A diretora do Devisa (Departamento de Vigilância em Saúde de Campinas), Andrea von Zuben, comparou o surto de febre maculosa, em Campinas, com a contaminação por malária na região Amazônica. Durante coletiva no final da manhã desta quarta-feira, na Prefeitura, o órgão informou que a cidade é considerada endêmica para febre maculosa (com doença frequente) e comunicou que a região é a que mais tem casos de contaminação no país.
“A febre maculosa está para Campinas assim como a malária está para a região amazônica. Se eu for para a Amazônia e voltar com febre, vou contar para o médico e contar que estive no Amazonas e ele vai pensar em malária. Se estamos em Campinas e tivemos febre e frequentamos área de mata, tem que contar para o médico e o médico tem que perguntar, porque é muito grande a probabilidade de ter a doença”, pontuou a diretora do Devisa.
A afirmação foi feita durante uma coletiva de imprensa nesta quarta-feira (14), que foi realizada após uma reunião emergencial para discutir ações de combate à febre maculosa após um surto da doença na Fazenda Santa Margarida, no distrito de Joaquim Egídio. Três pessoas que frequentaram o evento “Feijoada do Rosa” no final do mês de maio morreram e tiveram a morte confirmada para a doença.
Ontem, a Saúde também confirmou a morte de uma adolescente de 16 anos, que também tinha frequentado o evento. A causa da morte da jovem ainda é investigada. Além da feijoada, o Devisa informou que investiga possível contaminação no show do Seu Jorge, que aconteceu no dia 3 de junho Ao menos 10 mil pessoas passaram pelo local nos dois eventos.
Na coletiva, a Prefeitura ainda indicou medidas de conscientização e combate, como capacitação de médicos e profissionais de saúde para identificação da doença em fases iniciais, e reforço de sinalização em locais de risco, inclusive particulares (veja mais aqui).
LEIA TAMBÉM
Adolescente de 16 anos que morreu com suspeita de febre maculosa foi a evento para ajudar pai
NÃO TEM COMO CONTROLAR
Durante a divulgação das ações, a diretora do Devisa reforçou a frequência de casos em Campinas, para alertar as pessoas a suspeitarem da doença.
“Estamos em uma área endêmica. A região de Campinas é a região com maior número de casos no Brasil”, afirmou.
Andrea explicou que a comparação com a malária se deve por características epidemiológicas – que estuda a frequência, distribuição e determinantes de doenças em regiões. Com a ocorrência constante em Campinas, ela reforçou que não há como controlar a doença, sendo mais indicado a prevenção de locais de risco.
“Tem malária na Amazônia, tem febre amarela em algumas regiões por características que a gente chama de Ecoepidemiológicas. Se eu for para a Praia de Boa Viagem, em Recife, estará algum aviso de não entre no mar ou risco de tubarões. Alguém pede para a Prefeitura tirar os tubarões do mar? Não, porque não dá. Se eu vier para Campinas eu vou ter que estar informado que nas áreas verdes há risco de febre maculosa, e não dá para retirar todas as capivaras de Campinas, nem adianta, porque elas se repovoam”, afirmou.
QUAIS SÃO OS LOCAIS DE RISCO
Ontem, a Prefeitura indicou o alerta em 12 regiões (leia mais aqui). Já hoje, a diretora do Devisa alertou sobre risco em “qualquer lugar” que tenha vegetação, e alertou sobre a época atual, que é a mais propícia para os casos.
“Temos que dizer que estamos no período mais favorável para ter casos, que predomina para ter larvas. A região de Campinas é endêmica para febre maculosa, então pode ter em qualquer lugar, parques, praças, fazendas, pastos, matos, pesqueiros, qualquer lugar pode ter, qualquer lugar que tenha circulação de hospedeiro ou vegetação”, afirmou.
O SURTO
Campinas confirmou ontem (13) um surto de febre maculosa na Fazenda Santa Margarida, no distrito de Joaquim Egídio, após a morte de três pessoas que frequentaram o evento “Feijoada do Rosa” no final do mês de maio e se infectaram no local.
Até o momento, a cidade já registrou cinco mortes pela doença no ano. Três mortes foram confirmadas nesta semana e todas as vítimas haviam frequentado o mesmo evento na fazenda. Ontem, a Saúde também confirmou a morte de uma adolescente de 16 anos, que também tinha frequentado o evento. A causa da morte da jovem ainda é investigada.
AS VÍTIMAS DO EVENTO
No final da tarde desta terça-feira (13) a cidade confirmou que o empresário e piloto, Douglas Costa, de 42 anos, que também esteve em Campinas, em 27 de maio no evento também morreu pela doença. Ele era namorado da dentista Mariana Giordano, de 36 anos, que teve a morte confirmada ontem pelo Instituto Adolfo Lutz.
A SES (Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo) ainda confirmou nesta terça a morte de uma terceira pessoa, uma mulher de 28 anos, de Hortolândia, que frequentou o mesmo evento. As três pessoas morreram no dia 8 de junho.
A DOENÇA
A febre maculosa tem cura, mas o tratamento precisa ser iniciado precocemente com antibióticos adequados. A diretora do Devisa, Andrea von Zuben, informa que o principal sintoma da doença é a febre alta que pode ser confundida com outras enfermidades.
“Por isso é importante que o médico sempre pergunte ou que o paciente relate que esteve em área de vegetação com presença de carrapato ou capivara. Com esse histórico, o tratamento deve ser iniciado imediatamente”, relata.
Campinas e região é área endêmica para a febre maculosa. Este ano, com o caso da dentista e do empresário, são quatro casos confirmados, sendo que os quatro morreram. Dois eram de moradores da cidade e um o da dentista de São Paulo e o quarto o do empresário de Jundiaí.
COMO SE PREVENIR
A prevenção contra a doença é baseada em impedir o contato com o carrapato. Portanto, em locais onde haverá exposição ao bicho, algumas medidas podem ajudar a evitar a infecção, como:
- usar roupas claras para ajudar a identificar o bicho
- utilizar calças, botas e blusas com mangas compridas ao caminhar em áreas arborizadas e gramados
- evitar andar em locais com grama ou vegetação alta e usar repelentes de insetos
- repelentes de insetos também são aliados
- quando for a uma área de mata, fazer busca em si e nos animais de estimação por carrapatos a cada três horas
REMOÇÃO
- a remoção do carrapato deve ser feita com uma pinça. Não se deve apertar ou esmagar o carrapato, mas puxar com cuidado e firmeza
- depois de tirar o carrapato inteiro, é indicado lavar a área da mordida com álcool ou sabão e água
- depois disso, se deve colocar todas as peças de roupas em água fervente para retirar os insetos