A jovem Maura Samilli da Silva Baltazar, 26 anos, moradora do Jardim Bassoli, em Campinas, foi mãe adolescente, teve depressão pós-parto e, durante um período conturbado, conseguiu pouco acesso a serviços públicos de saúde mental.
Diagnosticada tardiamente com TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade), a produtora cultural e estudante de tecnologia sabe a falta que cuidados individualizados para a sua condição fez durante a sua trajetória.
“Todas as vezes que tive algum suporte, foi apenas em momentos emergenciais. E quando temos acesso a algum serviço, é a terapia em grupo, que perde muito na questão da subjetividade de cada paciente. Se eu tivesse feito alguma terapia ainda jovem, com certeza muita coisa poderia ter sido evitada”, complementa Sammy, que já trabalhou na área de saúde mental e estudou terapia ocupacional.
De acordo com a pesquisa Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), só no ano de 2021, 11,3% dos brasileiros relataram ter recebido diagnóstico de depressão. Para as pessoas que vivem em locais mais pobres este diagnóstico pode nunca chegar devido ao tabu envolta do assunto e a falta de acesso a atendimentos e tratamentos.
A história de Samilli e de outros jovens da periferia da cidade levaram a um grupo de jovens a criarem o projeto “Saúde Quebrada”, uma iniciativa para promover o acesso a serviços de saúde mental no município, além de diminuir as desigualdades sociais e raciais no cuidado e no bem-estar da população.
Como funciona?
O Saúde Quebrada foi criado por Samilli e outros nove jovens que participaram do programa PerifaImpacto 2023 – uma ação pioneira em Campinas para qualificar e conectar lideranças comunitárias e periféricas da cidade. Idealizado pela Casa Hacker, o PerifaImpacto oferece capacitações, consultorias, imersões e um fundo comunitário para impulsionar coletivos que fazem um trabalho de impacto nas “quebradas” do município.
Os 10 jovens criaram o Saúde Quebrada depois de assistirem às aulas do programa e enviarem seus projetos para seleção. Eles ainda participaram de oficinas incubadoras virtuais e de duas imersões presenciais com profissionais de diversas áreas, para construção do projeto. O tema surgiu durante esses encontros, explica Ana Paula Cunha, coordenadora do programa.
“Percebemos que todos já haviam passado por alguma questão de saúde mental, com pouco ou nenhum acesso a serviços de cuidado. Mais do que isso, constatamos que falar de saúde mental e de terapia na periferia é quase um tabu”, explica Ana Paula Cunha, coordenadora do programa.
Nos encontros, os jovens e facilitadores também identificaram que a falta de trabalho, de serviços de qualidade, de lazer e o racismo estrutural também são fatores que impactam na saúde mental.
“Diante disso, conseguimos definir o porquê é preciso falar de saúde mental na quebrada: é preciso enxergar quando se está machucado para enfim curar e, por meio de apoio e acolhimento, ver a periferia voltar a sentir, sonhar e viver de forma digna”, diz Miguel Passará, artista, poeta e produtor cultural de 21 anos.
Oficinas e pesquisa
Depois da escolha do tema, o grupo desenhou um plano com intervenções em diversos bairros da periferia de Campinas, sempre com a presença de profissionais voluntários de psicologia para suporte. As ações incluíram a peça teatral “Menina Bonita”, sobre uma jornada de autodescoberta, na Vila Lafayette Álvaro; a oficina de pintura com a Baby Punk, no Jardim Monte Cristo; a oficina de Poesia Terapêutica, com Miguel Passará, na Vila Padre Anchieta; e a vivência “Enluarando”, com Laura Lobo, voltada a mãe e mulheres, na Sala dos Toninhos, na Vila Industrial.
Todos os encontros foram registrados audiovisualmente para a montagem de um documentário sobre o projeto. Além disso, os participantes vão aplicar, a partir de novembro, uma pesquisa sobre saúde mental e juventude, para mapear identidades, opiniões e atitudes em relação à pauta e o acesso a serviços na periferia da cidade. “Percebemos durante o projeto que as pessoas carecem desse tipo de informação. A ideia é refinar e analisar esses dados para encaminhar e debater com coletivos que trabalham com saúde mental em Campinas”, explica o gestor público Igor Monteiro Oliveira, que também participa do projeto.
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