Um amigo do milionário assassinado no último dia 14 de setembro, que preferiu não se identificar, disse à EPTV, afiliada da TV Globo, que Jonas Lucas Alves Dias, de 55 anos, nunca quis sair de Hortolândia após ganhar o prêmio de R$ 47,1 milhões na Mega-Sena, em 2020. “Todo mundo falava, ‘muda de lugar, Luquinha, vai para um condomínio fechado, vem aqui de vez em quando, muda sua rotina…’. E ele nunca quis, falava: ‘ah, não vai acontecer nada, eu sou amigo de todo mundo’, igual, ele é amigo de todo mundo na cidade, né?”.
De acordo com esse amigo, que não quis se identificar, Jonas demorou uma semana para revelar que estava aposentado. Um mês depois, todos já tinham conhecimento do prêmio conquistado na loteria. “Ele ficou um mês assim, ‘ah, eu aposentei, eu aposentei, tô aposentado’, aí depois não teve jeito. Aí era brincadeira, ‘ó o milionário’, entendeu?'”, revelou.
Até o momento, dois suspeitos de participação no crime já foram detidos e outros dois seguem foragidos (veja todos os detalhes abaixo).
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ÁUDIOS DAS TRANSAÇÕES
Áudios obtidos pela Polícia Civil, e divulgados pelo Fantástico neste domingo (18), expõem o momento em que Jonas Lucas Alves Dias, solicitou uma transferência de R$ 3 milhões antes de ser morto por criminosos em Hortolândia. Novas imagens também mostram o morador em uma padaria e caminhando antes de ser sequestrado. Até o momento, duas pessoas foram presas pelo crime e duas ainda estão foragidas.
Os áudios foram encaminhados pela vítima para a gerente do banco, pedindo a liberação do dinheiro. O pedido foi feito enquanto Jonas estava sequestrado e sob o poder de uma quadrilha, que tentava extorquir dinheiro da vítima. Ao todo, Jonas passou cerca de 20h em poder dos criminosos. “Não chegou nada do comprovante, consegue agilizar isso pra mim? Tô aqui na fazenda, preciso fechar isso hoje”, disse o milionário em áudio.
VOZ ALTERADA
A solicitação não foi aceita por funcionários do banco, que desconfiaram do pedido. Segundo a polícia, testemunhas relatam que a voz de Jonas já não estava normal.
“Ele estava subjugado, isso nós temos certeza. Ele manda algumas mensagens, ele conversa através de um aplicativo do WhatsApp com a gerente de uma das contas dele. Eu trago também como um elemento que me chamou a atenção. As pessoas ouvidas né, que ouviram os áudios da vítima pedindo transferências bancárias para o banco, falam que a voz dela não estava normal, como se tivesse com a boca machucada ou com alguma situação que não estava normal, porque eles conheciam a voz dela, já tinham recebido os inúmeros áudios, conheciam a forma dela se comunicar no áudio”, afirmou Juliana Ricci, delegada titular da Deic de Piracicaba.
EXTREMA VIOLÊNCIA
De acordo com a delegada, a investigação aponta que Jonas foi vítima de extrema violência, e o crime é investigado como extorsão seguida de homicídio.
“Esses veículos (os carros vistos em imagens) o abordaram e o levaram. No local onde ele foi abordado, ficou caído o chinelo e o boné dele, tendo em vista a violência ali que ele foi arrebatado, na verdade, e sequestrado. E como foi utilizada muito a violência com a vítima que foi encontrada, já desacordada e com muitos ferimentos na região da face. A gente acredita, então que foi uma extorsão, seguida de morte, e não um roubo”, completou Ricci.
NOVAS IMAGENS
Novas imagens divulgadas pela Polícia Civil também detalham o trajeto de Jonas antes de ser sequestrado pelo grupo no último dia 12 de setembro. As imagens mostram o morador em uma padaria e caminhando antes de ser sequestrado, como sempre fazia. Segundo familiares, Jonas saía de casa todos os dias entre 5h30 e 6h e seguia até uma padaria do bairro. No dia do crime, imagens de câmeras do estabelecimento mostram ele no local, onde compra pães, um suco de laranja e uma esfirra e sai.
Após deixar os pães com a irmã, o morador sai para caminhar novamente, quando novamente é filmado por uma câmera de monitoramento em uma rua. Os vídeos também mostram o carro de um dos criminosos passando por ele. Outra imagem mostra os dois veículos suspeitos circulando pelo bairro. A polícia acredita que a vítima foi abordada em seguida.
Os dois automóveis seguiram para Campinas e em uma agência da Caixa Econômica Federal foram feitas imagens de um carro preto e um dos suspeitos entrando no local por volta das 8h30. O suspeito que entrou na agência estava com o cartão da vítima e fez dois saques de R$ 1 mil. Ele também liberou o aplicativo do banco no celular e fez uma transferência de R$ 18,6 mil para a conta de Rebeca, que foi presa ontem.
O CRIME
Jonas Lucas Alves Dias, de 55 anos, morreu após ser espancado pelos criminosos. O milionário ficou 20 horas com os bandidos antes de ser morto, de acordo com a Polícia Civil. Ele foi sequestrado no último dia 13 e encontrado com sinais de espancamento às margens da Rodovia dos Bandeirantes (SP-348) no dia 14 de setembro. A vítima chegou a ser encaminhada para o Hospital Mário Covas em Hortolândia, mas não resistiu aos ferimentos. Jonas não era casado e não tinha filhos.
Durante o período em que ficou sob poder dos criminosos, cerca de R$ 20 mil foram retirados de suas contas. Houve a tentativa de transferência de R$ 3 milhões, que não foi aprovada pelo banco. Neste fim de semana, foram presas duas pessoas suspeitas de envolvimento no crime, Rogério de Almeida Spínola , de 48 anos, e Rebeca (nome social), de 24 anos.
A Polícia Civil informou que foram identificados até agora quatro suspeitos do crime. Nenhum deles tinha relação com a vítima e todos moram em Santa Bárbara d´Oeste. Os investigados são:
- Rogério de Almeida Spínola (48 anos): Preso no sábado. Tem passagem por furto, roubo, homicidio, tentativa de homicido e corrupção ativa, cumprindo 15 anos de pena. Saiu do sistema prisional em dezembro de 2021.
- Rebeca (mulher trans)/ Nome de nascimento Samuel Messias Pereira Batista (24 anos): presa no domingo. Recebeu duas transferências de R$ 18,6 mil da conta da vítima.
- Marcos Vinicyus Sales de Oliveira, o “Vini” (22 anos): Tem passagem por estelionato e receptação. Deixou o sistema prisional em setembro de 2021. Dirigia a caminhonete que estava no sequestro e esteve na agência da Caixa Econômica Federal de Campinas. Está foragido.
- Roberto Jeferson da Silva, o “Gordo” (38 anos): Sem antecedentes criminais. Dirigia o carro de passeio preto que estava no sequestro. Está foragido.
De acordo com a delegada, dois carros participaram do sequestro de Jonas. Uma caminhonete prata, que era dirigida por Vini, e um veículo de passeio preto, que era dirigido por Gordo. Segundo a Polícia Civil, os bandidos sabiam da condição financeira da vítima.
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