A Polícia Federal de Campinas faz nesta terça-feira (6) uma operação para rastrear a ocultação de bens comprados com dinheiro do roubo de US$ 5 milhões no Aeroporto Internacional de Viracopos, em março de 2018. Na ocasião, em uma ação cinematográfica, um grupo com pelo menos cinco homens armados com fuzis invadiu o pátio do terminal de cargas e roubou um malote de cerca de 5 milhões dólares em espécie.
O crime durou aproximadamente seis minutos. O dinheiro do roubo era parte da carga de um avião da Lufthansa e tinha como destino a cidade de Zurique, na Suíça (relembre o caso abaixo).
Segundo a corporação, a operação denominada “Occulta Pecunia II” cumpre mandados para aprofundar as investigações sobre crimes de lavagem de dinheiro que vieram do assalto milionário. Três mandados são cumpridos hoje em Campinas, no bairro São Domingos, e em Indaiatuba, no Jardim Esplanada e Jardim São Paulo.
Até agora, 9 pessoas estão sendo investigadas e teriam movimentado aproximadamente R$ 10 milhões com compra de imóveis, carros e repasse para empresa de transporte (veja mais abaixo).
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COMPRA DE IMÓVEIS E EM PRESA EM PAULÍNIA
De acordo com a polícia, na primeira fase da operação, foi descoberta uma associação de pessoas “que de maneira estruturada e ordenada, dissimularam a origem do patrimônio, com a utilização de diversos subterfúgios para a execução do crime, como compra e venda de imóveis, aquisição de veículos e a criação de uma empresa de transportes em Paulínia, interior de SP, para circulação de recursos”.
Nesta nova fase, policiais buscam provas sobre a ocultação do dinheiro do roubo por meio da compra de um imóvel residencial em Campinas e de repasse de grandes quantias a dois sócios ocultos da empresa, que após o roubo, entre julho de 2019 e novembro de 2021, movimentou aproximadamente R$ 10 milhões.
“O imóvel foi adquirido pelo principal investigado e transmitido para o nome de familiares. Até o presente momento, foram identificadas e estão sendo investigadas 9 pessoas físicas e 1 jurídica, além das transações de aquisição de 8 imóveis residenciais, vários terrenos em Furnas (MG) e veículos automotores”, informou a PF.
Os envolvidos devem responder pelos crimes de lavagem de dinheiro e associação criminosa, cujas penas somadas podem chegar a mais de 14 de anos de prisão.
CRONOLOGIA DOS FATOS
- O ROUBO
O crime aconteceu no na noite de domingo, 4 de março, quando homens armados entraram no terminal após destruição de um alambrado, de correntes e cadeados utilizados no fechamento de portões de acesso à área do terminal de cargas.
Os criminosos abordaram e mantiveram em cárcere privado dois seguranças, além de funcionários das empresas Swissport, Orbital e BRINKS, até conseguirem transferir 13 sacolas contendo numerário em espécie no valor de US$ 5.058.390,41, que estavam armazenados em um container recém descarregado do avião da Lufthansa. O malote foi transferido para veículo clonado da empresa Aeroportos Brasil, que administra o terminal.
O dólar estava cotado a R$ 3,25 em março, levando a conversão a R$ 16.439.768,83 naquela data. Os criminosos deixaram o local e não foram encontrados.
- APREENSÃO EM 2018
Dezoito dias após o roubo, a Polícia Civil apreendeu US$ 20 mil, com uma mulher em São Paulo. O dinheiro foi periciado e constatado, por meio do número de série, que fazia parte dos 13 malotes que estavam no contêiner que seria enviado para Zurique, na Suíça.
- OPERAÇÃO TANGO VICTOR EM 2020
A partir dessa apreensão em São Paulo, a Polícia Federal iniciou uma nova investigação, resultando na Operação Tango Victor, que cumpriu três mandados de prisão temporária um de busca e apreensão em desfavor de três integrantes da associação criminosa responsável pelo roubo. Um homem e uma mulher foram presos.
“O homem, o principal investigado e apontado como mentor do roubo, foi preso na BR-364 (Porto Velho), pela Polícia Rodoviária Federal, enquanto a mulher foi presa pela Polícia Federal na capital paulista. O terceiro investigado, companheiro da mulher, e suspeito de ter participado da execução do roubo, não foi localizado; posteriormente, porém, apresentouse à Justiça Federal”, informou a PF.
- MORTE DOS INVESTIGADOS
Solto e respondendo à investigação em liberdade, o principal investigado pelo roubo foi assassinado em via pública, em maio de 2021, no Jardim Melina, em Campinas, por dois homens usando capacetes fechados.
A investigação do homicídio foi conduzida pela Polícia Civil. Após o relatório, o Ministério Público de São Paulo promoveu, em março o arquivamento do inquérito policial que investigou a referida morte em razão da ausência de elementos que elucidassem a autoria.
O segundo investigado, também procurado na Operação Tango Victor, que não havia sido preso, mas se apresentou à Justiça, foi assassinado em outubro de 2022, quatro meses após ser ouvido na Polícia Federal.
- OCCULTA PECUNIA I
No mesmo mês de outubro de 2022, mesmo com a morte dos dois principais investigados, a Polícia Federal já havia aberto uma nova linha de trabalho para apurar atos de ocultação do dinheiro roubado.
“Com a instauração do inquérito policial e o avanço das investigações descobriu-se a associação de várias pessoas, de maneira estruturada e ordenada, que dissimularam a origem do patrimônio, com a utilização de diversos subterfúgios para a execução do crime, como compra e venda de imóveis, aquisição de veículos e criação de empresa para circulação de recursos”, explicou a corporação em nota.
A investigação resultou na Operação Occulta Pecunia, deflagrada em novembro de 2022, que deu cumprimento a cinco mandados de busca e apreensão, para obter novas provas do crime, e contou com a atuação conjunta do Ministério Público Federal e BAEP Campinas.
Houve buscas nos estados de São Paulo (3 em Campinas, 1 em Sumaré, ambas em SP) e Alagoas (1 em Belém, PA).
“Os elementos colhidos continuam em análise, mas permitiram identificar mais 3 pessoas que hoje são investigadas na Operação Occulta Pecunia II”, finalizou a PF.