O Gaeco (Grupos de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), do Ministério Público, detalhou no começo da tarde desta sexta-feira (7), a operação contra um grupo organizado que é investigado por usar ônibus do transporte público de Campinas para lavagem de dinheiro do tráfico.
Ao todo, seis ônibus gerenciados pela Altercamp, cooperativa de ônibus do transporte alternativo, foram apreendidos. Durante buscas na sede da empresa durante a manhã, duas armas sem registros foram encontradas no armário do diretor e uma arma na casa de um investigado. Segundo o Gaeco, cinco pessoas também foram proibidas de explorar linhas do transporte alternativo.
A OPERAÇÃO
As ações de hoje fizeram parte da 3ª fase da Operação, “Sumidouro”, que investiga uma organização criminosa ligada ao tráfico de drogas na região de Campinas. Na última quarta-feira (5), a 2ª fase da operação prendeu 15 pessoas e apreendeu dinheiro, carro, e milhões de pinos para cocaína em Campinas.
Hoje, foram cumpridos três mandados de prisão temporária – que foram realizados em unidades prisionais, já que os envolvidos tinham sido presos na última quarta-feira, e nove mandados de busca e apreensão em endereços ligados a responsáveis e laranjas.
Também foram sequestrados bens, como imóveis e veículos ligados ao grupo criminoso. Entre eles, estão seis ônibus que operavam no transporte alternativo de Campinas.
A operação, segundo o Gaeco, foi resultado de investigações que começaram em abril do ano passado, quando foi preso o líder do grupo, o sobrinho de Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho, que liderou uma das maiores quadrilhas de sequestros e tráfico de drogas da região.
LINHAS DO TRÁFICO
O promotor do Gaeco, Felipe Bertolli, detalhou como era a utilização dos ônibus para a lavagem de dinheiro. Segundo ele, a mando de traficantes, as linhas eram mantidas em nomes de “laranjas” que não possuem condições financeiras para manter a operação. Ao menos três linhas seriam mantidas pelos criminosos, mas as informações sobre elas ainda não foram informadas.
“Dentre o sistema de lavagem de dinheiro foi apurado que traficantes de drogas e integrantes de organizações criminosas usavam o transporte público alternativo de Campinas para lavagem de dinheiro (…) Foi evidenciado que essa organização criminosa no primeiro momento explora três linhas de transporte alternativo de Campinas, sendo que as provas demonstraram que o dinheiro de tráfico de droga são levados para essa atividade criminosa com foco de realizar a lavagem dos valores e os integrantes dessa organização recebam de volta esse dinheiro seja para enriquecer ilicitamente, ou seja para realimentar o sistema de tráfico de drogas, de armas entre outras atividades criminosas”, afirmou.
COMO FUNCIONA O SISTEMA ALTERNATIVO
O transporte público alternativo de Campinas é gerido por permissionários, que apresentam documentações com a Emdec (Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas), que de acordo com a área territorial relaciona a exploração do serviço de transporte com uma cooperativa que faz a gestão.
Neste caso, a investigação aponta o esquema envolvendo veículos da Altercamp, cooperativa que opera nove linhas, entre os ônibus verdes, vermelhos e azuis-claros, além do sistema “Corujão”, e tem cerca de 150 permissionários. Em entrevista à EPTV, a advogada da cooperativa negou a suspeita de envolvimento da empresa, e informou que as armas teriam sido esquecidas dentro de ônibus (veja mais abaixo).
“A apresentação de documentos perante a Emdec se apresentou totalmente falha, pois não houve nenhum critério financeiro para analisar quem estavam habilitando para operar o transporte público de Campinas”, criticou o promotor.
Em nota encaminhada na manhã de hoje, a Emdec informou que não tem contrato com a Altercamp e que “os Termos de Permissão são assinados diretamente com cada um dos permissionários que compõem a Cooperativa”. Do total que os permissionários têm a receber, a Emdec repassa 21% para a Cooperativa para cobrir gastos administrativos e operacionais.
RECEBIMENTO DE DINHEIRO PÚBLICO
Durante a coletiva de imprensa, o promotor ressaltou a gravidade do caso, visto que traficantes usam o dinheiro público para lavar dinheiro do tráfico.
“A situação é extremamente grave porque além do emprego do dinheiro de tráfico de drogas no transporte público alternativo de Campinas foi demonstrado que os integrantes recebem até mesmo subsídios do município de Campinas para a exploração dessas linhas. Isso quer dizer que além de aplicarem dinheiro de crime nessa exploração eles recebem por isso dinheiro público. É extremamente grave e a sociedade vem sendo duplamente vitimizada. Sendo relacionado ao tráfico, seja pela entrega de dinheiro público para traficantes de drogas, que usam esse dinheiro para comprar armas, drogas e alimentar esse sistema”, afirmou.
E COMO FUNCIONA A LAVAGEM COM ÔNIBUS?
Segundo o promotor, as investigações apontaram que os líderes da organização criminosa tinham seus funcionários que eram responsáveis por buscar dinheiro em pontos do tráfico e levar para a exploração do transporte público.
“Eles realizavam abastecimentos, aquisição de ônibus, troca de peças, pagamento de motoristas, tudo com dinheiro de origem criminosa. Uma vez explorada a atividade os passageiros pagavam suas passagens, existem os contratos de publicidade e a Prefeitura também subsidia parte desse transporte, que retornava na conta dos laranjas, titulares, e posteriormente os líderes utilizavam esse dinheiro”, explicou.
Ainda não foi estimada a quantia total movimentada e nem há quanto tempo o grupo geria as linhas do transporte em Campinas. Segundo o promotor, documentos apreendidos hoje devem ajudar com as provas sobre o crime.
“Tivemos o cumprimento de um mandado relacionado a uma contadora que foi evidenciado que ela falsificava documentos contábeis, comprovantes de rendimentos, para que esses laranjas que não têm menor capacidade econômica conseguissem declarara perante órgãos oficiais uma renda totalmente falsa”, ressaltou.
O QUE DIZ A ALTERCAMP
Em entrevista à EPTV, a advogada da cooperativa negou a suspeita de envolvimento da empresa, e informou que as armas encontradas no armário do diretor “teriam sido esquecidas dentro de ônibus”.
“A parte de investigação nós estamos colaborando com tudo com eles em tudo. Nós prestamos serviços de apoio aos permissionários. Os ônibus não são nossos e o que os donos dos ônibus faz das portas para fora não temos acesso. Nós só temos acesso ao contrato público, a ligação dele com a Emdec, ela que dá a outorga para permissão, e nós só prestamos serviços para eles. A questão das armas não tem nenhuma ligação, são armas que encontraram dentro de ônibus há muito tempo e ficou no armário, acabaram esquecendo. Aqui só levaram celulares, domingos, e depois vão devolver para a gente”, relatou Daniela G. Waldhuetter.
O QUE DIZ A EMDEC
Procurada, a Emdec informou que não tem contrato com a Cooperativa Altercamp, e que os Termos de Permissão são assinados diretamente com cada um dos permissionários que compõem a Cooperativa.
“Do total que os permissionários têm a receber, a Emdec repassa 21% para a Cooperativa para cobrir gastos administrativos e operacionais, conforme estabelece a Legislação Municipal e nos Termos de Permissão”, explicou.
A empresa informou ainda que não tinha conhecimento da operação e vai acompanhar o desenrolar das investigações para “tomar as providências que venham a ser necessárias, em relação aos permissionários que estejam envolvidos, após a conclusão da investigação”.
A OPERAÇÃO DE QUARTA-FEIRA
Na última quarta-feira (5), durante fase anterior da mesma operação, foram presas 15 pessoas e apreendidos R$ 138,8 mil e cinco milhões de pinos utilizados para embalar cocaína.
Ao todo, foram cumpridos 26 mandados de prisão e 20 mandados de busca e apreensão nas cidades de Campinas, Paulínia, Hortolândia, Valinhos e Sumaré.
Segundo as equipes responsáveis pela operação, os alvos são membros de uma organização criminosa que utilizava galerias de água como esconderijo para o tráfico de drogas. Isso ocorria na região da Vila Mimosa, em Campinas.
Segundo o promotor do Gaeco, Rodrigo Lopes, a investigação começou após a prisão do líder da quadrilha, que aconteceu no ano passado.
“Essa investigação começou com uma operação deflagrada em abril do ano passado, quando prendemos o alvo que é o líder dessa organização criminosa. A gente identificou a estrutura dessa organização criminosa, os gerentes de cada bairro com cada ponto de tráfico, quem fazia intermediação das drogas, quem trabalhava na produção e refinaria, e isso possibilitou a operação”, explicou.
De acordo com o promotor, entre os investigados alguns já estão presos por outros crimes que praticaram durante a investigação e outros estão foragidos.