*Esta matéria foi atualizada às 18h44 do dia 27 de maio
O HC (Hospital de Clínicas) da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) investiga dois casos de hepatite misteriosa em crianças. A informação foi confirmada na tarde desta quinta-feira (27) a pedido do acidade on Campinas – leia mais sobre a doença abaixo.
Em nota divulgada hoje, o Núcleo de Vigilância Epidemiológica e a equipe de pediatria do hospital da Unicamp confirmaram que, nas últimas duas semanas, foram detectados dois casos suspeitos de hepatite aguda de etiologia desconhecida.
Uma das crianças apresentou apenas acolia fecal (fezes esbranquiçadas) e a outra teve icterícia (pele e olhos amarelados), febre, acolia fecal e colúria (urina cor de coca-cola).
No laboratório de patologia clínica do hospital foi constatado por meio de exames laboratoriais, o aumento das transaminases (enzimas hepáticas).
O quadro clínico das duas crianças é estável e uma delas já teve alta hospitalar. Os dois casos foram notificados para a Vigilância Epidemiológica do município e do estado, e as amostras clínicas foram enviadas para o Instituto Adolfo Lutz para análises complementares.
Informações sobre a cidade onde as crianças residem, idade, gênero e outros detalhes não foram informados pelo HC da Unicamp. Procurado, o Departamento de Vigilância em Saúde de Campinas disse em nota que “está atento e, neste momento, não há notificações de moradores de Campinas em investigação”.
Sobre a situação, o governo estadual de São Paulo informou que acompanha a investigação de 10 casos suspeitos de hepatite aguda, de agente etiológico desconhecido. Duas cidades da RMC (Região Metropolitana de Campinas) – sendo Indaiatuba e Itatiba – aparecem investigando casos (veja nota no fim da matéria).
A DOENÇA
A doença, que atinge crianças é investigada em vários estados do Brasil (leia mais abaixo), não é ocasionada por nenhum dos vírus conhecidos da hepatite (A, B, C, D e E) e pode ter entre as suas causas uma relação ainda não esclarecida entre a covid-19 e um tipo de adenovírus.
No país, um dos casos está o de uma adolescente de 14 anos, de Ibimirim, sertão de Pernambuco, que foi hospitalizada em coma e precisou passar por transplante de fígado de emergência na sexta-feira da semana passada (20).
HIPÓTESES
A primeira hipótese foi levantada por autoridades de saúde do Reino Unido. Lá, os primeiros casos foram registrados e tratava-se de uma hepatite causada por um adenovírus. Estudos mostraram que até 70% dos doentes testaram positivo para o adenovírus 41F. Ele afeta mais crianças, jovens e pessoas imunossuprimidas. Provoca resfriado ou problemas intestinais.
“Inicialmente achou-se que o adenovírus seria a causa das hepatites agudas, mas o fato é que ele não aparecia em todos os casos”, explicou o infectologista Marcelo Simão, da Universidade Federal de Uberlândia, em Minas. “Em muitas crianças que apresentaram quadros graves não foi possível isolar o vírus; e em algumas na qual foi feito um transplante não se achou o vírus no fígado retirado.”
Especialistas notaram também que muitas crianças tinham tido covid-19 antes da hepatite aguda. Um estudo publicado na Lancet na semana passada propôs, então, nova hipótese. Segundo o trabalho, uma combinação entre as duas infecções estaria provocando a doença hepática aguda.
Partículas remanescentes do Sars-CoV-2 no trato intestinal das crianças estariam servindo de gatilho para uma reação exagerada no sistema imunológico a uma infecção posterior pelo adenovírus 41F. A proteína spike do coronavírus é considerada um superantígeno. Ela torna o sistema imunológico mais sensível. Assim, potencializaria o efeito do adenovírus 41F. Normalmente, esse vírus não provoca problemas mais graves.
NO BRASIL
O Ministério da Saúde informou que, até a última quarta-feira (26), foram notificados 84 casos da hepatite aguda no Brasil. Desses, 15 foram descartados e 69 permanecem em investigação.
A Pasta instalou uma Sala de Situação para monitorar e acompanhar os casos no Brasil. A iniciativa tem como objetivo apoiar as investigações, bem como o levantamento de evidências para identificar as possíveis causas.
A sala conta com a participação de técnicos do Ministério da Saúde, da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e outros especialistas.
Além do monitoramento, a medida vai padronizar as informações e orientar os fluxos de notificação e investigação dos casos para todos as secretarias estaduais e municipais de saúde, bem como para os Laboratórios Centrais.
Casos em investigação: SP(24), MG(8), RS(6), PE(6), RJ(6), SC(3), GO(3), CE(3), PR(2), ES(2), RN(1), MA(1), MS(1), RO(1), PB (1) e AL (1)
Casos descartados: MS(4), SP(3), RJ(2), SC(2), MG(2), PR(1) e PE(1)
Casos em estados específicos podem ser verificados junto às secretarias de Saúde estaduais, explicou o Ministério da Saúde.
EM SÃO PAULO
No estado de São Paulo, o Centro de Vigilância Epidemiológica disse que acompanha a investigação de 10 casos suspeitos de hepatite aguda, de agente etiológico desconhecido, identificados nos municípios de:
– São Paulo
– Guarulhos
– Indaiatuba
– Itápolis
– Itatiba
– Ribeirão Preto
A Secretaria de Estado da Saúde monitora os pacientes e aguarda a conclusão dos exames diagnósticos e de toda a investigação epidemiológica. Portanto, é precipitada a confirmação da doença no Estado, uma vez que somente a conclusão diagnóstica poderá determinar a doença.
A doença atinge pacientes com menos de 17 anos, que apresentam sintomas semelhantes aos da doença hepática – como icterícia, diarreia, vômitos e dores abdominais -, porém sem a presença do vírus.