O sonho e o desejo de ser pai sempre estiveram presente na vida de Julio Luciano, de 34 anos, morador de Sumaré. Após conhecer Giovanne, os dois decidiram se casar em cinco de março de 2016. Apesar de estarem juntos há anos, o casal não se sentia completo e queria formar uma família. Isso mudou com a chegada da pequena Thayná, após passarem cinco anos na fila de adoção.
“Quando a Thayná veio para nós ela tinha 3 anos. Ela é haitiana e não falava uma palavra em português. Era uma luta para entender o que ela queria. Hoje faz seis anos que ela está com a gente e a Thayná é a nossa realização como pais”, afirmou Julio.
Além dos desafios de chegar e se adaptar à realidade de um país estrangeiro, Thayná ainda precisou enfrentar a rejeição desde muito cedo. Segundo seu pai, ela foi rejeitada por 150 casais antes da acolhida de Julio e Giovanne. Agora, com 9 anos, ela é a alegria da família.
“Eu acredito que nós quebramos muitos tabus por ser um casal homoafetivo, por sermos pais de uma menina negra, de uma menina haitiana e isso foi muito bom para nós e para a nossa família. Ela foi acolhida com muito amor e carinho e nos ensinou muita coisa. Demoramos cinco anos para conhecê-la, na fila de adoção e mais cinco anos para sair a adoção definitiva. Foi um processo bem longo e dolorido, mas que valeu a pena cada segundo”, acrescenta Julio.
Percalços da paternidade
Todo pai de primeira viagem passa por dificuldades com a chegada de um filho ou filha. Entretanto, a família de Luciano ainda precisou lidar com um novo idioma e costumes completamente diferentes dos brasileiros.
“A Thayná teve a cultura de haitianos. Ela só comia banana verde e arroz, mais nada. E para ensinar ela a comer carne, doce, foi muito difícil. Primeiro, a gente teve que aprender tudo sobre uma mulher, porque não estávamos habituados. A adaptação alimentar foi bem difícil, a gente não sabia o que dar para ela e ia testando. Aos poucos ela foi se adaptando”, lembrou Julio.
Na sequência, Thayná precisou esquecer a língua natal e o dialeto crioulo para aprender o português. “A gente teve que fazer um bloqueio para ela esquecer o francês e o crioulo para poder aprender o português”, lembra.
Desafios
Julio ainda afirmou que a família enfrentou diversos preconceitos, principalmente pelo fato de Thayná estar sendo criada por dois pais. “A gente sempre enfrentou muito preconceito, porque as pessoas perguntavam ‘onde está a sua mãe?'”, afirma.
Realização na vida
Após tantos anos sonhando em acolher uma criança em seus braços, Julio reconhece a adoção de Thayná como o maior presente da sua vida.
“A realização de ser pai. De olhar e saber que hoje a gente luta por um ideal e por uma pessoa que precisa de nós. Ter a certeza de que ela é o nosso bem mais precioso e olhar para ela assim: ‘Filha, você é o nosso sonho realizado’. A maior alegria que a gente tem é de ter ela na nossa vida. Saber que a gente mudou a história dela, que podia não ter sido tão boa, e que ela também mudou a nossa história. É o maior presente”.
Os valores dos pais também já passaram para a filha, que já afirmou que também planeja adotar uma criança quando crescer. “Ela fala ‘Pai, eu vou adotar. Quando crescer, eu vou adotar uma criança’. Então, ela sabe o valor da adoção, ela sabe tudo que a gente passou para tê-la e ela dá muito valor, e isso é muito bom”, finaliza.
Panorama nacional
De acordo com o Sistema Nacional de Adoção, do Conselho Nacional de Justiça, 2.368 crianças foram adotadas no país neste ano. Contudo, outras 4.372 crianças estão aptas e aguardam pela adoção no Brasil. Em contrapartida, existem 35.296 pessoas habilitadas a receber uma criança no seu lar.
