Imagine poder detectar os primeiros sinais de Alzheimer até 30 anos antes dos sintomas se manifestarem. Esse cenário, que parecia distante, agora está mais próximo da realidade graças a uma pesquisa desenvolvida na USP (Universidade de São Paulo). Liderada pelo pesquisador e farmacêutico, Gustavo Alves, morador de Louveira, a equipe desenvolveu um teste capaz de identificar biomarcadores da doença com décadas de antecedência.
O exame, que utiliza um simples swab de saliva, pode ser realizado em apenas 13 minutos. A pesquisa, publicada na revista científica Alzheimer & Dementia, uma das mais renomadas na área, identificou que proteínas associadas ao Alzheimer, como beta-amiloide e TAU, podem ser detectadas ainda no estágio pré-sintomático da doença.
“Nosso método se diferencia dos atuais ao utilizar a saliva como fluido de análise. Sabemos que o Alzheimer pode começar a se desenvolver até 25 anos antes dos primeiros sintomas, e nossos testes iniciais mostraram que algumas proteínas envolvidas no processo fisiopatológico podem ser detectadas nesse estágio”,
explicou Alves.
A pesquisa analisou a saliva de 54 idosos com e sem Alzheimer. Posteriormente, o estudo foi expandido para incluir também jovens saudáveis, o que permitiu comparar diferentes grupos etários. Apesar dos resultados promissores, o teste, que deve chegar à população em no máximo dois anos, ainda precisa passar por validações adicionais.
“Estamos agora para iniciar a validação dos ensaios, confirmação de alguns resultados, para posterior desenvolvimento de um kit de diagnóstico. Neste momento, estamos em busca de financiamento para esta etapa do projeto”,
explica o pesquisador.
A importância do diagnóstico precoce do Alzheimer
De acordo com o pesquisador, o diagnóstico precoce poderia permitir que os pacientes ajustassem os hábitos de vida, diminuindo o risco do desenvolvimento da doença.
“Um diagnóstico precoce, sem que haja ainda a formação das placas senis e dos emaranhados, condição que causa a evolução da doença, poderia dar a possibilidade do indivíduo adotar hábitos de vida e evitar situações que poderiam o expor a riscos associados, como por exemplo, consumo de bebidas alcoólicas, fumo e obesidade”,
afirma Gustavo.
Atualmente, o diagnóstico de Alzheimer é feito através de uma série de exames, que incluem histórico médico, testes neurológicos e cognitivos, além de exames de sangue e de imagem. No entanto, diferenciar Alzheimer de outras formas de demência ainda é um desafio. Existem mais de 150 tipos de demência, e algumas apresentam sintomas semelhantes.
“Em Alzheimer, por exemplo, existe comprometimento da memória. Em Parkinson isso só ocorrerá em fases muito avançadas. Os tremores acontecem em Parkinson, mas não em Alzheimer. na demência de Lewy, as quedas são frequentes e os quadros de alucinação também. em Alzheimer isso não acontece com a mesma intensidade. Existem também demências reversíveis, como aquelas causadas por falta de vitamina B12 ou por quadros depressivos ou mesmo na neuro sífilis”,
detalha o pesquisador.
Fatores de risco para a doença
O avanço da idade é o principal fator de risco para o desenvolvimento do Alzheimer, mas a genética também desempenha um papel importante. O gene APOE-e4, por exemplo, está associado à cerca de 25% dos casos. Além disso, hábitos de vida, como alimentação saudável, atividade física regular e controle de doenças como hipertensão e diabetes, podem reduzir o risco de demência em até 43%, mesmo em pessoas geneticamente predispostas.
Estudos recentes também destacam que a reserva cognitiva — influenciada pelo nível educacional e estímulos intelectuais ao longo da vida — pode atuar como fator protetor contra o Alzheimer.
Mulheres e Alzheimer
No Brasil, mais de um milhão de pessoas vivem com alguma forma de demência. E, no caso da doença de Alzheimer, as mulheres são as mais afetadas. Um estudo da Universidade Case Western, de Cleveland, nos Estados Unidos, descobriu que o transtorno neurodegenerativo é mais recorrente nas pessoas do sexo feminino do que nas do sexo masculino.
Entre as possíveis causas apontadas no estudo estão os efeitos da menopausa e a maior expectativa de vida. Além disso, a análise também aponta que o fator de risco genético APOE-e4 é maior nas mulheres.
Ainda, de acordo com a pesquisa, a reposição hormonal pode reduzir o risco da doença em mulheres.
Sintomas
Segundo a Alzheimer’s Association, problemas com a memória e dificuldade principalmente em lembrar informações recentemente aprendidas são normalmente os primeiros sintomas da doença de Alzheimer.
Além da perda de memória, os sintomas de Alzheimer incluem:
- Problemas para completar tarefas que antes eram fáceis;
- Dificuldades para a resolução de problemas;
- Mudanças no humor ou personalidade;
- Problemas com a comunicação, tanto escrita como falada;
- Confusão sobre locais, pessoas e eventos;
- Alterações visuais, como problemas para entender imagens;
“Obviamente que a perda de memória é o mais citado e importante, mas chamo a atenção para perda auditiva e na sequência o desinteresse por coisas que sempre gostou de fazer, os quadros de irritabilidade e a dificuldade de se expressar. Além disso, os pacientes podem começar a se perder em locais conhecidos, como mercado, padaria, etc.”,
ressalta Gustavo.
Tratamento
Embora ainda não exista cura para o Alzheimer, medicamentos lançados desde o início dos anos 2000 ajudam a retardar a progressão dos sintomas. “Alzheimer não tem cura, mas tem tratamento. Um diagnóstico precoce faz toda a diferença”, ressalta Alves.
O cientista também está envolvido em novas pesquisas na Unicamp, onde estuda o potencial de bioativos presentes na jabuticaba para prevenir o declínio cognitivo leve, um estágio anterior ao Alzheimer. Estudos em humanos estão programados para o próximo ano.
“Se conseguimos combater o declínio cognitivo leve temos grande chance de evitar a doença de Alzheimer e este é o nosso propósito”,
finaliza o pesquisador.
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