Moradores da região de Campinas vão poder contar com um novo recurso para alertar sobre eventos climáticos extremos. Desembarcou na manhã desta sexta-feira (13), no aeroporto de Viracopos, em Campinas, vindo dos Estados Unidos, o radar meteorológico capaz de fazer a detecção desse tipo de ocorrência severa, como tornados e microexplosões, exclusivo para a RMC (Região Metropolitana de Campinas).
Assim que for liberada pelas autoridades alfandegárias, a antena, de três toneladas, será instalada numa torre de 10 metros de altura já construída em área do Cepagri (Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura), da Unicamp. A expectativa é que o aparelho comece a operar em caráter experimental até dezembro deste ano.
O radar integrará o Centro Regional de Meteorologia da RMC, que terá a missão de monitorar a formação de eventos meteorológicos extremos, gerar alertas em tempo integral e manter o funcionamento da Rede de Alerta de Desastres. O Centro será integrado aos sistemas estadual e federal de monitoramento meteorológico.
O ‘super’ radar ainda vai fornecer informações para subsidiar ações da Defesa Civil, para a prestação de serviços e para a pesquisa e o ensino (saiba mais abaixo).
O que é um evento climático extremo?
A definição de um evento meteorológico severo caracteriza-se pela formação de tempestade capaz de gerar tornado, com ventos intensos em superfície atingindo velocidade que pode superar 90 km/h e a formação de granizo com diâmetro igual ou maior que 1,9 cm. Esse fenômeno foi registrado em Indaiatuba – um dos municípios da RMC – em 2005, por exemplo.
Em 2016, Campinas foi atingida por uma microexplosão. Este fenômeno é descrito como uma forte coluna densa de ar frio que desce em direção ao solo e, ao colidir, induz a uma forte explosão de ventos divergentes com velocidade que pode atingir mais de 100km/h.
O documento que baseou a criação do Centro informa que o estado de São Paulo está localizado em região climática de transição entre os climas tropicais e subtropicais, o que o coloca entre as regiões de ocorrência de tempo severo na América do Sul.
Um levantamento do governo federal mostra que Campinas é uma das 1.942 cidades brasileiras com risco de desastre ambiental (saiba mais aqui).
Como funciona o radar que detecta eventos climáticos extremos
Segundo a meteorologista Ana Ávila, que desde 2017 trabalha no projeto, esse radar é o único sensor que permite prever eventos severos. “O aparelho consegue identificar fenômenos como microexplosões ou tornados com alta precisão, além de definir a velocidade em que os deslocamentos estão ocorrendo”, conta.
“Dada a rapidez com que os eventos extremos se formam, eles são de difícil previsibilidade em qualquer lugar do mundo, entretanto, o mapeamento das áreas atingidas com rapidez e segurança já torna o sistema um grande avanço para a região”, acrescenta a meteorologista.
O radar, do tipo banda X, possui alta precisão num raio de 60 km de extensão, podendo se estender por até 100 km a partir do ponto de sua instalação. Com isso, fará a cobertura para além da RMC. As varreduras serão programadas a cada 5 a 10 minutos.
O aparelho funciona como uma “antena parabólica”, fazendo varreduras horizontais, a 360° graus, em diferentes elevações, gerando uma amostragem para um volume da atmosfera a cada período.
Assim, o equipamento fará a estimativa de chuva em uma determinada área ou bacia com precisão. A previsão de precipitações fortes com algumas horas de antecedência pode balizar medidas de prevenção e enfrentamento e, assim, reduzir de forma significativa os danos sobre regiões suscetíveis a inundações abruptas.
Para o meteorologista do Cepagri, Bruno Kabke Bainy, um dos diferenciais do radar é a capacidade de dupla polarização – inexistente nos radares que cobrem a região. A dupla polarização, explica Bainy, permite uma melhor classificação dos “hidrometeoros”, as partículas que formam as nuvens – como gotas de chuva, gelo, neve, água super-resfriada, etc. Permite, ainda, diferenciar melhor alvos meteorológicos (ou seja, nuvens) de alvos não-meteorológicos, como nuvens de fumaça, poeira em suspensão, bandos de aves e insetos etc.
“Essa tecnologia também proporciona mais variáveis para serem analisadas em casos de tempestades, que permitem um melhor detalhamento de seus impactos”, continua o meteorologista.
“Com a chegada do radar e, especialmente com a consolidação do Centro Regional de Meteorologia da RMC, o Cepagri terá um recurso importantíssimo para o monitoramento das condições atmosféricas, que permitirá identificar com maior precisão, em tempo real, a formação ou aproximação de tempestades sobre a região de Campinas, e, dessa forma, conhecer suas características, impactos esperados e ter maior precisão sobre o horário e as áreas que deverão ser afetadas”, afirma Bainy.
O coordenador associado do Cepagri, David Lapola, diz que esse tipo de equipamento “é indispensável em qualquer estratégia bem formulada para enfrentamento de desastres naturais, principalmente aqueles relacionados a chuvas extremas”. Lapola lembrou que, nas últimas semanas, o estado do Rio Grande do Sul – que foi atingido pelas mais severas inundações de sua história – recebeu um equipamento semelhante. “Ter um equipamento deste na região nos leva a um novo patamar em termos de prevenção”, concluiu.
Suporte para Defesa Civil, aviação e outros setores
O objetivo do Centro Regional de Meteorologia da RMC é criar um sistema de suporte à decisão – para subsidiar ações da Defesa Civil, para a prestação de serviços e para a pesquisa e o ensino.
O Centro divulgará, por exemplo, relatórios com previsão de inundação para diversos segmentos. Além disso, emitirá boletins agrometeorológicos com mapeamento de culturas e balanço hídrico por localização geográfica, em espaços de um mês, a cada 10 dias ou sob demanda.
Ainda fornecerá previsões meteorológicas e aconselhamento agrícola para as culturas da região e prestará serviços de aconselhamento de irrigação e de agricultura de precisão. Poderá, ainda, fazer a previsão de tempo para a aviação em escalas de minutos a hora.
“Essa forma de centro regional é a mais indicada. Já temos centros em Santa Catarina ou no Paraná, mas o modelo adotado aqui é bastante inovador, já que reúne a academia – que irá propor ações nas áreas de ensino, pesquisa e extensão – ao lado da Defesa Civil e dos municípios”, diz Ávila.
O Centro estará vinculado à Unicamp, junto aos seus institutos e centros de estudos, permitindo a criação de cursos interdisciplinares de pós-graduação, envolvendo todos os aspectos relacionados aos eventos meteorológicos extremos – econômico, social e ambiental.
A iniciativa
O reitor da Unicamp, Antonio José de Almeida Meirelles, lembrou que o radar é uma cooperação da Universidade com o Conselho de Desenvolvimento da RMC e com a Agemcamp (Agência Metropolitana de Campinas) – órgão que reúne os 20 municípios da Região Metropolitana.
“Futuramente, este equipamento permitirá colaborarmos para mitigar o impacto das mudanças climáticas em nossa área, minimizando os prejuízos que eventos extremos podem causar à população e ao espaço em que vivemos”, disse o reitor. “Também possibilitará formar pessoas e desenvolver conhecimento associado a estas mudanças em nossa região”, acrescentou.
Meirelles adverte que instalar o equipamento é somente a primeira etapa de um longo caminho até a funcionalidade plena do Centro. Por exemplo, ajustes técnicos e operacionais internos e de comunicação com as defesas civis e com as prefeituras ainda serão necessários. “Haverá muito trabalho a ser feito para atingir a plena capacidade de servir à população da nossa região,” afirmou.
Desde 2012, a RMC conta com o projeto denominado Plataforma para Redução de Riscos de Desastres. Elaborado pela Câmara Temática da Defesa Civil e aprovado pelo Conselho de Desenvolvimento da RMC, o projeto trata da gestão de risco e do gerenciamento de desastres a partir de quatro pilares: a prevenção, a preparação dos municípios para lidar com os riscos, a resposta diante dos episódios e a recuperação após os desastres.
Em 2017, a Câmara Temática de Defesa Civil consolidou uma política pública desenvolvendo questões de resiliência que resultaram na elaboração do Projeto “Centro Regional de Meteorologia da RMC” – cuja primeira fase passou pela aquisição do radar.
“A chegada do equipamento Radar Meteorológico é um marco a ser consolidado frente aos compromissos de políticas públicas assumidos perante as demandas metropolitanas. Para tanto, foi fundamental a integração do sistema metropolitano da RMC – o Conselho de Desenvolvimento, o Fundo de Desenvolvimento Metropolitano, a Agemcamp, a Unicamp, a Casa Militar e a Defesa Civil do Estado de São Paulo”, disse o diretor executivo da Agemcamp, Eliziário Ferreira Barbosa.
*Com informações do Jornal da Unicamp
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