos extremos. “É urgente. A ciência está mostrando o aumento nas temperaturas, e o verão mostrou a questão das chuvas fortes e frequentes”, afirma.
Por esse motivo, Lapola argumenta que a região vai precisar de um plano eficaz para enfrentar as mudanças climáticas. “É preciso que as cidades adotem ações a fim de minimizar os efeitos do aquecimento”, conclui, citando a arborização e também a recuperação dos recursos hídricos.
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