Um vídeo feito pela equipe do vereador de Campinas, Edison Ribeiro (União), nesta terça-feira (19) mostra o momento em que o parlamentar impede que uma médica feche a porta de um dos consultórios do CS (Centro de Saúde) Satélite Íris. O caso é investigado pela Polícia Civil (veja mais abaixo).
Nas imagens, é possível ver que a mulher conversa com um guarda municipal e outra funcionária no corredor quando afirma que a ida de Ribeiro ao local era para fazer “palanque”. O político, no entanto, reage e responde (veja o vídeo abaixo).
“Espera aí, senhora! Eu sou vereador. Por favor, me respeita. Eu não estou fazendo palanque aqui. Atende o povo, porque esse CS aqui é um dos que mais atende mal. Eu sou parlamentar”, diz, enquanto eleva a voz e segura a porta de uma das salas.
A discussão aconteceu em frente ao consultório 6, mas não é possível ver se algum paciente era atendido. No vídeo, o vereador e um homem que se identifica como filho dele não usam máscara, o que contraria a indicação para unidades de saúde.
Em outras imagens, Edison Ribeiro diz para uma funcionária não se assustar, já que ele é uma autoridade. A assessoria de imprensa dele nega que alguma sala de consulta estivesse ocupada. A Prefeitura, porém, diz o contrário (veja mais abaixo).
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POLÍCIA APURA
Após fazer o que definiu como “fiscalização” no local devido às reclamações dos pacientes, o vereador deve ser investigado pela Polícia Civil por desacato, ameaça e constrangimento ilegal. O boletim foi registrado no 11º DP (Distrito Policial).
De acordo com delegado Sandro Jonasson, a ocorrência foi elaborada após ser apresentada pela GM (Guarda Municipal). O vereador teria invadido consultórios, inclusive um ginecológico, constrangeu médicos e ainda desacatou os guardas.
Em entrevista à EPTV Campinas, Jonasson afirmou que até o momento foram identificadas seis vítimas, três testemunhas e dois investigados. Além do vereador, o filho dele também deve ser alvo da apuração, segundo o responsável pelo caso.
“Segundo os guardas municipais, os dois indivíduos foram ao local e um deles teria invadido consultórios e salas. E um desses locais seria o consultório ginecológico que estaria com atendimento. Esse fato carece de maior apuração. Mas logo na sequência outra discussão teria se iniciado e os guardas teriam sido desacatados. Os relatos dão conta de ofensas de baixo calão e ameaças de agressão”, relata ele.
Todos os envolvidos devem ser ouvidos. Além de desacato, ameaça e constrangimento ilegal, o vereador pode ser investigado por abuso de autoridade.
“A fiscalização de unidades permeia a função dele. Isso é amparado por lei. Fiscalizar os serviços públicos é da função. Portanto, nada de ilegal teria ocorrido. Mas a maneira como ocorreu pode representar a prática de crime”, diz Jonasson.
AS VERSÕES
Procurado para comentar o caso, o vereador Edison Ribeiro respondeu por meio de assessoria. Conforme um dos assessores dele, pela manhã a equipe do parlamentar recebeu a informação de que o CS não estava com o atendimento adequado.
No local, conforme o assessor, não havia recepcionista. A funcionária era substituída pelo funcionário de outro CS que cumpria hora extra. Além disso, disse que as senhas distribuídas demoravam cerca de 1h20 para ser chamadas.
Ainda conforme o assessor, o vereador procurou pela coordenadora do centro de saúde, que não estava no local naquele momento, pois estava em uma reunião. A denúncia ainda dá conta que não havia representantes da coordenação no local.
“Não foi fornecido o prontuário com a escala do dia. Por lei, deveria ser afixado, mas isso não foi feito. Foi constatado isso e o vereador tem a prerrogativa de fiscalizar”, alegou ainda a equipe de comunicação em áudio enviado à imprensa.
Sobre a entrada na sala de ginecologia, a assessoria justifica que o local estava vazio e não atendia ninguém no momento em que o vereador esteve no espaço.
Sobre essa última alegação, no entanto, a Prefeitura nega e detalha que pacientes eram atendidos pelo ginecologista, o generalista, o pediatra e o dentista durante a vistoria feita pelo parlamentar. Em nota, o município também repudiou o fato.
“A secretaria repudia qualquer ato de violência e se solidariza com os funcionários. A Pasta ressalta que as equipes do CS Satélite Íris estão completas e os atendimentos acontecendo normalmente. Além disso, esclarece que as escalas da rede ficam disponíveis com a coordenação de todas as unidades”, afirma o texto.
CÂMARA E SINDICATO
Em comunicado enviado à reportagem após o ocorrido, a Câmara Municipal de Campinas argumentou que é “dever do vereador fiscalizar o Executivo” e que “cabe ao parlamentar fazer esta fiscalização, desde que dentro das normas da lei”.
O STMC (Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público Municipal de Campinas) afirmou também em nota que “repudia a ação” do vereador Edison Ribeiro e de seu filho, “que invadiram de forma truculenta o Centro de Saúde (CS) Satélite Íris”.
“Aos gritos, o parlamentar abriu com violência as portas de salas de atendimento e consultórios médicos. De forma agressiva, ele exigia saber por que não havia vagas de acolhimento na unidade de Saúde”, diz um dos trechos do comunicado oficial.
Para a entidade, a ação mostra “total desrespeito com os servidores e os pacientes”, já que os dois “chegaram a invadir uma sala de atendimento ginecológico, onde uma médica cuidava de uma paciente, gerando imenso constrangimento”.
“Edison Ribeiro chegou a dizer que poderia dar voz de prisão para a ginecologista. O susto foi tão grande que a médica teve uma crise de choro com a truculência do vereador”, relata o sindicato que representa os servidores públicos municipais.
O texto justifica ainda que “o objetivo é fazer campanha política”, afirma que o ato “incitou a violência no CS” e fala em “clima de total falta de segurança” diante dos “poucos recursos que são empregados na área da Saúde pública no Brasil”.
“O STMC vai tomar as medidas cabíveis para evitar esse tipo de violência. Também exigimos que a Câmara abra um processo contra o vereador. Não é possível que o Legislativo de Campinas compactue com esse tipo de atitude”, finaliza a nota.