À espera de chuvas, ventos e queda de granizo, Campinas não viu a previsão do tempo dos serviços de meteorologia se confirmar com precisão nos últimos dias. O panorama também era esperado pela Defesa Civil e pelo Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), que emitiram alertas sobre os riscos, mas o tempo severo só foi registrado em outros municípios de São Paulo (leia mais abaixo).
Para o meteorologista do Cepagri (Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura) da Unicamp, Bruno Bainy, apesar de todos os indicativos apontarem para “um grande potencial” de tempestades em Campinas, outros fatores climáticos predominaram desde quarta-feira (25), data em que uma frente fria sobre o oceano deveria influenciar quase todo o Sudeste.
“Nos últimos dias, os meteorologistas se depararam com um quadro atmosférico em uma situação na qual predominava uma massa de ar quente, úmida e instável sobre o estado. Além disso, todos os modelos meteorológicos apontavam condições atmosféricas que indicavam não só um grande potencial para o desenvolvimento de tempestades, mas uma grande probabilidade de que isso ocorreria“, cita o meteorologista.
Campinas ficou de fora
A expectativa para temporais, porém, só se aplicou em outras áreas do território paulista e de Minas Gerais, do Rio de Janeiro e do Espírito Santo. “Na quarta, a situação foi bem distinta da previsão, com pancadas e temporais de forma muito esparsa e sem a severidade esperada. Ontem (27), a previsão voltou a ser mais assertiva, embora possa ter parecido pela perspectiva de Campinas que não”, argumenta Bruno Bainy.
Sem chuvas volumosas desde terça (24), Campinas teve céu nublado e tempo abafado entre quarta e ontem. Apesar de vento e chuva fraca em alguns períodos, as tempestades esperadas para o município ocorreram somente em outros pontos do estado, como em Pirassununga, cidade a 120 km de Campinas e que registrou rajadas de vento superiores aos 120 km/h na noite desta quinta.
Sistema ‘imperfeito’
Ainda segundo o meteorologista do Cepagri, Bruno Bainy, o fato mostra que as previsões nem sempre são assertivas. Por outro lado, não indica que um boletim é mal feito, mas sim que há incertezas e diferentes graus de acerto. Até porque os modelos analisados por supercomputadores e especialistas podem ignorar alguns detalhes, e até mesmo um sistema avançado pode não acertar em cheio.
“Os modelos de previsão do tempo são softwares computacionais que resolvem essas equações de forma prognóstica, pois possuem termos que apontam para variações no tempo. Esses modelos nos ajudam a conhecer os mais prováveis estados futuros da atmosfera, em diferentes aspectos, que são analisados e ponderados pelos meteorologistas no processo de previsão”, detalha ainda ele.
No entanto, esses modelos considerados pelo Cepagri e por outros serviços, empresas, órgãos e entidades de meteorologia não são perfeitos, seja pelas limitações nos dados que dão início às simulações (que são observacionais), quanto pela própria natureza das equações, que são equações diferenciais parciais de múltiplas variáveis e de ordem superior, e que não são lineares.
“Essa não-linearidade foi descrita pelo matemático Edward Lorenz, que trabalhou com a parte físico-matemática da previsão do tempo, como o ‘Efeito Borboleta’. Em alguns casos, pequenas incertezas nas condições iniciais podem se amplificar e gerar resultados muito distintos do ‘estado real’ da atmosfera”, finaliza o meteorologista, citando as diversas forças que podem reger o tempo.
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