Pesquisadores do CPQBA (Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas) da Unicamp desenvolveram um antioxidante natural inibidor da proliferação da bactéria Salmonella em carnes.
O produto é composto por óleos essenciais extraídos de plantas medicinais e aromáticas e pode impulsionar a produção aviária com menos riscos à saúde. Segundo os pesquisadores, a tecnologia pretende substituir conservantes sintéticos potencialmente cancerígenos do grupo BHT (Hidroxitolueno Butilado) e BHA (Hidroxianisol Butilado).
De acordo com Marta Cristina Duarte, coordenadora da pesquisa, também foi apontada por sua aluna de doutorado, Adriana Figueiredo, uma atividade positiva em relação à combinação dos óleos essenciais BOE (Blenda de Óleos Essenciais) extraídos de Thymus vulgaris e Ocimum gratissimum.
“Após todos os ensaios de efetividade in vitro, Adriana iniciou os testes com a blenda dos óleos essenciais aplicada em almôndegas de carne de frango. Essa combinação na carne crua produziu uma atividade antioxidante muito favorável, além do efetivo controle contra a Salmonella”, explica Duarte.
O estudo possui apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado São Paulo) e da Empresa Ouro Fino Saúde Animal.
ÓLEOS ESSENCIAIS
Segundo a pesquisa, os óleos essenciais poderão ser usados como conservantes naturais em substituição ao BHT e BHA, contornando dois dos principais problemas enfrentados pelos produtores para garantir a qualidade das mercadorias: a proliferação de bactérias como a Salmonella e a durabilidade dos produtos, que são altamente perecíveis.
O estudo já foi comprovado em carnes de frango e agora será analisado para outros tipos de carnes. A tecnologia já foi incluída no Portfólio de Patentes e Softwares da Unicamp e está licenciada, com a intermediação da Agência de Inovação Inova Unicamp, para a Terpenia.
PRODUÇÃO
Durante a formulação do antioxidante natural, os óleos essenciais são submetidos a um processo no qual são microencapsulados e transformados em um pó para aplicação direta nas carnes, segundo informa os pesquisadores.
A alteração dos óleos para o pó é feita a partir da combinação com polímeros, resultando em um produto sólido menos volátil, que facilita seu manuseio e aplicação. No processo de solidificação dos óleos e consequente encapsulação, utiliza-se a técnica de secagem por atomização, a chamada Spray-Drying.
“Esse equipamento cria uma névoa graças a um sistema que permite uma adição dupla no atomizador. O produto é então adicionado em forma de emulsão, permitindo a compatibilidade do óleo com a água. Para a emulsificação e a atomização usa-se ar comprimido. Isso gera uma névoa aquecida e transforma o produto em um pó, de modo semelhante ao processo de produção do leite em pó”, explica o pesquisador Rodney Rodrigues.
A tecnologia já passou por testes laboratoriais, onde foi constatada a mesma efetividade de conservação dos produtos sintéticos. De acordo com os resultados, o pó desses óleos poderia substituir os antioxidantes sintéticos, prejudiciais à saúde humana, sendo uma opção natural de conservação.
IMPACTO ECONÔMICO
Segundo os responsáveis pela pesquisa, a substituição dos conservantes sintéticos do tipo BHA e BHT é de extrema urgência, devido às questões econômicas como ambientais e sanitárias.
De acordo com o Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos, esses promotores sintéticos têm potencial efeito cancerígeno e já foram proibidos em alguns países da Europa e no Japão. Portanto, o consumo desses produtos também afeta a economia do país, pois impede a exportação para países que proíbem esses conservantes.
Além disso, os conservantes sintéticos também impactam a saúde do consumidor que faz a ingestão de alimentos. “Desde o início da industrialização de alimentos utilizam-se conservantes sintéticos como o BHT e o BHA. Outros promotores de crescimento também são explorados nesses alimentos e, quando somados, temos uma alta quantidade de produtos prejudiciais à saúde ingeridos diariamente pela população”, salienta Marta Cristina.
Dados da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal) apontam que a carne mais consumida no país é a de frango e o Brasil é o maior exportador mundial de carne aviária desde 2004.