A primeira sessão da Câmara de Campinas após a injúria racial sofrida pela vereadora Paolla Miguel (PT) foi marcada por atos e diversas falas dos membros da Casa contra o racismo nesta quarta-feira (10).
A reunião contou com reforço na segurança dentro e fora do Legislativo devido à expectativa por protestos de grupos contrários. A concentração de manifestantes de direita, porém, não aconteceu (veja mais abaixo).
Entre os textos analisados, o PLC (Projeto de Lei Complementar) que reduz as multas da Setec (Serviços Técnicos Gerais) para atrasos no pagamento dos preços públicos e infrações contratuais foi aprovado em definitivo.
A proposta, que segue agora para sanção, estabelece multa por atraso de 2% por até 30 dias e de 5% a partir de 30 dias sobre o valor do montante devido. Já as multas por infração passarão a ser de 10% do valor da mensalidade na primeira infração, crescendo para 20% na segunda e 30% na terceira.
DO LADO DE FORA
O dia agitado na Câmara começou antes mesmo da sessão, quando a presidência da Casa solicitou o aumento do efetivo à GM (Guarda Municipal) e à PM (Polícia Militar) para evitar possíveis confrontos entre grupos contrários.
Minutos antes da reunião, o policiamento foi reforçado em frente à entrada do plenário, na Rua Robero Mange, no bairro Ponte Preta, e diversos agentes, policiais e viaturas foram posicionados perto do acesso ao local.
Um dos protestos, convocado por movimentos e partidos de esquerda em solidariedade a Paolla, ocorreu como o previsto e reuniu centenas de pessoas com bandeiras e cartazes contra o racismo. Não houve confusão.
A outra concentração, organizada por grupos de direita e que deveria acontecer nas galerias do Legislativo, não reuniu manifestantes. Com isso, somente militantes e partidários de esquerda entraram no plenário.
NO PLENÁRIO
A sessão desta quarta começou às 18h e teve limitação de 50% de público, a exemplo de outras reuniões recentes. Desde o início, apesar de diversos itens que seriam votados, a pauta principal foi o ataque registrado na segunda (8).
O presidente da Câmara, Zé Carlos (PSB), por exemplo, abriu os trabalhos dizendo que o grupo presente na última sessão está proibido de entrar na Casa. Isso porque a injúria racial contra Paolla partiu de um dos manifestantes.
“Essas pessoas não são dignas de estar aqui. Essas pessoas que ultrapassaram o limite estão proibidas de vir. Nós temos registros da documentação e temos imagens delas. Estão terminantemente proibidas de entrar no plenário”, disse.
Outros vereadores subiram à tribuna para reforçar o apoio e se solidarizar com a petista. Entre eles, Guida Calixto (PT) subiu o tom ao apontar Nelson Hossri (PSD) como responsável pelo grupo que disse ser composto por apoiadores dele.
“Passou o dia inteiro mobilizando essas pessoas e decidiu trazer essas pessoas aqui. Elas foram alimentadas e incentivadas pelo vereador. Eu quero repudiar esse incentivo. Essas pessoas acharam que podiam falar o que quiser”, afirmou.
Hossri subiu minutos depois à tribuna e se defendeu das acusações feitas por Calixto e outros colegas. A fala dele foi alvo de protestos de manifestantes que estavam em frente ao plenário e passaram a acompanhar a sessão de hoje.
“Eu não sou chefe de torcida. Não trouxe e não convoquei ninguém para esta Casa. Era uma pauta da direita e eles vieram de livre e espontânea vontade. Eles vieram aqui defender um projeto de lei de minha autoria”, argumentou ele.
Ao contrário dos demais vereadores, que ouviram o ataque racista, mas não disseram ter visto o autor, Jorge Schneider (PL) disse saber quem proferiu o xingamento. “Eu não tenho como comprovar. Precisamos das imagens. Foi a mesma pessoa que xingou os outros vereadores. Foi uma senhora”, finalizou.